Ao longe quebravam as ondas do Mar Mediterrâneo, longe daquela janela no segundo andar de um casebre simples. Tudo que se via da imensidão do oceano era o horizonte azulado de uma pequena faixa de água que aparecia depois de uma queda abrupta da montanha a boas léguas de distância de onde se mirava. De todo modo, os olhos entediados e perdidos do menino vislumbravam os caminhos do mar ao longe. Fazia um bom dia no céu, mas era no oceano que seu pequeno coração se desmanchava.
Sua atenção foi quebrada pela voz de trovão que falou às suas costas:
— Ora, mas é tão chato assim cuidar de um gigante?
O menino olhou para trás, pulou do sofá onde estava empoleirado para olhar pela janela e correu na direção do convalescido, esparramado entre pelo menos três camas para dar conta de seu enorme corpo.
— Tio Aldebarã! O senhor está melhor?
O touro manhoso sorriu com as faixas todas ao redor da cabeça e confirmou que sim. O garoto pegou uma jarra de cerâmica com água dentro e o enorme homem tomou como se fosse uma caneca, apartando sua enorme sede.
— Muito obrigado, Kiki. — devolveu ele a jarra que o garoto colocou na mesa ao lado dele. O enorme homem limpou a boca e apontou à janela com o queixo duro. — O que te deixa tão triste assim, pequeno Kiki?
O garoto então saltou na cama para deitar-se no enorme braço de Aldebarã, e assim aninhado como um passarinho e com o rosto um pouquinho torcido de tristeza mentiu ao gigante que nada o afligia.
— Não é nada. — disfarçou ele, e então continuou como se houvesse encontrado algo para compartilhar. — Estou preocupado com a missão do navio. Do Seiya e dos outros.
— Ora, se tem alguém com quem não precisa se preocupar é aquela peste do Seiya. Mas eu vejo no seu rosto, pequeno, não é ele que te preocupa, não é verdade?
Kiki torceu a boca, um pouco contrariado, e olhou para o sorriso calmo de Aldebarã. Então finalmente confessou.
— É a Lunara. — começou o menino. — Já faz um bom tempo que eles partiram para os Sete Mares e quase não tivemos notícia deles.
— Está preocupado com ela?
— Num vai contar pra ela, tio Aldebarã! — brigou o garoto com ele, encontrando um sorriso de volta. — Mas estou. Ora, ela é só uma garotinha. O que que uma garotinha tem que fazer num navio pelos sete mares? Ela mal sabe colocar a roupa direito.
— Eu ouvi dizer que ela é ótima engenheira.
— Ela acha que sabe demais. Eu também não entendo como podem ter chamado ela. Ela é só uma criança, tio Aldebarã.
— Ora, mas está na história dos Cavaleiros de Atena que foram justamente os jovens que salvaram Atena na primeira Guerra Santa.
— Mas ela não tem treinamento de Cavaleiro. — reclamou ele.
— Confie no Capitão Meko. — falou Aldebarã. — Afinal de contas, ele é um gigante como eu. Tenho certeza que vai cuidar muito bem de Lunara.
O enorme Aldebarã então esmagou o menino Kiki debaixo de seu braço para muitos protestos do garoto peralta. A porta que fechava aquele segundo andar abriu-se e a Mestre Mu chamou a atenção de seu aprendiz:
— Kiki, deixe o pobre Aldebarã descansar.
— Ora, Mu. Você diz essas coisas para me amolar, eu tenho certeza disso.
Kiki, de todo modo, pulou da cama e tomou a jarra de cerâmica para repor a água.
— Ele é um bom garoto. — falou Aldebarã, olhando para a amiga. — Está super preocupado com a pequena que se foi pelos mares.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya
FanfictionReimaginação da história de Seiya de Pégaso, escrito e narrado com alterações na história. Arte da Capa: Tiago Fernandes (@tfernandes)