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Durante toda a viagem Ramon manteve-se calado, e aquilo estava acabando comigo, já não bastavam todas aquelas pessoas o tempo todo querendo mandar em mim, fazer escolhas e seguir-me por todos os caminhos, eu não queria um marido para isso, não uma pessoa que vai se manter seguindo ordens do meu pai, quero poder ser livre e tomar as minhas decisões, não quero ser como a minha mãe ou todas as mulheres que o meu pai já teve. Percebo Ramon inquieto no seu lugar, mesmo calado eu podia sentir toda a sua frustração, ele odiava quando eu me afastava, quando eu me enfiava no meu mundo e o deixava ali isolado de todos os meus pensamentos, mas ele mentiu, sabendo de tudo, ele mentiu e continua a seguir ordens que não são necessárias, percebo o meu celular vibrar numa mensagem assim que o avião pousa, pego o meu celular olhando e vejo mensagens e ligações do meu pai, as ignoro e guardo na minha bolsa, levanto-me e vou caminhando sem esperar Ramon que em segundos se pôs atrás de mim. Ele colocou uma das suas mãos na minha cintura, continuo a andar até o carro que já nos esperava e entro, escuto Ramon de fundo falando com o motorista e em seguida se sentando ao meu lado, escuto o seu suspiro e a sua voz baixa-me chamando.

- Gatinha? - Ele levou uma das suas mãos a minha segurando-lhe e continuo com o rosto virado sem conseguir olhar nos seus olhos. - Eu não queria te deixar assim, eu trabalho para o seu pai, ainda preciso seguir ordens dele.

Viro o meu rosto o fuzilando com os olhos, dava para sentir toda a sua tensão em cada palavra.

- Você não tem que seguir ordens quando o assunto for seguir-me Ramon, eu não sou sua propriedade e muito menos sou tão fraca para vocês viverem me protegendo, se o Sr. Condello não confia em mim e no meu trabalho, então, porque ele me manda fazer? - Cheia de raiva e com a voz quase rouca, querendo chorar.

- Estamos em Guerra com os Gambinos - Ele tenta acalmar-me com aquela voz doce e calma. - Gatinha eu não te quero perder.

- Ramon só estamos em Guerra porque os imprestáveis que o meu pai colocou no comando não sabem fazer nada direito, estamos brigando por terras, e se não soubermos jogar com eles, quem perde somos nós. - Escuto o meu celular tocando novamente e o pego, vejo ser meu pai. - Só um momento. - Atendo-o já irritada. - Diga Sr. Condello.

- Antonella, mesmo preso aqui, quem manda sou eu, quando eu der uma ordem você apenas aceita, entendeu? - A voz dele estava com um tom de raiva e desgosto.

- Você pode mandar, sim, nos seus negócios e nos seus capangas, mas não em mim, se eu não tivesse tomado a frente de muitos dos seus projetos você não teria conquistado tanto. - Começo a sentir mais nojo e raiva, lembrar de quantas vezes o meu pai usou-me, usou o meu corpo para conseguir o que queria. - Chega. Você não vai mais me usar, não trabalho mais para você e muito menos aceitarei você usar-me.

- Você está-me desafiando Antonella? Tirei você do bordel imundo onde a sua mãe te criava, eu fiz você ser a mulher que você é hoje, ou pensa que aquele Vinhedo podre que os seus avós deixaram, vai dar-te a vida de luxo que eu te dei? - Ele gritava comigo, como todas as outras vezes, da mesma forma que ele fazia com a minha mãe. - Quero você amanhã cedo no escritório.

Ele desligou e fiquei ali parada sem reação, percebo o carro para e Ramon por a mão em mim, empurro e saio do carro em meio a avenida que estávamos, bato a porta e saio andando entre os carros, tento correr para o mais longe daquele momento, dos pensamentos, das lembranças e da dor.

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Fillipo

- Mãe preciso ir, tenho uma viagem marcada para daqui a três horas.

Ela estava do outro lado da linha gritando comigo e eu tentando não rir, a minha mãe estava surtando, tomei a decisão de ir sozinho a Calábria visitar o vinhedo de Antonella, ela não me queria deixar ir só, e no final, eu não teria muita escolha.

- Fillipo, você não pode deixar a sua mãe aqui, eu recuso-me a ficar em casa enquanto você prova vinhos.

- Esta bem, encontro a senhora daqui a 3 horas.

Desliguei o telefone e o coloquei no meu bolso, vou andando pelos corredores da boate que estava agora vazia, termino de organizar alguns documentos naquela manhã para poder me ausentar sem problemas, percebo alguém andando por ali e verificarei, vejo de longe que se tratava do meu pai.

- Olha quem resolveu conhecer o meu novo brinquedinho.

- Fillipo, está fazendo um ótimo trabalho aqui, precisa ensinar o seu irmão, só quer saber de estudar e correr da família.

O meu irmão odiava toda aquela vida, mulheres, prostituição, mortes e drogas, mas meu pai cresceu e viveu toda sua vida assim e era comum que ele pensasse que os filhos tinham que o seguir, ainda mais agora que voltamos para a Itália, a nossa infância nos Estados Unidos não foi a melhor, sempre fugindo e escondendo-nos para não sermos pego, assim como o meu avô, meu Bisavô. Se todos soubessem o quanto foi difícil, mas meu pai não entendia, não queria entender que o meu irmão não era como nós.

- Falando em ótimo trabalho, Condello recebeu o meu presentinho?

- É sobre isso que vim falar. - o meu pai estava com um sorriso no seu rosto. - O Rapaz que invadiu o nosso depósito, sobrinho de Condello, e fiquei sabendo terem mais parentes dele, na cidade, o seu presentinho deve ter assustado, foram embora essa manhã.

- Tinha? Quantos? - Fico pensando sobre isso, como deixei passar, eu era os olhos e ouvidos dessa cidade e mesmo assim não percebi. - Pai, hoje sairei a negócios e devo voltar no final da semana, talvez até antes.

- Filho, os seus negócios pessoais podem esperar, estamos lidando com uma guerra por terras e por negócios. - Ele levanta-se e começa a caminhar para a saída. - Espero que faça as escolhas certas Fillipo.

O meu pai como sempre queria mandar e fazer escolhas por nos, mas eu precisava ver Antonella de novo, algo naquela mulher chamava-me a atenção, eu precisava ter ela de qualquer jeito, eu sempre tinha a mulher que eu queria. Lembrar daqueles olhos castanhos e cabelo loiro escura que escorria pelas suas costas, aquele cheiro que só ela tem, era difícil manter uma postura comum com ela por perto.

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Após alguns minutos esperando a minha mãe, ela resolve aparecer e entra no carro com as suas malas. Estava linda como sempre, muito elegante e cheia de vida, mesmo com a separação, a minha mãe nunca deixou de ter essa alegria, sempre muito radiante, era isso o que eu procurava em alguém, a alegria e disposição que a minha mãe sempre teve.

- Não quero padrasto em, se comporta.

- Eu já não tenho mais idade para isso o meu filho, agora quero os meus netos e você só esta me enrolando.

- Darei um neto lindo. - Ela me olha sorrindo e passa a mão no meu rosto.

- Você esta namorando? Quero conhecer, você esta com um sorriso tão lindo no seu rosto já tem alguns dias.

- Eu não estou namorando mamãe, mas conheci uma mulher que é diferente.

- Se você quer filho não deixa escapar, não deixa que a cobiça e ganancia do seu pai afete-te.

- Prometo não deixar.

- Amar é um sentimento divino que poucos sentem, e eu sei que você sempre conseguirá amar, assim como amei o seu pai, só não deixe escapar como eu fiz. - Percebo como ela mudou a sua expressão tão rapidamente ao falar do meu pai, ele foi seu primeiro homem e a sua primeira decepção. - Você merece todo o amor que alguém pode dar o meu filho, e qualquer mulher seria louca de não querer você.

- A Senhora é suspeita para falar sabia?

Ela sorri e beija o meu rosto, ficamos ali conversando até chegar no nosso destino.

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Amor por um fio. (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora