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Aquele dia estava sendo longo, acabei desligando meu celular e evitando falar com qualquer um que pudesse tirar o resto de paciência que ainda me restava. Coloquei uma roupa mais leve e fui para fora ver como estavam as coisas por ali, o vinhedo em dias ensolarados era a coisa mais linda de se ver. Acabei por fim indo ao estábulo que construí a alguns meses, e lá estava ela, com sua pelagem cor de mel e olhos verdes esmeralda, quando a comprei não conseguia pensar em um nome que combinasse mais com ela, Zakia. Ela faz todo o desastre da minha vida serem apagados no instante em que passo meus dias com ela, minha melhor companhia e com ela estava vindo um bebê para alegrar ainda mais minha vida.

Fique ali por horas conversando com ela e contando todos os detalhes daqueles últimos dias, e nossa sintonia era tanta que ela me olhava como se realmente estivesse ouvindo, e me confortava poder desabafar, mesmo que fosse com Zakia. Me levanto e faço carinho na minha égua preferida, deixo ela com um de meus empregados que naquele instante iria conduzir ela para uma de suas consultas, vou caminhando pelo vinhedo que estava om alguns cantos em reforma, após a morte de meus avós acabei mudando algumas coisas. Mantive o nome que vem de gerações, construí uma adega para receber clientes, reservei um espaço para a construção de um restaurante para visitantes e logo mais acima aonde só tinham maquinas velhas resolvi construir uma pousada, era o sonho dos meus avós e prometi que o faria. Já estava com tudo em andamento, e daqui a alguns meses tudo estaria pronto.

Percebo que já estava anoitecendo e volto para minha casa, estava sozinha, pois não mantinha empregados ali, apenas os que tomavam conta do vinhedo, e era reconfortante saber que eu poderia me sentir só naquele instante, era o que eu precisava. Resolvo tomar um banho e apos terminar vou para a cozinha preparar algo para jantar, pego o celular o ligando de novamente e vendo todas as ligações e mensagens de Ramon e meu pai, ignorei todas e vejo Fillipo ali entre elas. Resolvo ver e quando clico, uma foto dele na cidade, ligo para ele e vou preparando algumas torradas com pate de frango.


- Boa noite. - Aquela voz, não sei por que era tão bom ouvir ela, mesmo sabendo ser errado.

- Então já chegou? Espero que esteja sendo bem recebido.

- Eu poderia estar melhor se você estivesse em um jantar comigo agora. - Ele não desistia, e eu não queria resistir.

- Acredito que está tarde já para falar isso, estou comendo, em casa hoje.

- Não seria uma má ideia comer na sua casa também.

- Podemos marcar amanhã a sua visita? E você fica para o almoço. - Não sei por que me sentia bem com ele, não era o mesmo que Ramon, não tinha só desejo sexual, tinha algo mais que eu não sabia diferenciar.

- Então combinado.

- Até amanhã?

- Até. - Escuto uma voz de fundo e logo penso ser a mãe dele, uma voz doce de mulher, deveria ter uns 50 anos.

Desligo e deixo o celular de lado pego uma taça e um vinho tinto já aberto, me sirvo e começo a tomar, coloco minha música preferida para tocar e me sento em uma das cadeiras na bancada. Fico em silêncio ouvindo e fecho os olhos.

" Maybe surrounded by a million people

I still feel all alone
I just wanna go home
Oh, I miss you, you know

And I've been keeping all the letters that I wrote to you
In each one, a line or two
I'm fine baby, how are you?
Well, I would send them, but I know that it's just not enough
My words were cold and flat
And you deserve more than that

Another airplane
Another sunny place
I'm lucky, I know
But I wanna go home
I've got to go home "

Volto a lembrar de Fillipo, dos seus toques, seu cheiro, as mãos dele em meu corpo, seu lábio em meu pescoço fazendo eu me arrepiar e minha calcinha molhar, e estava molhando de novo com todas aquelas lembranças da nossa noite na boate. Eu o queria, e ele também me queria, estava nítido isso, mas tinham coisas muito maiores.

Tento afastar aqueles pensamentos e percebo algumas batidas na porta, me levanto abaixando um pouco o volume da música e indo até à porta, abro ela me deparando com Ramon, e não era quem eu queria ver naquele instante.

Abro espaço para que ele entre e fecho a porta, volto para a cozinha e me sento, voltando a tomar vinho e percebo Ramon se sentar.

- Sei que errei com você, mas tudo o que aconteceu na noite do noivado foi verdade. - Sinto os dedos de Ramon tocar meu braço. - Gatinha, você precisa entender que trabalho para ele.

- E você precisa entender que sei me cuidar muito bem.

- Eu nunca falei que você não sabe, mas eles mataram seu primo, e você estava lá sozinha.

- Estava por escolha minha, Ramon, e quer saber de uma coisa? Não sei mais se esse casamento é o certo. - Me viro para ele, tiro a aliança a deixando na sua frente. - Não quero ninguém que viverá seguindo ordens do meu pai, quero alguém que estará comigo em primeiro lugar, nosso casamento não é negócios.

- Antonella você não pode fazer isso, somos prometidos mutualmente a anos. - Percebo Ramon se alterar e seu tom de voz mais irritado. - Nosso casamento gira em torno de negócios familiares, e jogar isso assim acabará com todos os planos do seu pai.

- Quero que meu pai se foda, com todos vocês e essa vida de merda que levam. - Levanto deixando ele sozinho e caminho para o corredor aonde ficam os quarto e percebo os passos de Ramon me seguindo, ele segura em meu braço com força e me puxa.

- Para de agir como uma garota mimada, tudo o que planejamos para o nosso futuro e para a máfia será arruinado por culpa sua, e se nada acontecer como eles querem você estará morta.

- Assim como você se não me soltar Ramon. - Tento tirar a mão dele sobre o meu braço sem sucesso, sinto ele me apertar com mais força e em seguida dar um murro na parede ao lado do meu rosto fazendo eu estremecer por dentro de medo.

- Vou te dar alguns dias para pensar e pôr a cabeça no lugar, Antonella.

- Não tenho que por nada em lugar algum, só deixem eu viver a minha vida de merda em paz.

- Até o final da semana volto e espero que você tenha pensado direito.

Ramon solta meu braço e fica me encarando, os olhos cheios de raiva e seu tom de voz que era doce a alguns minutos atrás, agora estava tomada por ódio.

- Não me decepciona Gatinha, eu odiaria não poder ouvir mais você gemendo para mim.

Ele se vira e me deixa ali, encostada na parede sem reação, minha única vontade é de chorar, de gritar e fugir para um lugar aonde ninguém dessa vida de merda pode me achar. Eu estava cansada, cansada de ser usada, abusada, eles agiam como se eles estivessem me fazendo um favor, como se eu tivesse vindo do lixo.

Tento sair do transe que me segura ali e me arrasto para meu quarto, fecho a porta e me joga na cama caindo no choro. Mesmo com todas as lagrimas caindo, o aperto e esse sentimento que me sufoca não vai embora, eram lagrimas cortantes, era um desespero que fazia o ar sumir, eu estava ali deitada sufocando em lágrimas e me afogando em sentimentos que eu não estava sabendo administrar.

Eu estava sozinha, sempre estive, minha mãe se foi, meu pai era um lixo, meu namorado um monstro que eu nunca imaginei, minha família era cretina e eu estava presa a tudo isso sem saber como fugir e como me livrar de tudo isso.

Fiquei ali por horas, chorando até adormecer.

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Amor por um fio. (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora