chapter 𓄿 three

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Nala já foi embora, para o aeroporto e sua "viagem de negócios". Eu estou sozinha no apartamento enquanto eu me preparo para ir trabalhar, me visto igual todos os dias e fico feliz por ser sexta-feira. Tenho apenas uma aula na faculdade hoje à noite, e depois apenas voltarei a me preocupar com obrigações na segunda-feira de manhã.

A caminhada até o trabalho foi mais vagarosa hoje, estou totalmente perdida em meus pensamentos depois daquele sonho. O dia está nublado e isso deixa tudo com a "vibe" azul dos sonho, e eu não paro de ouvir a voz do homem à todo momento: ela me intriga.

Acho que devo começar à pensar nele como Morpheus, sendo seu nome ou não. A mulher morena o chamou assim e então penso que é verdade. E apesar disso me assustar, pois todo o negócio do livro é estranho de mais, eu sinto no meu interior que sempre me imaginei em um conto de terror, mas eu não quero morrer.

Finalmente eu chego no trabalho, no horário certo. Kayke pisca para mim, eu o ignoro. Passo a minha manhã toda fazendo pedidos, e conversando pouco com colegas de trabalho na cozinha. Eu me pego por vezes cantarolando uma música que não conheço, e ela fica na minha mente por horas, faço uma anotação mental de que quando chegar em casa, devo passar isso a limpo antes que eu me esqueça.

- HAILEY! ATENDA AQUI! - Kayke grita do caixa, e sai correndo para a sua sala. Provavelmente, ele quer ficar sentado um pouco.

Limpo minhas mãos e solto meu cabelo para parecer pelo menos apresentável aos clientes. E vou até o caixa atender uma mulher loira com seu filho. Eles demoram cinco minutos para decidir que o garoto vai querer um milk-shake de morango com chocolate.

- Mais alguma coisa?

- É óbvio que sim, tem duas pessoas aqui, não está vendo? - Ela diz e eu respiro fundo, mantendo um sorriso no rosto. - Vou querer... ahm... - Ela olha no cardápio. - Rosquinhas, não. Não, e você querido tem certeza do milk-shake? Tem outros sabores olha...

Eu reviro os olhos quando eles começam a discutir sobre como o sabor de morango vinha apenas de conservantes baratos cor-de-rosa. Escuto o barulho da porta abrindo e penso em como essa Karen vai atrasar os outros clientes.

Espero mais dez minutos, e ela finalmente escolhe o pedido, eu anoto tudo num papel e passo para a cozinha, enquanto ela deixa o dinheiro trocado em cima do balcão.

- De nada. - Eu resmungo e pego o dinheiro, mas deixo cair algumas moedas. Me agacho para pega-las, e escuto o próximo cliente falar:

- Um café expresso. - Uma voz grave totalmente reconhecível diz, e eu me levanto em um susto.

Eu o olho totalmente chocada, meu corpo paralisa e eu arregalo meus olhos. Já ele, não diz e nem demonstra nada, está simplesmente parado em minha frente me olhado com desdém. Os cabelos negros e os olhos azuis parecem mais reais agora, a pele branca parece menos translúcida do que nos sonhos. É real, mas não parece.

- Um café expresso. - Ele repete, e depois de eu não responder novamente, ele sai do Café.

Eu continuo parada, isso poderia ser um sonho, não é? Escuto meus colegas me chamando para entregar o pedido da mulher mas eu tiro o avental, jogando ele num canto e dizendo para eles tomarem conta do caixa, enquanto eu sair.

Saio correndo do Café, e no meio de tanta gente eu consigo focar no moreno à longe. Eu me esquivo das pessoas, respirando acelerado enquanto minhas pernas aguentam correr. Infelizmente eu nunca fui uma pessoa atlética, e me canso rápido, e quando eu desacelero para respirar, eu não o vejo mais.

Não, não, não é possível que eu o perdi, não aqui na vida real.

Um homem tromba em mim e eu acabo sendo empurrada e ficando de frente para um beco entre dois prédios. No meio dele, perto de um lixão, um corvo resmunga olhando para mim. Assim que trocamos olhares ele voa para um pouco mais longe e olha para trás. "Ele foi salvo por um corvo", lembro do que o livro diz, e eu sinto que aquele animal, que sempre esteve presente nos meus sonhos, está me chamando.

É sempre o mesmo sentimento, e eu sempre faço o que ele pede.

Eu sigo o corvo, e ele vai voando agora para uma escada vertical que vai até o teto do prédio, ficando à uns 10 degraus à cima de mim. É minha chance, eu sei que Morpheus está lá em cima, e mesmo cansada, eu começo a subir.

Eu xingo mentalmente o construtor do prédio, pois escalo a escada como um alpinista escala o Monte Everest, e não acaba. O corvo vai seguindo me guiando à alguns degraus de distância, mas então ele sobe totalmente para cima do prédio, e percebo que cheguei ao topo.

Respiro fundo, vendo o homem me olhando. O corvo está em seus pés olhando para mim e para o homem, parece esperar alguém falar alguma coisa. Eu descongelo, e com o sangue quente, vou até ele brava.

- Olha aqui! Eu não sei que merda você fez comigo, mas pode parar aí! Que merda tá acontecendo hein? Eu vi você nos meus sonhos desde...

- Que seus pais morreram. - Ele me corta.

- É! E por que, caramba? Nunca me deixa tocá-lo, me aproximar! E ontem você falou pela primeira vez em 7 anos! DÁ PARA VOCÊ RESPONDER? - Eu berro, e ele apenas me olha.

O silêncio me irrita, por segundos ficamos parados, ele apenas me encarando sem reação. O corvo dá alguns passinhos para frente, e continua olhando para nós.

- Não em importo que você seja um... incrédulo? Quer saber, eu não me lembro da palavra. Li o livro com preguiça, porque eu só quero que você desapareça!

- Livro? Que livro? - Ele franze o cenho.

- Ha! Então você fala? - O meu sangue esfria. - É sério que não escutou nada do que eu disse? Quere que eu repita, porque eu repetiria se você prometesse que responderia!

- Que livro? - Ele repete, com a voz mais alta.

- Sonho. O nome é "Sonho". - Eu digo resmungando.

Ele olha para o corvo, e ele balança as asas, olhando para baixo.

- Você não me disse nada sobre livro nenhum, Matthew. - Morpheus diz.

- Eu não vi necessidade, ela lê muito e é irritante vigiar alguém que não faz nada além de ler e desenhar.

Eu olho assustada para o corvo, ele fala. E não só isso, ele estava me vigiando? Há quanto tempo?

- Eu componho músicas também. - É a única coisa que eu digo.

Morpheus olha para mim irritado.

- Me leve até seu apartamento. - Ele ordena, mas eu rio.

- Não responde nada, e quer que eu leve você na minha casa? Pera, como sabe que é um apartamento?

- Você sonhou uma vez com ele.

É o que ele diz, e o corvo começa a voar para o beco novamente, Morpheus o segue e percebo que "Matthew" está guiando esse homem até minha casa. Eu bato o pé de ódio, e enquanto desce, o homem me olha, infelizmente eu o sigo e chego até o beco, onde ele me espera com a mão levantada para me ajudar a descer. Eu ignoro a mão e sigo andando para a multidão novamente, escutando ele respirar fundo, e sigo rumando para meu apartamento.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora