chapter 𓄿 four

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Eu destranco a fechadura com dificuldade porque ela esta velha, empurro a porta e Morpheus entra com o corvo na minha frente. Ele já anda direto para o interior do apartamento, e eu demoro para fechar a porta porque a fechadura emperra.

- Ey! - Eu grito. - Não mexe nas minhas coisas!

Quando chego na porta do quarto vejo que é meio tarde para isso. O moreno está vasculhando meu quarto como um policial: jogando tudo para cima e mexendo em todas as minhas coisas, ele folheia meus livros e joga eles no chão. Eu saio catando tudo e tentando colocar tudo no lugar, até que ele para e olha para a parede, encarando um desenho que eu fiz de seu rosto.

- Eu te disse para não mexer em nada. - Eu bufo e vejo que meu exemplar de capa dura de "Alice no País das Maravilhas" está com as primeiras folhas amassadas. - Olha só o que você fez!

- Aonde está o livro? - Ele me encara como se fosse me matar.

Eu reviro os olhos, e coloco o livro de Alice na escrivaninha, depois abro meu guarda-roupa e tiro "Sonho" lá de dentro.

- Seja feliz lendo sua biografia. - Eu estendo minha mão com o livro para ele.

Quando Morpheus toca no livro, tomando o objeto por completo em suas mãos, ele logo solta e o mesmo cai no chão. Ele olha para suas mãos e eu noto que está saindo uma fumaça branca, como se tivesse queimado.

- Ué. - Eu digo, e cruzo os braços.

- Ué, o que? - Ele responde bravo. - Esse livro está amaldiçoado. Quem lhe deu?

- Você não é o Sonho? Deveria saber. - Eu respondo seca. - Uma mulher me entregou, ontem à tarde, num sonho.

- Eu não vi você sonhando ontem à tarde. - Ele olha para o livro caído aberto no chão. - Como ela era?

- Cabelos loiros, curtos. Era maior do que eu, vestida de preto... asas de morcego. É, foi estranho. - Eu coço a garganta e ele não diz nada. - Conhece ela?

- Isso saiu dos limites, Matthew. - Ele olha para o corvo que está na janela. - Lucifer descobriu ela, agora o porquê de se importar com uma mortal qualquer...

- Mortal qualquer? Lucifer? O lá de baixo? O coisa ruim? - Eu começo a ficar sem ar. - É, isso saiu dos limites. Sai da minha casa, e sai dos meus sonhos.

- Não posso fazer isso agora que Lucifer sabe que eu apareci para você. - Ele diz, e eu rio.

Começo a andar de um lado para o outro, pensando no que eu fui me meter. Eu preferiria mil vezes que esse homem tivesse ficado só nos meus sonhos, como um fantasma. Preferiria que eu ficasse doida tentando achar seu rosto na vida real, do que ele me encontrar acordada. Eu posso fugir, sair correndo e me esconder em qualquer canto de Nova York, ele não me encontraria, certo? Droga! Ele tem um corvo que me espiona!

Ele se agacha para ver o livro mais de perto, e eu aproveito a oportunidade e corro para a porta do quarto. Atravesso a mesma, e a tranco. Respiro aliviada, mas agora eu tenho um ser místico preso no meu quarto. Eu me viro para pegar o telefone da casa para ligar para Nala, e dou de cara com ele. Morpheus está há poucos centímetros de mim, me encarando como se fosse me matar.

- Não faça mais isso.

Ele ordena, e eu saio da frente dele, me jogando no sofá. Eu olho para o chão, não estou entendendo nada! Por que esse Morpheus disse que "ela me intriga"? Por que Lucifer apareceu para mim em um sonho e ele não o viu? Isso não faz sentido!

Ele revira os olhos e senta do meu lado, com a incrível postura reta de mais. Ele olha para os lados, provavelmente pensando em como vai me dar uma notícia surpreendente de como minha vida acabou.

- A primeira vez que estive nos seus sonhos foi há 7 anos, quando seus pais morreram. - Ele explica, mas não adianta de nada pois eu me lembro vagamente dos meus primeiros sonhos com ele. - Mas você conseguiu entrar em um local extremamente restrito no Sonhar, ontem. Como fez isso?

- Eu não sei. - Coloco as mãos no meu rosto. - Eu simplesmente acordei perto daquela colina e segui... eu escutei a conversa, sua com aquela mulher.

- Claro que escutou. - Ele me olha bravo. - Mortais quaisquer não podem entrar ali. Lucienne, é o nome dela. Ela vem me alertando de você desde o primeiro momento em que eu me encontrei com você.

- Ela alertou sobre o que? - Eu tiro as mãos do rosto lentamente.

- Você tem que ler o livro para mim. Eu preciso saber o que Lucifer escreveu para você. - Ele ignora minha pergunta.

- Você não me respondeu. - Eu digo, e ele não responde.

Quero acabar logo com isso, e o único jeito que vejo é ler a porra do livro para ele. Vou até meu quarto, pego o mesmo e volto a me sentar no sofá. Abro o livro e começo a ler em voz alta. Morpheus se escora para trás, ficando de olhos abertos e escutando calado.

Fico lendo por incansáveis horas, e já chegava na metade do livro. A história agora contava como ele foi preso por humanos e estava atrás de suas coisas: um colar, sua areia e uma máscara ridícula que parecia da época medieval da peste negra.

Um despertador toca no meu bolso e eu paro de ler, pego o mesmo e vejo que já são 17 horas da tarde.

- Tenho que me arrumar para a faculdade. - Eu digo fechando o livro.

- Como é? - Ele se levanta e fica me observando. - Há coisas mais importantes do que isso agora, talvez até seu futuro dependa disso!

- Eu volto às 20 horas, dramático. - Eu me levanto e sigo para o quarto. - Eu não morri até agora, e não vai ser na faculdade que isso vai acontecer.

Eu me troco, colocando uma calça jeans clara e uma blusa de mangas compridas azuis claras. Coloco meu all-star branco, e pego minha bolsa marrom clara que estava com meus cadernos. Vou para a sala, e começo a destrancar a porta.

- Vai se arrepender disso. - Ele me avisa. - Eu preciso que você leia esse livro, agora!

- Matthew não sabe ler? Pede para ele. - Eu abro a porta, e ele solta uma risada seca.

- Você não vai ter sonhos essa noite. - Ele fala alto e em bom som, uma ameaça.

- Ótimo! Me dê pesadelos, eu não ligo.

Fecho a porta e saio para a minha faculdade. Ignoro as mensagens de Kayke no meu celular, me perguntando "que merda aconteceu com você hoje?"

Depois de alguns quarteirões eu chego na universidade, e parto diretamente para minha sala. Apesar da aula hoje ser muito interessante, eu não consigo parar de pensar em Morpheus, e Lucifer. No livro, eles são inimigos mortais, e o rei do inferno pegou um dos três itens de Sonho. Mas o que isso tem haver comigo?

Mal olho no relógio e a aula acaba. Me sinto esgotada, mas mesmo assim me apresso para chegar em casa. Quando já estou destrancando a porta, torço para que ele não esteja ali. Felizmente, meu pedido se realizou, e a casa estava vazia. O livro, ainda no sofá, parece não ter sido tocado. Respiro fundo e penso no que vou fazer, pego meu celular e ligo para Nala, que atende no primeiro toque.

- E aí? Já destruiu a casa? - Nala ri.

- Nala, preciso falar com você, e você não pode surtar.

Eu conto para ela tudo, até os mínimos detalhes da aparência de Morpheus, e ela fica em silêncio.

- Amiga, eu... eu não sei o que falar. Olha, se precisar, eu posso voltar para casa ainda hoje. - Ela começa a falar rapidamente sobre como havia voos para Nova York pela madrugada.

- Não! Não precisa vir, eu to legal. Eu não sei o que vai acontecer, mas eu só precisava conversar com alguém sobre isso. Não se preocupe, ok?

- Ah, claro. Não vou me preocupar com literalmente Lucifer te perseguindo.

- Não foi isso que eu disse. - Eu a corrijo.

- Qualquer coisa, por mínima que seja, me liga. Não mande mensagens, me l-i-g-a! Ok?

- Ok. - Eu sorrio de canto. - Vou tentar dormir.

- Ok, cuidado com os sonhos, ok? Se ele aparecer por aí, fala que eu o odeio. Esse homem não é normal!

Eu desligo, e concordo. Ele nem humano é.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora