chapter 𓄿 thirty- eight

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- Quer conversar logo agora, e logo aqui? - Pergunto olhando para o Inferno.

- Não estou incomodado, você está? - Aceno positivo à pergunta dele. - Nala já deve estar no Paraíso.

- "Deve", mas e se não? E se outra merda aconteceu? Eu não aguento mais isso! Ficar correndo atrás de cada coisa, cada chatice para eu apenas herdar um cargo!

Ele solta uma risada e olha para o portão de ferro, fecha os olhos por um segundo e eu me pergunto se ele está bem. Morpheus se vira para mim, os olhos azuis ainda escondidos, e me abraça. Seus braços me envolvem como nunca fizeram, não me apertando com força, mas sinto que ele necessita desse contato há muito tempo.

As últimas horas parecem ter sido eternas, mas finalmente um resquício de esperança cresce em meu peito. Está acabando, é só eu cruzar esse portão e estarei livre de minha vida mortal que tanto amo. Tantas coisas que não pude fazer, e aquelas que me arrependi de fazer...

Mexo a minha cabeça para que nossos narizes se toquem, para que meus olhos vejam os dele abrirem lentamente, e para que eu sinta sua boca tentando me dar um selinho.

- Calma aí, Sonho. Vamos resolver isso no Paraíso. - Rio.

Ele parece ficar realmente triste, e tenta novamente alcançar meus lábios, mas eu coloco a mão em sua boca, o tampando.

- Te vejo lá em cima.

Morpheus me abraça novamente e me solta, saindo da frente para que eu passe o portão. Quando meu pé pisa para fora do Inferno, sinto um alívio que não consigo explicar. Mas eu escutei algo.

Olho para trás e vejo Morpheus chorando de joelhos.

...

Acordo num gramado, e por um momento eu achei que estava de volta ao infinito do falso Paraíso, mas então, a mão de uma Nala sorridente me puxa para ficar em pé.

- Diz para mim que deu certo, por favor. - Eu digo.

- Relaxa, olha.

- Puta merda.

O lugar é incrível. Consigo ver grandes construções romanas de um lado, vilas camponesas de outro, prédios modernos que cresciam até as nuvens, e lá em cima, vários balões de ar-quente, aviões, e animais com asas. Vejo parques, campos de esportes, uma biblioteca do tamanho de Nova Iorque, e também o mar cheio de barcos...

Nala me puxa, e começamos a descer por ali, correndo entre a grama que agora possui várias flores coloridas. Começo a rir por estar feliz, por me sentir feliz e por ter esquecido tudo que ruim que já me aconteceu.

Chegamos em um lago, cristalino como nunca tinha visto. Algumas garotas nadavam, e uma delas segurava uma linda bebê que não parecia ter mais de 5 meses. A água toca meus pés, e eu sinto uma mistura de sentimentos: a água, o ar, tudo está muito real. O meu reflexo na água, me mostra uma versão tão jovem quanto eu de 15 anos, mas também tão velha como eu estava nos meus últimos momentos.

Não sou uma criança, sou Paraíso.

Um assobio atinge meus ouvidos e eu olho rapidamente para trás, encontrando meu pai. Meus olhos se enchem de lágrimas ao ver o rosto de trás das lentes do óculos grosso, exatamente como eu me lembrava. Ele se veste com uma roupa branca e amarela, e vem correndo até mim, desajeitado.

- O-oi, minha querida. - Ele arruma o óculos. - Baita história, hein? Você já viu sua mãe? Estou procurando ela, mas não a acho em canto nenhum!

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora