chapter 𓄿 thirty- three

700 95 29
                                    

Abro meus olhos e percebo que estou em um quarto de hotel, pequeno, mas bem chique. As cobertas da cama são brancas e vermelhas, a televisão é a maior possível, o banheiro tem detalhes dourados e há uma grande banheira que caberia umas cinco pessoas, no mínimo. Em cima de uma poltrona cinza, vejo minha mochila com tudo aquilo que eu quero guardar para mim, até que a hora chegue.

Coloquei algumas roupas ali, meus cadernos de anotações, uma sacola com algumas tintas e pincéis, a caderneta de minha mãe. E a porca que guarda moedas de Nala. Me lembro que não estou sozinha, me viro para Morpheus cruzando os braços.

- O que vamos fazer primeiro?

- Estamos na Grécia. O que você quer fazer?

Eu corro para o banheiro e troco de roupa, coloco uma jardineira jeans clara, meu all-tar vermelho e uma blusa vermelha com bolinhas brancas por baixo. Amarro meu cabelo em um rabo-de-cavalo, e saio de lá pronta para visitar alguns lugares.

Vamos para o centro da cidade e noto que estamos na capital, Atenas. A cada metro percorrido eu encontro estátuas vivas, pessoas vendendo coisas para turistas e o melhor de tudo: muita arte. Há quadros, cerâmicas e música por todo canto. Encontro uma mulher que vende pequenas estátuas de Apolo, feitas com gesso, de baixo de uma árvore. Me sinto aliviada por estar ali na sombra, por causa do calor.

Quando vou perguntar quanto custa a pequena estátua do deus das artes, percebo que não falo grego. Droga! Deveria ter feito grego em vez de espanhol quando eu tive a chance.

Morpheus pergunta para a mulher, ela responde. Ele entrega algumas moedas e pega uma estátua, me entregando.

- Olha, sem querer ofender, mas ele é um idiota.

- Ata. Porque ele existe.

Morpheus faz uma cara de nojo, e eu fico chocada.

- ELE EXISTE? - Eu berro. - PERA AÍ! O QUE?

Morpheus começa a andar e se misturar no meio das pessoas enquanto eu surto correndo atrás dele. Depois de um tempo, ainda estou chocada, mas consigo parar de pensar nisso quando ficamos em frente à uma galeria de artes. Gigante, literalmente. Nunca vi um prédio tão bonito assim.

- Podemos entrar, se você quiser. - Morpheus diz.

- Vamos. - Puxo ele pelo braço e começo a empurrar as pessoas para chegar à entrada. Ali, uma mulher está recebendo pessoas com ingressos, o que eu não tenho. Olho para Morpheus, e ele estende na mão dois deles.

- Sejam bem-vindos. Aproveitem a visita, e lembrem-se, sem tocar nas obras, não ultrapassar a linha vermelha e não comer ali dentro. Temos um refeitório para isso.

- Refeitório? Vem. - Puxo ele novamente.

Estava morrendo de fome, e quando senti o cheiro de batata frita, meu estômago roncou. Chegamos na frente do restaurante e peço minha comida, pago, e nos sentamos para comer. Estava quase terminando meu milkshake quando Morpheus disse:

- A estátua que você quer pichar está lá em cima.

- Eu não trouxe minhas coisas para pichar alguma coisa. Olha, eu não sei se tenho coragem de estragar...

- Você colocou na lista, vai ter que fazer. - Ele levanta os ombros.

Subimos para o segundo andar quando terminei de comer, então fomos direto para a obra de arte de Caim. O homem estava apenas usando uma espécie de pano que cobria suas partes íntimas, seu rosto demonstrava tristeza, seu braço tampava a testa como se estivesse sofrendo. Achei que seria engraçado pichar isso, com alguma mensagem para o mesmo, mas agora eu me sinto muito triste, já que os conheci.

- Não tem graça mais. - Digo.

- Então por que colocou isso na lista?

- Sempre imaginei que qualquer coisa feita contra a arte era um ato de rebeldia. Achei que queria ser um pouco rebelde. Fui idiota. - Assumo.

- Não chamo de idiota. - Ele olha para a estátua. - Vem, tem uma que você pode gostar de pichar.

Ele segura na minha mão e dançamos entre as pessoas até chegar em uma grande estátua, de um anjo acorrentado. Mas suas asas eram tão familiares quanto as cores pálidas que sumiram através dos tempo: Lucifer. As asas de morcego cobriam toda a extensão de seu corpo, que estava sentado em uma pedra. Ele segurava algo, parecida com uma coroa, e passava a mão nos cabelos como se tivesse angustiado.

Ele era belo, não posso negar. Era chamativo e era... digno de uma pichação.

Olho para os lados e não vejo ninguém além de mim e Morpheus.

- Vigie. Eu tenho uma ideia. - Alongo meus dedos na frente e estico minha mão para Morpheus, que não entende nada. - Pincéis, por favor.

- Sabia que você ia gostar.

Nos meus pés, aparecem uma caixa com alguns pincéis e tintas. Sou rápida, e já tenho em mente o que quero fazer com essa "obra de arte" de segunda. Me desculpa Guillaume Geefs, mas sua escultura é de um anjo muito chato.

Depois de alguns minutos, eu fico ao lado de Morpheus para ver a minha obra de arte:  te vejo no -inferno- céu. Inferno, estava rabiscado de propósito, e em volta de todas as palavras eu "rabisquei" cores vivas e alegres.

- Chupa essa Lucifer. - Olho para Morpheus que estava um pouco chocado com a imagem. - Que foi?

- Lucifer não vai gostar nada...

Ele sorri, e eu também. Um sonho realizado e foi bem em cima de Lucifer! Não tinha como ser melhor!

- O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO?

Um homem surge no corredor e me vê cheia de tinta, ao lado de uma obra de arte do século... sei lá.

- Você deveria estar vigiando! - Grito para Morpheus.

- Você me chama mais atenção do que um corredor vazio!

Eu começo a correr logo que o homem se aproxima gritando algo em grego. Morpheus também corre ao meu lado, descemos escadas e subimos outras, nos misturamos no meio das pessoas e o não avistamos mais o homem.

Meu telefone começa a tocar, e eu o tiro do bolso. Um número completamente desconhecido aparece na tela, e eu atendo.

- Oi?

- Olá! É a Senhorita Reviere? - Murmuro um sim. - Aconteceu... é, sua porta do quarto estava aberta e suas coisas foram roubadas. Nós do Hotel Athentico sentimos muito e estamos aqui checando as câmeras e tudo...

- MERDA! MERDA! MERDA! - Minhas anotações, minhas roupas, a caderneta da minha mãe. - MERDA!

Vou andando para trás, e totalmente fora do controle, encosto minhas costas em algo que cai no chão, se espatifando. Olho para trás e coloco a mão na boca. Era uma estátua do busto da deusa Artemis. Puta merda! Por favor que seja uma cópia e não a original!

Olho para Morpheus e ele está tentando esconder uma risada. Pessoas chegam e começam a gritar comigo. MERDA!

Saio empurrando todo mundo, pego o braço de Morpheus e o arrasto comigo até a saída.

- Minhas coisas foram roubadas. Aposto que foi Lucifer! - Digo brava.

- Não se preocupe, vamos recuperar sua mochila. - Ele diz sério, sério até demais.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora