chapter 𓄿 twenty- six

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Acordo logo de manhã e já procuro Nala na cozinha, ela está bebendo café enquanto lê algo no celular. Eu vou até a geladeira, pego um pedaço de um bolo gelado que fiz há dois dias, e sirvo para nós duas.

- Você vai pegar o carro do seu chefe hoje? - Eu pergunto.

- Vou. Por que?

- Pode levar um quadro no mesmo endereço que aquele outro foi entregue? - Ela balança a cabeça negativamente. - Por favor!

- Tenho que chegar lá hoje mais cedo, ele está puto comigo. Foi mal, não dá mesmo.

Respiro fundo pela decepção, mas crio coragem para ir levar o quadro eu mesma.

À tarde, eu paro um táxi e dou o endereço. O homem diz que demoraria mais que o usual por conta do congestionamento em uma das ruas. Mas durante o caminho, o carro chacoalha muito, e enquanto eu desenho na última folha de uma nova agenda, meu lápis treme. A íris do olho que fiz ficou todo torto, reviro os olhos e uso a borracha do lápis para apagar e fazer novamente.

- Droga. - O homem diz e eu olho para frente, encontrando inúmeros carros parados. - E para piorar, vai chover.

Olho para cima e vejo o céu cinzento e carregado de enormes nuvens de chuva. Um raio atinge um para-raio à alguns metros, e eu me arrepio, nunca gostei de tempestades. Mas pelo menos terei tempo para treinar meus olhos, viro uma página nova da agenda e começo a fazer tudo novamente. Pego meus fones de ouvido, coloco minha playlist para tocar no modo aleatório, e escuto: Satellite, Harry Styles.

Depois de mais doze músicas, o carro começa a andar e a chuva começa a cair. Pela janela, não há nada além das gotas d'água, e a velocidade do carro é lenta. Mas enfim, o homem vira à esquerda e começamos a acelerar. Tiro meus fones e guardo na mochila, mas continuo observando meus desenhos de olhos. Talvez eu devesse treinar mais a parte dos cílios.

Começo a friccionar o lápis por cima do olho e o homem diz que já estamos chegando. Meu olhar vai pela janela, no meio da chuva, e de muitas pessoas, eu o vejo.

Alguém com um guarda-chuva passa e eu me pergunto se o que vi foi real, mas quando seu rosto aparece novamente, eu percebo que é real. Morpheus me olha confuso, e eu sinto como se ele me chamasse, eu me inclino pela janela fechada, deixando minha agenda cair do colo. Mas o motorista acelera, e eu perco Morpheus de vista.

Depois de tantos dias, foi a primeira vez que vi os seus olhos azuis. Deveria ter descido e falado com ele. Não! Melhor não!

- Chegamos. - O homem diz.

Ele estaciona o carro e eu o pago, em seguida organizo minhas coisas e desço do carro. A chuva parou, e eu olho para meu lado direito, buscando ver ele chegando. Mas Morpheus não está vindo.

Observo a casa de número 1349. É uma casa pequena, mas tem dois andares, exprimida entre duas casas maiores. Toda sua pintura é em cores escuras, indo de um azul quase preto à um vermelho vinho. Há uma placa no jardim: "Pise e morra", onde há apenas uma roseira quase morta. Esse lugar me dá medo... mas foi o dono quem comprou minha arte. Eu preciso desse dinheiro.

Toco a campainha e fico esperando por mais de cinco minutos até que escuto finalmente barulhos dentro da casa. A porta é destrancada e ela se abre lentamente, como se o homem quisesse se assegurar de que não havia nenhum perigo ali.

O homem. "Hering.Ruivo". Tudo faz sentido.

- D-destruição? - Eu fico de boca aberta e ele bufa.

- Entra logo, garota.

Eu hesito, olhando para os lados, não entendendo nada. Ele então, pega o quadro da minha mão, sem-educação, e faz um movimento, me chamando para dentro. Eu não tenho escolha, se ele quiser, vai me carregar a força para ali. Quando passo pela porta, ele a bate com força, e passa por mim mancando, até chegar na sala, o cômodo principal.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora