chapter 𓄿 thirty- six

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- Ey, acorda. - Escuto Nala sussurrando.

- Mais cinco minutos. - Peço, e me espreguiço.

O meu colchão está duro, e quente. Estranho porque no meu quarto do nosso apartamento tem um ventilador que quase sempre fica ligado.

- HAILEY!

Quando Nala berra meu nome, eu acordo em um pulo e percebo que estava deitada no chão do Inferno. Ao meu redor, não há nada além de cinzas caindo em um terreno morto e cheio de colinas. Penso que caímos da escada diretamente para cá, como se fosse uma queda do Paraíso ao Inferno, mas minha teoria de que tudo foi uma ilusão de Lucifer ainda pode ser verdadeira. Isso significa que não chegamos lá.

- O que fazemos agora? Corremos até a saída? - Nala pergunta, ela parece estar bem mais jovem do que eu me lembrava. - Talvez, possamos pedir ajuda para alguém.

- Vai ser difícil encontrar alguém, não há nada aqui. - Olho para os lados novamente e confirmo o vazio.

- E se a gente gritar?

- Podemos atrair Lucifer. - Respondo.

- Duvido que Lucifer não saiba que estamos por aqui. - Nala arruma o cabelo em um coque.

Começamos a andar em alguma direção, mas a paisagem não muda por minutos. Enquanto isso, eu olho de canto para Nala, e tenho certeza que ela está realmente mais jovem. Sua aparência me lembra exatamente de quando tínhamos 16 anos, e ela usava esse coque em todo lugar.

- Como se sente, agora que morreu? - Ela pergunta.

- Estranha. Não mudou nada. Achei que ia ter um pouco mais de: Sou um fantasma e atravesso paredes.

- É, isso seria legal. - Nala diz e então para de andar. Olho para ela confusa.

- O que foi? - Pergunto.

- Tem alguma coisa ali... - Ela aponta para uma pedra grande, quase do nosso tamanho. - Eu vi algo se mexer...

Mexo minhas mãos e fico surpresa ao ver a energia vermelha saindo de meus dedos e formando uma bola. Respiro fundo e jogo a mesma na pedra, que se espatifa. A princípio, nada sai de trás dos destroços, mas então um réptil sai de lá, mostrando seus dentes afiados para mim.

- QUE PORRA É ESSA? - Nala grita.

Não tenho tempo para responder, pois o enorme bicho está quase me alcançando. Ele tenta morder meu pé, mas a energia rosa toma conta das minhas duas mãos, e em uma explosão, joga o mesmo para longe. Mas ele volta correndo.

- Nala! Sai daqui!

Minha amiga começa a correr enquanto eu acerto o demônio repetidas vezes com minhas energias coloridas, mas nada o para. Escuto um rugido vindo do alto, e olho para cima buscando entender o que estava acontecendo. Um demônio de asas estava voando para perto de mim.

Acerto ele, mas o de asas continua voando, até passar reto por mim. Espere, se ele passou reto, isso significa que...

- NALA!

Olho para trás e vejo as garras dele entrando nos ombros de minha amiga, erguendo ela para cima. Nala grita e tenta socar o demônio, mas ela é levada para onde meus olhos não conseguem mais ver. O demônio que estava no chão, desapareceu, e percebo que caí numa armadilha de Lucifer.

Mas isso não vai ficar assim. Começo a correr, tentando seguir a lembrança de Nala sendo levada. Temo que ela esteja nas mãos de Lucifer agora, sofrendo enquanto o mesmo a usa como refém.

Quando chego no topo de uma grande colina, eu vejo um castelo. Não um castelo comum, mas um totalmente estranho. Olhar para ele me dá ânsia de vômito, e sinto uma dor no peito incontrolável. Acho que não é para Paraíso ficar tanto tempo assim no Inferno.

Volto a correr, ignorando tudo que estou sentindo. Preciso salvar Nala e sair daqui. O pior de tudo é que estou sozinha, Morpheus não está aqui para dizer o quanto eu fui idiota por ter pulado naquela merda de rio!

...

Quando começo a subir por uma torre, percebo que ela está sendo vigiada. Entro nas frestas das paredes, percorro salões vazios, e me escondo atrás de grandes caldeirões com fogo que iluminam os corredores. Nenhum dos demônios me vê, e a cada metro percorrido, me sinto mais confiante. Chego em um ponto que há apenas uma grande escada que circula uma pequena torre, e vai para um salão grande sem paredes. Dali, posso ver um pouco das asas de morcego de Lucifer.

Começo a subir rapidamente, torcendo para que nenhum demônio apareça na curva e me empurre dali. São muitos metros de queda até o chão, que também está ficando cheio de... coisas reptilianas que gritam. A parede da torre está cheia de janelas, como se fosse uma prisão, mas não perco tempo olhando lá para dentro. Mas então, alguma coisa agarra meu pé e eu caio de cara num degrau.

Me recuso a gritar de susto para não chamar a atenção, e quando olho para a mão que segura meu pé, encontro uma bela mulher se aproximando da janela de sua prisão. Ela me solta, e eu me sento na escada, ficando cara-a-cara com ela. Seus lábios estavam entreabertos, como se estivesse em dúvida, seus olhos marrons encaravam os meus de uma forma amigável, sua pele preta é tão brilhante e cuidada para uma prisioneira no Inferno...

- Você é Paraíso? - Ela pergunta com uma voz doce.

- Sou. - Respondo. - Bom, estou tentando ser. Meu nome é Hailey.

- Eu sou Nada.

Eu me arrepio.

- Sabe da minha história, não sabe? - Ela pergunta depois de segundos de silêncio. - Fico feliz que ele esteja feliz.

- Eu... tenho que tirar você daqui. - Seguro na barra da janela e tento arranca-la, um gesto que não adiantou nada.

- Estou bem, ele já me perdoou, e um dia sairei.

- Isso não é justo! - Digo muito alto e coloco a mão na boca. - Não é! - Sussurro para ela.

- Está tudo bem. - Ela se aproxima da janela. - Vá, eu vi levarem uma garota ruiva lá para cima. Você deve estar procurando por ela, não é?

- Sim. Obrigada.

Me levanto e forço um sorriso para a prisioneira. Respiro fundo. Ela aceitou seu destino com muita facilidade, eu deveria fazer a mesma coisa. Para que subir essas escadas escondidas, sendo que Lucifer sabe que chegarei ali em algum momento?

A energia verde aparece em ambas as minhas mãos, e tomo coragem para voar até lá, mas quando meus pés começam a sair do chão, escuto alguém me chamando e paro na mesma hora.

- Hailey. - A voz repete, eu olho para a curva das escadas. - Pensei que Lucifer tinha pegado você.

Respiro fundo quando vejo os olhos azuis de Morpheus me encarando. Sorrio e corro para abraça-lo. Suas mãos envolvem meu corpo e eu afundo meu rosto em sua nuca, sentindo sua pele fria se arrepiando com a minha respiração.

- Não deveria ter pulado. - Ele diz.

- Eu sei, eu sei. Pode colocar na minha conta.

- Vamos. - Ele se separa e pega na minha mão. - Temos que sair daqui.

- Não! Lucifer pegou Nala, e também... eu não cheguei no Paraíso quando morri. - Explico. - Alguma coisa aconteceu.

Ele acena positivo, e no mesmo momento que ficamos lado a lado para subir a escadaria, escutamos a voz galanteadora de Lucifer dizer:

- Andem depressa, estou perdendo a paciência.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora