chapter 𓄿 eight

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O avião passa rasgando o ar, fazendo um barulho que diferente da realidade, é suave. É bom de se escutar, e logo depois dele, vem o trem. Ele é como eu me lembro, metal escuro e com vagões infinitos.

A montanha se aproxima, e eu posso ver por fragmento o metrô tecnológico passando dentro dela à mil quilômetros de velocidade. Um carro, no topo, aparece. Não sei descrever o que eu sinto pois é sempre o mesmo carro: o do acidente.

Acho que é a primeira vez que eu vejo ele e não sinto nenhum remorso ou dor, e sim nostalgia. Posso jurar que vejo uma família lá dentro: um pai, uma mãe e uma filha pequena. Eles estão sorrindo e rindo um com o outro.

Sinto Morpheus chegando cada vez mais para perto de mim, e ele dá o mesmo empurrão de ombro que eu dei nele há pouco, mas um pouco mais leve.

Na montanha agora, corre uma carruagem colorida. Rio, pois eu sonhei com ela apenas duas vezes: uma com 13 anos quando eu assisti um filme antigo, e outra ano passado, com 21, quando assisti Cinderela, live action.

- Engraçado. - Eu comento mas não olho para Morpheus. - Nesse sonho, com a carruagem ano passado, foi a primeira vez que você me deixou chegar perto.

- A maioria dos mortais mal se lembra dos sonhos quando acorda. Fico surpreso por você lembrar depois de tanto tempo.

- Eu lembro de todos. - Digo e olho para ele, ele me encara com uma certa curiosidade. - A cor favorita da Morte é preta?

Eu rio com ele revirando os olhos e volto a olhar para a paisagem nostálgica na névoa. Escuto ele rindo, e logo quando eu pisco, eu acordo.

Troco de roupa no quarto, e me arrumo no banheiro. Saio de lá com cheiro de rosas e vejo a porta do apartamento se abrir, Nala entra empurrando as malas e xingando o síndico por ter achado ruim ela subir com tanta coisa.

- Você vai com uma mala e volta com duas? - Digo e ela empurra a porta para trás.

Ela solta as mala e olha para mim brava, mas então ela abre um sorriso e vem correndo me abraçar. Eu retribuo e ela me aperta com muita força. Sorrio por ver minha amiga de volta, e porque eu amo abraços, eles sempre deixam nossos corações o mais próximos possíveis.

- Foram só dois dias. - Eu digo sufocada.

- Eu passei o tempo em reuniões chatas desejando só meu sofá, e você quase morreu para o Diabo, então dois dias são muito. - Ela me solta. - A casa não tá destruída.

- Claro que não! Eu não deixaria ela bagunçada nem se eu quisesse, ainda mais com você longe.

Ela solta uma risada sarcástica e eu a ajudo a levar as malas para seu quarto. O cômodo é do mesmo tamanho que o meu, mas é completamente diferente: a cama é de casal e sempre estará com uma colcha cinza, combinando com a cortina e a cadeira com estofamento cinza. Em sua mesa, ela coloca o notebook, mas há muitos livros organizados em cima da mesma. Então, Nala vai até o guarda-roupa e abre a porta, todas as suas coisas caem e seu quarto fica com "a cara de Nala".

- Eu juro que vou organizar isso. - Ela diz pela milésima vez. - Então, como você está?

- Estou ótima, tive um sonho bom hoje.

- Hm. - Ela me olha suspeita e começa a desfazer as malas. - E ele aparece com qual frequência? Fisicamente.

- Eu não sei... e ele não sabe do seu ódio mortal por ele. - Eu me sento em sua cama. - Como foi lá? Aprendeu a fazer contas? - Rio e tento desviar do assunto.

- Okay, sei o que está fazendo, e vai funcionar. Mas você não fugir desse assunto, me escutou? - Ela dobra apenas uma blusa e se senta na cadeira. - Foi ótimo, eu conheci muita gente e recebi propostas de empregos. Assim que acabarmos a faculdade, eu já terei um emprego!

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora