chapter 𓄿 thirty- one

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Pelo resto do dia eu seguro uma toalha para estancar o sangue do meu nariz, ela já está pesada e vou ao banheiro pegar outra. Destruição fica me acompanhando, e isso é irritante, mesmo sabendo que ele só está preocupado comigo.

- Acho que vou dormir um pouco. - Aviso, ele acena positivo, e eu entro no meu quarto fechando a porta.

Mas eu não consigo me deitar sem sentir dor. A vontade que estou de simplesmente acabar com essa dor de uma vez cresce a cada segundo, mas minha vida mortal é tudo que eu tenho! Lutei para conseguir entrar na faculdade, vivi sofrendo pela perda de meus pais e me virei para sobreviver! Se entregar assim, de bandeja, eu terei feito isso por nada.

Nas histórias que já li, a decisão parece ser tão fácil. O personagem principal apenas aceita seu destino e vive feliz para sempre. Mas eu estou preocupada com o outro lado da moeda: declarei guerra contra Lucifer. Mas o que o mesmo pode fazer contra mim? Já tirou todos que amo...

Me sento na cama depois de ficar minutos parada na porta pensando, e sinto a pressão no meu nariz aumentar. Coloco a toalha limpa e a vejo ser manchada de sangue aos poucos. Meu corpo parece estar negando muito bem essa imortalidade.

Olho para a minha mão esquerda, manipulo um pouco de energia, que varia nas cores. Tento me entreter para esquecer a dor, mas a energia se torna amarela: a que usei para entrar na mente daqueles homens. Os gritos aparecem na minha mente novamente, mas será que isso é a única utilidade para isso?

Levo a minha mão para a minha mente, e sinto um formigamento na lateral esquerda, onde a energia entrou. Fico ali por alguns segundos, sem reação, e então eu noto que não estou estancando o sangue. Vou para o banheiro correndo, e noto que meu nariz parou de sangrar.

Eu acho que manipulei minha mente para que meu corpo aceite a imortalidade.

...

Tive que usar minha energia três vezes depois daquilo, mas finalmente pude me arrumar para o jantar no Sonhar.

Eu me visto com um vestido prateado que vai até a altura da minha coxa, coloco sapatos de salto alto azuis, brincos também no mesmo tom de azul, e por fim, respiro fundo ao fazer uma maquiagem leve.

Quando vou para o Sonhar, isso eu faço sozinha agora, encontro Morpheus sentado em uma grande mesa com várias cadeiras. Ele se levanta e vem ao meu encontro, segura a minha mão e diz:

- Você está linda.

- Bom, meu nariz parou de sangrar.

Ele fica confuso, então Destruição aparece atrás de mim e nos dá um abraço caloroso. Ele está bem elegante, com um terno vermelho vinho. Nos sentamos, e aguardamos cinco minutos até que Morte chega, e depois dela, Destino.

A descrição no livro de Lucifer é bem fiel: um homem branco alto, encapuzado, carregando um livro enorme que está acorrentado em seu próprio corpo, fico intrigada e com medo por não ver seu rosto claramente, mas noto que seus olhos são brancos, ele é cego. Ele não fala com ninguém, mas Morpheus me dá um pequeno sorriso, afirmando que está tudo bem.

O jantar é servido e todos começam a comer, o que é estranho para mim já que eles não precisam fazer isso. Nem eu, agora. Imortalidade.

- Então, você aprendeu a pintar, irmão? - Morte pergunta.

- Nunca aprendi. Mas Hailey me ajuda. Decorei minha sala com uma das pinturas dela.

- Eu sei, eu fui lá, se lembra? - Morte revira os olhos dizendo.

- Você, foi. - O ruivo olha para Destino.

Ele fica em silencio, e eu continuo comendo enquanto o irmão descreve o apartamento, e como a parceria de Barnabas o ajudou a superar o fato de ter "saído" dos Perpétuos. Ele fala como se tivesse saído de uma banda, e não dos seres mais poderosos do universo.

- Hailey, e você? - Morte pergunta. - Como tá o sangramento?

- Ah, ele parou. Devo me preocupar com como você soube? - Pergunto e bebo um pouco de vinho.

- Sonho é fofoqueiro. - Destruição diz. - Ele fala de você à todo segundo.

- Irmão. - Morpheus diz, impaciente.

- Quando vocês terminaram, ele veio desabafar comigo, e eu tive que me segurar para não rir. - Morte e segura a mão de Morpheus. - Foi fofo.

Solto uma risada ao imaginar a cena de Morpheus contando como se sente sobre mim para a irmã, isso seria ao mesmo tempo improvável e chocante.

Então, escuto um barulho de algo caindo. Olho para os lados e vejo que não foi só eu quem escutou: todos se levantam rapidamente da mesa, e olham para as portas de entrada da sala de jantar. Elas se abrem e eu me arrepio. Temos companhia de Desejo agora.

- Irmãos. Acho que meu convite se perdeu por aí...

Desejo olha para mim e começa a se aproximar rapidamente, com uma cauda parecida com uma de gato, levantada. Mas Destruição entra no caminho, cruza os braços e eles se encaram por muito tempo. Cinco, dez minutos. Morte perde a paciência e murmura: "chatos", e se senta novamente na mesa.

Destino, dá um passo à frente e rouba toda a atenção da sala. Morpheus anda e fica do meu lado, mas não diz anda. O mais velho dos Perpétuos não abre a boca, mas sua voz ecoa.

- Não conseguirá o que quer.

- Sabe o que eu quero, irmão? Então me fale... - Desejo entorta a cabeça para que sua orelha fique mais perto do rosto do irmão.

- Ela não é mais mortal, não atende ao seu poder.

O rosto de Desejo vai de um sorriso tranquilo à vermelho de ódio em segundos. Olha para mim, como se me desejasse. A única coisa que penso é que não sou mais mortal. Agora é oficial, mas essa escolha não parece ter sido tomada por mim, é estranho.

- Que pena. - Desejo bate palmas. - Mas ficarei para o jantar. Tenho que conhecer minha cunhada...

Morte bate na mesa, e sorrindo, para a ação de Desejo de se sentar na mesa de jantar. A morena pega em sua mão, e coloca no seu braço, andando para fora da porta.

- Vamos passear, Desejo.

Quando as portas batem, vejo as sombras de ambos desaparecer. Foram embora do Sonhar.

- Mas que merda aconteceu? - Eu exclamo.

- Nem eu sei. - Destruição se senta na mesa, normalmente, e volta à comer.

Olho para Morpheus, mas ele encara o irmão mais velho, e abre a boca duas vezes mas nenhum som faz. Percebo que ele quer fazer uma pergunta, mas está hesitando.

- Ela se tornará Paraíso, e viverá. - Morpheus respira aliviado, mas Destino continua: - Se parar de usar seu poderes em si mesma, e aceitar tudo que envolve o céu.

- Como é?

Ele pergunta, mas Destino não está mais ali, também se foi.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora