Dois meses se passaram desde que Nala morreu, e a cada dia eu tenho ficado mais triste. Sinto sua falta na faculdade, ao pintar, e ao receber uma ligação do seu chefe me oferecendo seu cargo na empresa. Nunca poderia aceitar isso, mas mesmo assim, ele me liga de dois em dois dias perguntando se eu tenho certeza da minha escolha.
Certeza. Essa é a palavra que vem me assombrando há algum tempo. Não tenho certeza se quero continuar com minha vida normal, como também não sei se aceitar Paraíso de vez é a melhor opção. Ficar na casa de Destruição pode ser perigoso, e Morpheus pode ser um erro.
Mas por outro lado, eu tenho tempo de sobra para pintar, e tenho trabalhado bastante na melodia da música que esteve na minha cabeça desde o início de tudo. Sei que a mesma tem que ser calma, mas impactante. Fecho meus olhos, imaginando um lugar sem nenhum barulho senão a melodia, o céu noturno cheio de estrelas, um vento leve bagunçando meus cabelos e preenchendo meus pulmões quando eu respiro tão fundo, prendendo um pouco a respiração. É assim que eu imagino essa música.
Anoto algumas coisas no caderno: prováveis versos. Não tenho certeza se está encaixando no que eu quero, mas fecho o caderno. Passei a tarde toda aqui, e eu realmente preciso descansar.
Saio do "quarto de arte", como apelidou Barnabas, e vou para meu quarto. Ignoro algumas roupas limpas jogadas no puff, pensando em guarda-las mais tarde. Me deito na cama, puxo a coberta, e abraço um travesseiro enquanto meus olhos vão se fechando cada vez mais.
A escuridão continua na minha visão. Por um segundo, achei que ainda estivesse acordada de olhos fechados, mas olho para baixo e vejo minhas mãos. Estou sonhando em um lugar que não existe nada.
- Morpheus? - Eu o chamo, e espero por minutos.
Tem alguma coisa errada. Eu começo a andar pela escuridão, buscando alguma coisa, qualquer coisa. Mas não há nada. Minha respiração começa a acelerar, em desespero, e eu tento acordar. Mas não funciona, então eu ergo minha mão, visando conjurar alguma energia colorida para me ajudar, mas ela também não vem.
- Merda. - Eu agito minha mão mais uma vez. - Por que não funciona, caralho?
Continuo andando, na verdade agora estou correndo. Deve ter alguma coisa aqui, pois não há um lugar vazio no Sonhar... certo? Um reino cheio de coisas, boas e ruins, teria um lugar assim? E se tivesse, o mesmo não teria limites?
- Não se preocupe, criança.
Escuto a voz de Lucifer e tento procurar o mesmo pela escuridão, MAS NÃO HÁ NADA!
- Isso já vai acabar. - Lucifer diz, com uma voz baixa que me faz quase dormir.
- Tentando me matar mais uma vez? - Eu digo.
- Não. Estou apenas usando você para conseguir o que eu quero. - Me viro para a esquerda e vejo um vislumbre de uma silhueta. Me aproximo, mas me enganei. - Vingança.
- Minha mãe te deixou puto? - Eu penso em ganhar tempo, e descobrir como sair daqui. - Quer o poder dela? Tente pegar.
- Você nem os consegue controlar, criança. Você não é uma ameaça.
- Tenta a sorte. - Eu digo e começo a andar para longe da voz.
Por vários minutos, eu consigo ignorar e fugir dos murmúrios no escuro. Mas a voz de Lucifer me atinge novamente, gritando:
- NINGUÉM! VOCÊ NÃO TEM NINGUÉM!
Meus olhos se enchem de lágrimas mas eu continuo andando, com passos largos e apressados. Lucifer grita novamente, e eu escuto um barulho de algo caindo. Ao olhar para trás, percebo que o chão que acabei de pisar está desmoronando. Dou um passo para trás quando a rachadura quase acerta meu tênis.
O desmoronamento é tão rápido quanto eu. Corri por muito tempo, não me sentindo cansada em nenhum momento, e então eu vejo um objeto na minha frente. Quando eu percebo o que é, os barulhos param. Olho para um pincel de madeira escura caído no chão, me agacho e pego o mesmo. Não está molhado de tinta, mas parece ter sido mergulhado na água.
Sinto duas mãos nos meus ombros, e me assusto. No reflexo, fecho meus olhos, mas os abro imediatamente. Estou em outro lugar, familiar. Uma colina no Sonhar. Na minha frente, há uma tela quase em branco, e minha mão direita sobe para a mesma, pintando asas negras em um corpo estranho, não humano. Eu estou pintando Lucifer.
- Hailey? - Morpheus aparece no canto da minha visão, assustado.
Minha boca não abre, não consigo falar e isso me deixa desesperada. Minha mão direita treme mas ainda continua pintando, contra a minha vontade. Atrás do quadro, uma asa surge meio deformada, e então eu entendo: Lucifer está me usando para imvadir o Sonhar e destruir tudo.
- Hailey me escuta, para com isso. - Morpheus segura a minha mão que pinta, mas a outra segura seu pescoço, apertando. Não consigo parar de fazer força contra ele. - Lucifer vai ganhar se continuar! Para!
Ele coloca a mão no meu braço e tenta tira-lo, enquanto eu continuo pintando. Faço tudo para parar, mas a força é inútil, meus olhos se enchem de lágrimas e elas começam a cair. Eu não quero isso! Tento buscar a energia dentro de mim, mas ela não aparece.
Escuto passos atrás de mim, mas não posso olhar para ver quem é. A segunda asa aparece na nossa frente, e Morpheus consegue tirar minha mão de seu pescoço. Ele olha para trás e acena positivo com a cabeça, mas diz para alguém esperar.
- Por favor... para... - Ele diz baixo.
Eu preciso parar! Mas como? Não controlo meu próprio corpo e meus poderes não querem me ajudar! Forço a mão no pincel para tentar quebra-lo, minha mão fica roxa da força mas ele mesmo não quebra. Não consigo fazer isso sozinha, e Morpheus está esperando. Esperando que eu consiga me soltar sozinha? Deve ser.
Junto as forças e tento olhar para ele, rapidamente meu olho obedece, nosso contato dura um segundo, e eu espero que ele entenda que eu não consigo. Ele olha para minha mão pintando, e a toca, forçando ela a parar. Funciona.
E então uma energia azul forma um escudo em minha volta e do quadro, e joga Morpheus para longe. Alguém grita atrás de mim, e minha mão acelera os movimentos no quadro: as pernas de Lucifer aparecem. Falta pouco para ele vencer.
O escudo desaparece, eu consigo ver Morpheus se levantar e correr na minha direção. Seus olhos estão vermelhos de ódio, sinto que não é de mim. Ele ignora o fato de que meu poder pode machuca-lo, e coloca as mãos no meu rosto. Fazendo com que eu o olhe, e não continue pintando um quadro que não vejo mais.
Ele apenas me encara, meus olhos ainda cheio de lágrimas e meu corpo tremendo. Minha mão esquerda o acerta com um soco no rosto, ele vira o rosto mas volta a me olhar. Ele está comigo. Preciso acabar com essa bosta de entidade infernal!
Fecho meus olhos e volto ao lugar escuro, mas agora Lucifer está na minha frente, engolindo seco enquanto mantém seu nariz em pé.
- Você perdeu. - Eu digo. - Tentou matar Paraíso e isso não deu em nada.
- Por hora te deixarei viver. - Lucifer diz e da um passo à frente. - Aproveite bem seus últimos dias, criança.
- Eu te deixarei ir sem se machucar. - Eu interrompo. - Sabe que tenho mais poder que você, não sabe? As almas querem ir para um lugar melhor, para o céu. Você só tem o resto das almas que não consegue isso, só os fracassados. - Eu dou um passo a frente, ficando a menos de 10 centímetros da entidade. - Eu sou Paraíso, agora. Não pode me matar.
Minha pele arde, e eu brilho. Lucifer tenta manter os olhos abertos mas os mesmo se enchem de lágrimas por causa da claridade. Todas as cores que imagino estão na minha pele.
- E se tentar, eu acabo com você.
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PARADISE ༅ Tʜᴇ Sᴀɴᴅᴍᴀɴ
Fanfic༄ 𝗣𝗔𝗥𝗔𝗜́𝗦𝗢 - 𝗹𝘂𝗴𝗮𝗿 𝗾𝘂𝗲 𝗿𝗲𝗶𝗻𝗮 𝗮 𝗳𝗲𝗹𝗶𝗰𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲. 𝙦𝙪𝙖𝙣𝙙𝙤 𝙚𝙧𝙖 𝙖𝙥𝙚𝙣𝙖𝙨 𝙪𝙢𝙖 𝙘𝙧𝙞𝙖𝙣𝙘̧𝙖, 𝙃𝙖𝙞𝙡𝙚𝙮 𝙨𝙤𝙣𝙝𝙤𝙪. 𝙨𝙤𝙣𝙝𝙤𝙪 𝙘𝙤𝙢 𝙪𝙢𝙖 𝙫𝙞𝙙𝙖 𝙙𝙞𝙛𝙚𝙧𝙚𝙣𝙩𝙚, 𝙨𝙤𝙣𝙝𝙤𝙪 𝙘𝙤𝙢 𝙪𝙢 𝙧𝙚𝙛�...