chapter 𓄿 twenty- two

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- Como eu disse, falei com meu irmão. - Morpheus diz enquanto caminhamos por um parque perto do meu apartamento. Está frio, e eu visto um casaco preto por cima das calças e da blusa cinzas. Estaríamos combinando, se não fosse pelo meu cachecol vermelho. - Depois de muito discutir, - Ele faz uma pausa. - Ele disse que pode "dar uma olhada" em você.

- E o que significa isso? Vou jantar com um Pérpetuo?

- Isso é uma boa ideia, mas ele visitará o Sonhar hoje à noite, e você pintará como da outra vez. Pode ser qualquer coisa. Você é criativa, vai achar algo para pintar.

- Obrigada pelo elogio. - Sorrio. - Mas porquê você procurou ele mesmo?

- Arte é importante para ele agora.

Ao nosso redor, as pessoas estão curtindo um pouco de sol que aparece por detrás das nuvens de chuva, e todas elas vestem casacos com pelos, algumas meninas até dividem um cobertor. Olho para os lados e percebo que eles não ligam para nós, mesmo que Morpheus seja um Perpétio, sei que não faz sentido mas acho estranho as pessoas não notarem que essas coisas místicas e magia acontecem.

- Ele não tem um talento tão bom quanto o seu, mas dá para o gasto. - Ele diz sorrindo.

- Já é a segunda vez que você me enaltece em dez minutos. O que você quer?

- Como acha que eu quero alguma coisa? - Ele aperta meu braço que está apoiado no seu. - As coisas estão se alinhando, não tenho que me preocupar com os fatos estranhos que aconteceram, pois eu já tenho as respostas. E você parou de surtar, quer dizer, está tentando não surtar com tudo.

- Eu não surto, ok? É só que coisas acontecem comigo do nada e eu me assusto.

- Eu sei, estou brincando.

Chegamos em um banco no parque, e Morpheus me puxa para sentarmos ali. Ele passa o braço direito por mim e começa a observar as pessoas, já eu, olho para ele. Seus olhos azuis saltam entre as pessoas, e eu imagino se ele sabe o nome de cada uma delas, o que eles sonhos e quais são seus piores pesadelos.

Ficamos ali a tarde toda, às vezes conversando sobre a faculdade, ou alguém que passou. Não quero falar sobre meus poderes e em nada que envolva Paraíso, e sei que ele entendeu o recado. Quero adiar essa conversa o máximo que puder.

...

Minhas mão soam, e eu tento olhar para a paisagem: as sombras que se formam porque o sol está abaixando atrás de uma montanha do meu lado direito. Mas nada faz com que eu me sinta menos ansiosa.

Dessa vez, estou no Sonhar mas sinto minha perna física tremer na cama. Tento não transparecer que estou nervosa mas é impossível. Vou conhecer outro Perpétuo, e somente as palavras da minha mãe aparecem na minha cabeça: Não o deixe te influenciar! Todos os Perpétuos não ligam para o resto! Eles vivem brigando entre si e machucando tudo e todos em sua volta, o que me faz te lembrar novamente: Não deva nada para um Perpétuo.

Se Destruição me ajudar, vou estar em dívida com ele. E isso sem contar Morpheus.

Cabelos ruivos emergem no horizonte, e Destruição aparece. Seu rosto é robusto, possuindo uma grande barba grossa e também ruiva. Seu corpo é muito musculoso, e grande. Ele me dá medo. Destruição carrega uma mochila azul, que entra em contraste com as roupas marrons e uma bota típica de lenhadores. Ele fica próximo de mim e Morpheus, joga a mochila do chão enquanto me encara.

- Faça.

Faça? Faça o que? Eu olho para Morpheus e ele acena positivo. Ah! Sim! Eu me viro e busco o pincel, me sento no banquinho e olho para a tela em branco. Esqueço completamente o que eu tinha planejado desenhar, o que era mesmo? Droga! Escuto suspiros impacientes atrás de mim, e olho de canto para Morpheus. É muita pressão fazer algo com duas pessoas te encarando e duvidando da sua capacidade!

Tento respirar, fundo e fecho meus olhos pensando em alguma coisa que vá surpreender, como um monumento histórico de um deus. Faço um traço na tela com tinta preta, e nada acontece. Mas esse traço vai ganhando forma quando eu começo a engrossa-lo.

Misturo com o mesmo pincel o amarelo e laranja, fazendo um degrade das cores por cima do preto, dando uma impressão que a lâmina reflete um pôr-do-sol. Sim, agora eu vejo, é uma espada, o símbolo de Destruição. No fundo, tento mexer o menos possível, mas no final, começo a jogar cores aleatórias, formando uma nuvem colorida. Então reforço a lâmina com as suas cores, e por último eu faço o cabo.

Misturo uma tinta prateada com amarelo, e o cabo fica dourado. Faço detalhes vermelhos, como se ali refletisse mais o sol. Minha mão dói pela pressa que fiz isso, e eu me sinto esgotada, me levanto num susto e derrubo o banquinho. Vou andando para trás até que Morpheus me para, segurando meus braços enquanto estou de costas para ele e olha para frente, de onde surge uma nuvem colorida, e uma espada.

Destruição anda até o quadro, e meu coração dispara. Minhas pernas tremem e eu fecho os olhos sentindo minha pressão baixar. Então sinto Morpheus beijar minha bochecha esquerda e sussurrar:

- Acorda.

Finalmente eu consigo respirar, e acordo no meu quarto sozinha. Está amanhecendo, busco meu celular na mesinha e vejo que são 6 da manhã. Me levanto e troco de roupa, colocando um conjunto de moletom preto porque está fazendo muito frio!

Vou para a cozinha e preparo um café da manhã: cappuccino, panquecas com mel e uma maça picada. Escuto a porta do quarto de Nala abrir, e a vejo chegando com a cara amassada.

- Dormiu muito? - Eu pergunto.

- Muito mesmo. Faz um café igual para mim. - Ela pede, e eu entrego o que eu fiz para ela e começo a cozinhar outro. - Sonhei que tinha batido o carro.

- Credo, Nala!

- É sério, e meu chefe ficou puto da vida, falando que eu ia pagar. Foi muito estranho, eu simplesmente sai andando do carro quando ele bateu em algo. - Ela abre a boca de sono. - E a Zendaya estava lá, querendo falar comigo.

- Então não foi um pesadelo ruim.

- Que nada! Ela ofereceu pagar a conta para o meu chefe se eu concordasse em viajar com ela para a Indonésia.

Rimos, e finalmente acabo de fazer minha comida. Me sento em sua frente, me perguntando se devo contar o que acabou de acontecer com Destruição e a pintura. Ela começa a falar de seu trabalho, como não fazia há um tempo, e eu percebo que se eu falar disso agora, ela vai parar de falar comigo. Sinto falta dessa proximidade, então eu dou continuidade ao assunto.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora