chapter 𓄿 fourteen

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Subimos a escada do apartamento em silêncio, eu vou na frente com a chave na mão. Depois de destrancar, eu deixo Morpheus passar na frente, e então fecho a porta. Escoro minha testa na parede para tentar respirar, mas a bebida parece estar ainda subindo. Respiro fundo, e penso sobre o que falar.

- A taxista sabia meu endereço?

- Disse para ela ficar esperando que eu ia buscar alguém lá dentro. - Ele diz atrás de mim. - Temos que falar sobre o que eu descobri.

- Shhhh... - Eu peço para ele se calar. No mesmo momento eu me viro, meio tonta. - Vou tomar um banho.

Eu cambaleio até o banheiro, percebendo que Morpheus está me olhando bravo e preocupado. Não sei como ele consegue ter esses olhares, sendo que são enigmáticos à todo segundo.

Eu fecho a porta e começo a tirar a minha roupa, e logo quando estou pelada, eu já entro no chuveiro. A água está fria mas eu não consigo mudar a temperatura nem se quisesse, porque eu deixo o frio tocar minhas costas enquanto abaixo minha cabeça olhando para o ralo.

Escuto a cortina do banheiro se abrindo e olho para trás, quase escorregando no piso. Vejo Morpheus, sem o casaco por cima e sem suas botas, ele coloca uma mão nas minhas costas para me segurar, e eleva a outra para mudar a temperatura do chuveiro.

Eu não me lembro exatamente o que aconteceu depois disso, mas sei que Morpheus me ajudou à me vestir com um pijama e me colocou na cama. Eu pisco meus olhos vendo ele depositar um beijo em minha testa, e então se afastar.

Demoro muito para sonhar, e sinto meu corpo tão pesado que eu simplesmente apago. Mas eu finalmente entro no reino dele, e estou em um quarto. É estranho, pois é literalmente um quarto vazio, com tons de cinza, com uma cama de casal. Do meu lado esquerdo, há uma janela que toma toda a parede. Então eu empurro os lençóis, e desço da cama, indo até a ponta do lugar e percebo que não há vidro. Me aproximo mais e e olho para baixo, encontrando um imenso penhasco que não sei quantos metros, mas não há chão que eu possa ver.

Perco a respiração, e ando para trás alguns centímetros antes de esbarrar em alguém que me segura e me empurra para o lugar. Mas sinto que ela me puxa para mais longe, e eu me viro vendo Morpheus. Ele olha para a névoa e depois diz sem olhar para mim:

- Se caísse no vazio, seu corpo acordaria mas ficaria paralisada porque sua mente ficaria presa ali.

- Por que tem um lugar desses do lado do seu quarto, então? - Ele me olha, como se dissesse: Como sabe que é meu quarto? - Está na cara que é o seu, olha não tem nada legal aqui. As paredes são cinzas, e há uma cama confortável.

- Eu venho aqui para descansar, de tempos em tempos.

- E o penhasco vazio e sombrio? Sua cara, aliás.

- Eu só deixei uma coisa cair ali, e nunca mais vi. - Ele começa a se afastar e se senta na cama. - Você bebeu muito. - Ele olha para as mãos, um gesto que eu nunca o vi fazer.

- Fazia tempo que eu não me divertia assim. E ultimamente, eu tenho bons motivos para esquecer por alguns minutos. - Digo e olho para ele.

- Esquecer? - Ele solta um riso seco, e reviro os olhos.

- Não você. Lucifer, e toda a merda com Kayke... - Eu vou até ele e fico em sua frente. - Foi isso que eu quis dizer.

Ele força um sorriso de canto e me olha, finalmente, e eu percebo o quão azul seus olhos são. Droga, a cada segundo que estamos juntos eu me sinto mais ligada com ele. Eu tusso, disfarçando meus pensamentos.

- Você descobriu umas coisas, você disse? Quer falar sobre isso? - Eu pergunto e ele fica em pé.

- Agora não.

Ele segura meu rosto com as duas mãos e me puxa até tocarmos nossos lábios. Então sua língua entra na minha boca e eu seguro seus braços, apertando a cada vez que sentia um frio na barriga. Ele passa os beijos para meu pescoço e eu começo a sentir uma de suas mãos tocando minha bunda. Mas não é real, é um sonho.

Eu acordo. Porra, merda. Morpheus, eu juro que no fundo eu te odeio.

Fico sentada na cama e tiro a coberta de mim, olhando para baixo e percebendo uma umidade entre minhas pernas. A porta se abre num estrondo e eu me assusto, mas é só Nala sorrindo bêbada olhando para mim.

- Você tá... se... tocando? - Ela ri.

- Eu não! Mas que droga! - Eu fico em pé e vou até a porta, segurando a mesma e fechando. Me sinto tonta e com vontade de vomitar.

- Ha, disso ele vai gostar. - Ela pisca para mim. - Ele gosta de você aliás?

- Você e suas ideias vindas do nada! - Eu digo e empurro a porta, mas ela firma. Nala é mais forte do que eu e mantém a porta aberta.

- Ele perguntou se você estava saindo com alguém. - Nala solta uma risada, e se afasta indo para seu quarto. - E eu disse que não!

- Mas eu não estou! - Eu grito e bato a porta.

...

À tarde, eu comprei uma nova tela, e repus o estoque de tintas. Então eu respiro fundo e coloco uma música instrumental para tocar. Começo com um azul escuro, pintando as bordas em volta de um círculo não certinho. Depois faço um degrade com tons de azul mais claros, e vejo que está tomando uma forma de fumaça.

Não sei de onde vem a inspiração, só sei que toda vez que eu pinto é como ser teletransportada para um lugar só meu.

Pego um pincel mais fino e começo a fazer traços no meio da pintura. A música agora é calma, e no ritmo eu pinto.

Eu termino, e me afasto para olhar. Viro a cabeça para a esquerda e vejo que falta algo, então pego um pouco de branco e azul e misturo, e com a ponta do pincel mais fino que eu tenho, faço dois pontos no negro. Azul, como os olhos dele.

Me afasto novamente e vejo a minha mais nova pintura favorita. A sombra de um homem, mais alto e de cabelos arrepiados, com dois pontos azuis onde deveriam ser seus olhos. Outra coisa ali era a sombra de uma mulher, com um vestido que se mistura com toda a fumaça em sua volta. Eles dançam, juntos.

- Deveria vender. - Eu olho para o lado e vejo Matthew. - Daria um sofá novo para vocês.

- Eu amo aquele sofá! - Eu tiro os fones. - Sabe onde ele está? - Eu penso em como ele me deixou, e quero me vingar.

- Ahm, ele está resolvendo coisas.

O tom de Matthew é como se quisesse trocar de assunto, então eu me viro para o quadro e assino. É, talvez eu devesse vender esse quadro mesmo.

Depois de fazer tudo que tinha que fazer na casa, e estudar um pouco mais, vou para a sala e aproveito a noite de domingo com um filme de romance. Não sei o nome, mas a moça morena chora ao ver seu amor, um homem transgênero, morrer com uma facada do próprio pai. Eu choro, não pouco, e Nala vê tudo da cozinha.

- Mas que droga! Eu odeio filme de romance!

- Então para de assistir. - Ela diz alto e volta para o sofá com dois sanduíches. - Eu vi o quadro, você deveria vender.

- Nossa ficou tão bom assim? - Eu pergunto orgulhosa. - Talvez devesse mesmo, já que estou sem emprego.

- Como? Você foi mandada embora?

Eu falei de mais. Eu rio tentando disfarçar.

- Eu te disse que aquele Kayke ia te humilhar! Homem vagabundo!

- É, vagabundo... - Eu tusso pensando que ele está morto. - Mas eu vou vender o quadro.

- Duvido! - Nala morde o sanduíche e fala de boca cheia: - Você nunca vende sua arte.

Pego meu celular e abro num aplicativo de venda, anuncio o quadro com uma foto que tirei do mesmo, e mostro para ela. Nala sorri e acena com a cabeça, terminando de comer seu sanduíche.

O dia termina com nós duas escolhendo qual filme de Jogos Vorazes assistir, e como Nala não aceita perder, assistimos Em Chamas.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora