chapter 𓄿 sixteen

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Helena sempre foi mais do que minha mãe, ela era minha melhor amiga, confidente e meu anjo da guarda. Ela me ajudava na escola, pois tinha muita dificuldade de aprendizagem. Nunca fiz muitos amigos enquanto era criança, elas diziam que eu era esquisita de mais, mas ela, mãe, dizia que eu era única.

No fundo, acho que ela entendia. Ela nunca conheceu os pais biológicos, e passou a vida num orfanato, dividindo quarto com outras sete garotas. Não me lembro de seus nomes, mas uma delas apresentou meu pai para ela. Foi amor à primeira vista, e depois de cinco anos, eles casaram.

Não me imagino casada aos vinte e um, mas sempre achei lindo a maneira que os dois sempre diziam que se amavam. E dói me lembrar disso, pois a última conversa que tive com eles foi sobre isso.

- Minha mãe não era escritora. - Digo para Lucienne, depois de minutos calada olhando para o livro. - Nunca a vi fazer nada do tipo.

- Isso pode ser algo, Hailey. Ela pode ter escrito isso antes de você, não?

- É. Eu posso ler? - Olho para a mulher, pedindo.

- É seu direito ler isso. Mas não pode levar para a realidade, eu temo.

Eu me esqueço de que há várias paredes entre o mundo desperto e o Sonhar. Fico ainda mais decepcionada, respiro fundo e fecho o livro nas minhas mãos. Penso rapidamente como Morpheus é poderoso, e ele poderia me dar esse livro na vida real, se quisesse. Mas ele não está aqui, não está em lugar nenhum.

- Lucienne, onde está Mor...

Eu acordo na mesma hora, muito brava por não ter feito a pergunta que me assombra há dias. Mas aonde o idiota está?

Me arrumo vestindo um jardineira jeans, e uma blusa vermelha de manga cumprida, e coloco um all-star preto. Tenho que ir para a faculdade, fazer um trabalho para variar. Me sinto cansada, extremamente cansada, mas talvez isso pode me distrair um pouco.

Quando saímos do apartamento, Nala e eu descemos rapidamente pelas escadas mas não falamos muito, eu nem tento puxar assunto porque tudo que me vem na cabeça são assuntos de coisas que ela não entende. Lucifer, livro, Morpheus, paraíso.

Ao passar pela mesma rua que o Café, eu me pego olhando para o lugar com certo medo. Medo dos corpos que estão lá, medo do que Lucifer fez com duas pessoas, e possivelmente, o que fará com outras. Olho para Nala e ela também está olhando para onde eu trabalhava, mas murmura um "idiota".

Nala volta a andar, e eu demoro um pouco para segui-la, mas quando faço, ela me chama a atenção.

- Hailey, tem policiais lá dentro.

- Que? - Digo confusa.

- Olha.

Ela aponta para o Café, onde agora param duas viaturas policiais. Lá de dentro, uma mulher policial chega trazendo notícias, e anuncia alguma coisa no rádio comunicador. Eu olho para Nala, pensando em se devo contar à ela, mas a ruiva apenas sai andando como se não ligasse.

Tudo isso me deixa ansiosa, preocupada e com mais medo. Se Morpheus estivesse aqui, podia lidar com a situação. Como? Não sei, mas ele com certeza afastou a polícia de lá por algum tempo.

Ver que eles chegaram no Café, me deixa ainda mais apreensiva ainda, pois ele não está aqui.

Chegamos na faculdade, e eu me sento sem animação no meu lugar. Nala e Sophie conversam sobre o trabalho, e às vezes eu dou um palpite, mas meu corpo se sente tão cansado que eu não consigo fazer mais nada além de apenas respirar. A ruiva começa a digitar nosso trabalho, mas Sophie troca olhares comigo, parece que está tentando me perguntar algo. Mas eu apenas olho para o caderno e penso em nada.

- Ok, você tem anotado... - Nala olha para mim. - Alô? Hailey, Terra chamando...

- Desculpa, pode repetir?

- Ok. Me passa suas anotações da aula anterior, eu quero checar umas coisas. E aí nosso trabalho estará pronto.

- Pera, mas já? - Eu olho no final da tela e vejo: 6.034 palavras. Elas fizeram sem mim.

Entrego minhas anotações, e tento ajudar no que posso. Nala e Sophie trocam olhares, mas eu ignoro e tento formatar o trabalho nas regras certas.

- Hailey, estão te chamando na secretaria. - Um aluno que conheço me chama, e eu fico assustada.

Será que são os policiais? Eles poderiam me prender?

- Vai lá, a gente termina aqui. - Nala diz.

Eu pego minhas coisas e deixo a sala enquanto mexo nas minhas unhas. Uma delas quebra, e eu começo a mexer em outra. Pensa, Hailey, pensa! Se os policiais perguntarem, o que você irá dizer?

Posso dizer o mesmo que a conclusão de Nala, de que fui despedida. Mas isso traria alguma suspeita contra mim? A empregada que foi demitida e matou o gerente. Mas e o professor da faculdade? Se verem minhas notas, que são altas nessa matéria, não tirariam meu nome da lista de suspeitos?

Quando chego no lugar, encontro a velha secretaria vazia. Respiro aliviada, colocando a mão no peito e sentindo ódio por ter quebrado minhas unhas. Vou até a mulher que estava de frente ao computador, e pergunto se mandou me chamar.

- Hm. - Ela resmunga. - Preciso que confirme sua identidade.

- Só... isso? - Eu digo tudo para ela, e sorrio aliviada. A mulher, por outro lado, revira os olhos e murmura um "obrigada".

Me viro para o lado, guardando minha identidade na bolsa, e vejo Sophie se aproximando. Digamos que eu fiquei um pouco nervosa, pelo jeito que ela veio saltitante para meu lado.

- Vim ver se você estava bem, parecia meio... "no mundo da lua". - Ela diz e para na minha frente.

- Estou bem, só cansada. Terminaram o trabalho?

- Deixei Nala corrigindo algumas coisas, sabe como ela fica nervosa com isso. - Ela olha para os lados e sussurra. - Ela vai demorar, podemos ficar aqui de fora mais um pouco.

Eu sorrio, e aceito a mão dela quando Sophie oferece. Vamos andando juntas até onde ficavam algumas lanchonetes, do lado da faculdade. Sentamos em uma mesa, e eu peço um cappuccino de chocolate. Ela, não pede nada além de um copo de água.

- Então, por que está cansada?

- Ahm... - Pelo simples fato de que cada dia minha vida fica mais confusa? - Eu não tenho dormido muito bem, e achei umas coisas da minha mãe que não sabia que ela tinha.

- Ah. Se você quiser, eu tenho remédio para dormir. É natural, e é bom. Você nem vai sonhar, só dormir.

- Seria bom. - Eu rio, e imagino como seria não sonhar. - Falando nisso, tipo... você sonha?

- Como é?

Eu tomo um pouco do meu cappuccino, tentando formular uma pergunta mais clara.

- Você costuma sonhar? Tipo, todos os dias ou, não sei?

- Raramente eu sonho de verdade, sabe? Aqueles sonhos que você sente. Mas eu costumo me imaginar como namorada da Zendaya antes de dormir. - Ela diz rindo, e eu também. - É sério!

- Justo, ela é extremamente atraente.

Sophie me lança um olhar e eu sei o que ela quis dizer com isso. Quando falei "atraente", ela levantou uma sobrancelha, e eu sorri boba. Fico brava comigo mesma, e termino minha bebida.

- Temos que voltar, não? Nala deve estar... preocupada. - Eu me levanto. - Vou pagar a conta e te encontro na sala.

Eu saio meio que correndo para o caixa e desejo que ela não venha atrás de min. Pago a conta e percebo que ela não está mais ali, mas escuto um ruído, vindo de cima de uma árvore. Levanto meu olhar até a mesma e vejo um corvo, Matthew, me observando.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora