chapter 𓄿 twenty- four

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Me levanto da cama empurrando a coberta, o sol bate no meu rosto e eu fecho meus olhos por causa da claridade que incomoda. Passo a mão pelos meus cabelos loiros, jogando eles para trás e cruzo os braços.

Ele seria capaz de fazer isso novamente? Manipular uma "mortal" assim? Porra! Minha mãe me avisou, e eu cai que nem um patinho! Eu sou uma idiota por achar que as palavras dela poderiam estar erradas, porque ela não entendia como eu estava apaixonada por ele...

Eu considerei pedir a Lucifer para conversar com Nada, já que ela estava no Inferno. Mas se vou ficar distante dos Perpétuos, devo ficar longe de Lucifer também. Preciso fazer isso, por Nala. Por Sophie, quem já morreu.

Um pensamento me vem na cabeça e eu levo a mão na boca, pois eu tomei um susto com ele. E se não foi Lucifer quem matou meus pais? E se Sonho não perdeu suas memórias e matou minha mãe porque ela o enganou?

Era tudo mentira.

...

Fiquei o dia inteiro no quarto, pensando seriamente em pedir para Matthew (quem está na árvore do outro lado da rua) para chamar Morpheus e acabar logo com isso. Mas eu quero que ele venha até mim, procure saber o que aconteceu, pois novamente Lucifer se projetou em meus sonhos, entrando no reino dele.

Nala saiu de casa para buscar algumas coisas no escritório do chefe dela, e disse que traria o jantar. Eu não neguei a vontade de ficar sozinha, e disse que iria conversar com Morpheus ainda hoje. Minha amiga disse que demoraria ainda mais para nos dar tempo.

Mas o problema é que ele não apareceu nas últimas três horas que estou sozinha. E eu, ainda, nego em dormir e falar com ele. Então, quando eu menos espero, Morpheus está parado em pé na sombra que se forma no corredor, vejo ele pois estou sentada na sala. Ele tem a pior expressão de todas para esse momento: saudades. Eu sinto isso no olhar dele, e quero socar sua cara.

- Ficou acordada a noite toda? - Ele pergunta, e eu percebo que ele não notou. Será que ele mesmo foi quem deixou Lucifer entrar no Sonhar?

- Eu dormi.

Morpheus assente e da alguns passos para frente, mas antes que ele fique muito próximo do sofá em que eu estou sentada, eu começo a falar.

- Lucifer me contou sobre Nada.

- O que? - Sua voz soa baixa, e eu fico muito brava por ele nem saber de nada!

- Você acabou com a família dela, com a vida dela, por causa de um "não"?

- Lucifer invadiu o Sonhar e você nem me procurou? - Ele me ignora. - Você tem alguma noção do que poderia ter acontecido?

- Não, Morpheus, eu não tenho! Eu não sabia de nada, inclusive de que Perpétuos não podem se envolver com mortais!

- E você acha que eu não sei disso? - Eu o xingo mentalmente.

- Você matou meus pais?

Agora, ele fica em silêncio. Eu me levanto do sofá, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas que brigavam contra mim, pois elas queriam sair e eu dizia não. Jogo a almofada no chão, pensando no que isso vai dar.

- Foi isso que Lucifer disse? Que fui eu?

- Lucifer me contou tudo sobre Nada, e como você já havia desgraçado a vida dela porque ela te negou.

- Com certeza Lucifer não contou a verdadeira história.

Eu respiro fundo e começo a repetir a história que escutei, e não me surpreendo quando Morpheus olha para o chão, culpado. Minhas mãos tremem ao pensar que se ele for o responsável pela morte de meus pais, eu posso tentar confronta-lo com meu poder.

- Fala a verdade, é só isso que eu estou pedindo. - Eu falo num tom bravo. - Você acabou com a vida dela porque ela não te aceitou?

- Ela me humilhou. Sabia dos perigos e mesmo assim fez de tudo e foi ao meu encontro. - Ele sobe o olhar até mim. - É totalmente diferente de nós...

- Ah, é? - Eu interrompo. - Então, não faz sentido você matar minha mãe? Se ela estivesse viva ela nunca deixaria nenhum bosta de Perpétuo chegar perto de mim! Ela me avisou para ficar longe de todos vocês! Se você não tivesse aparecido em meus sonhos, eu poderia estar vivendo minha vida normalmente!

- E quanto a Lucifer? Não acha que teria te matado a muito tempo? Eu te protegi!

- Mas eu não preciso mais de sua "proteção".

Eu faço as aspas com as mãos. Ficamos em silêncio por segundos e eu penso na minha decisão, e confirmo que é o que farei agora.

- Se eu consegui salvar você dos servos de Lucifer, consigo me proteger. Me proteger de vocês dois, e de todos os outros. - Eu tento respirar fundo para me acalmar. - Se Nada disse não e você não conseguiu aceitar, tenha palavra e aceite o meu.

- Hailey. - Ele me chama e dá um passo para frente.

- Não.

Ele dá mais um passo e eu sinto o poder em minhas mãos, brilhando em vermelho. A cor de ataque. Mesmo que derrube meu apartamento, ela deixará bem claro minha decisão.

- Eu não quero nunca mais ver você, ou perceber que Matthew está me espionando, não quero que você não fale nunca mais com Nala. Ela é a única coisa que eu tenho. - Não chore.

- Ou o que? - Eu não consigo sentir um tom de deboche, ele soou natural.

- Eu entrego meu poder para Lucifer. Sei que isso destruiria tudo.

Morpheus fecha a cara, e me olha como se fossemos inimigos. Talvez é o que somos agora, mas quando ele dá mais um passo e fica a um metro de mim, ele me olha como se perguntasse: Tem certeza? Sim eu tenho, respondo mentalmente. Ele começa a se afastar, andando de costas, ainda me olhando.

Preciso deixar claro o que escolhi, eu sei disso. Ele não negou a morte de meus pais, e se ele me tirar Nala?

A energia vermelha vai na direção dele, quando minha mão assume o controle e arremessa. Morpheus se defende com a capa, e quando a energia se desfaz, vejo que a mesma agora está com um furo. Ele volta a me olhar, vejo que o rubi está brilhando em seu peito, e ele está com a areia na mão.

Mesmo com os olhos cheios de lágrimas, ele derrama um pouco de areia, e uma nuvem da mesma o leva, em um redemoinho, e Morpheus desaparece.

Agora, eu noto, que nunca tinha visto ele ir embora, de fato.  Toda vez, ele some por uma porta, ou algo assim. O motivo dói, e nem sei se é a verdade.

Ele nunca quis que eu o visse partindo.

...

Nala chega em casa com uma caixa de pizza, e eu ligo a televisão para assistir à algum filme. No meu inconsciente, escuto uma melodia que eu poderia facilmente reproduzir em um piano.

Eu pego o controle da televisão e aumento o volume, pois tenho que esquecer essa melodia o mais rápido possível.

- Aqui! - Nala me entrega um pedaço de pizza.

O sabor do pepperoni está forte, do jeito que eu gosto. E é somente nisso que eu me foco, em coisas simples, normais...

No fim da noite, eu faço uma promessa à mim mesma antes de dormir. Não vou usar mais meus poderes se não for necessário. Não vou mais pensar em Morpheus. Não vou mais sonhar.

PARADISE  ༅ Tʜᴇ SᴀɴᴅᴍᴀɴOnde histórias criam vida. Descubra agora