Máscara

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Eu toquei a campainha de Stardust Hall às oito da noite, eu havia pegado o trem com Marlene e Lily e um carro do Ministério da Magia fora me buscar na Estação King's Cross à mando do meu pai.

Eu tinha os olhos marejados e a cabeça baixa, eu odiava voltar para casa, e odiava ainda ter que contar a verdade sobre quem eu era para o meu pai.

Eu havia decidido meses atrás que contaria a verdade sobre mim para o meu pai, sem mais mentiras. Ele saberia sobre minhas aulas de Estudos Trouxas, meus amigos mestiços, e acima de tudo, saberia que eu não era uma supremacista.

Naquela noite, Rolf Greeney saberia que a filha dele era de verdade, e eu com certeza não era uma supremacista de sangue.

Mas minha cabeça não pesava apenas com isso, meu último mês do quinto ano em Hogwarts havia sido o mais difícil de todos.

Eu sentia a pior dor de todas quando via Sirius pelos corredores, na biblioteca ou até mesmo nos ensaios da banda. O fato de ele não ter admitido que gostava de mim havia me deixado tão magoada que eu não era capaz nem de olhar em seus olhos novamente.

Não fui capaz de trocar nenhuma palavra com Sirius nas últimas semanas na Escola de Magia e Bruxaria, e mesmo que eu não demonstrasse estar chateada, todos sabiam que eu estava.

E estar na minha casa me fazia ter ainda mais dores de estômago.

Eu esperei Weeze, nossa elfa doméstica, abrir a porta com um sorriso como ela fazia durante todas as férias, ela era a única com quem eu conversava naquele lugar, mas a porta abriu sozinha com um rangido horrível.

–Weeze?- eu chamei assim que entrei no lugar escuro e frio.

O vento que vinha do lado de fora fazia as janelas apitarem, eu nunca havia visto aquela casa tão escura e abandonada, até eu perceber uma luz fraca vinda da sala de estar.

– Boa noite, querida.- a voz rouca fez eu prender minha respiração instantaneamente, o medo se espalhou por mim, afinal meu pai nunca estava em casa para me recepcionar, ainda mais me chamando de querida.

– Boa noite, pai.- minha voz falhou, fui tudo que eu consegui dizer.

Então eu vi, a máscara prateada em sua mão fez um filme passar em minha cabeça.

"Ataques aos nascidos trouxas crescem 80% no último mês, diz estatísticas." Foi a notícia que Lily leu no caminho para Londres, e as imagens que vieram a seguir, a máscara e o símbolo dos Comensais da Morte.

Eu dei dois passos para trás antes de bater em um móvel e ouvir a cruel risada do patriarca, eu estremeci.

– Não precisa ter medo, Mary Anne, afinal o nosso sangue é tão puro quanto deve ser.- ele se levantou andando até mim.- Já pensou no poder que você pode ter se aceitar a Marca Negra?

Eu vi meu pai levantar a manga da camisa revelando a marca e me olhar com os olhos tão perversos quanto ele mesmo. Eu tive medo do que poderia acontecer comigo se eu dissesse a ele tudo que eu pretendia dizer, afinal aquele homem não era mais meu pai, ele era um Comensal da Morte.

– Estive pensando, Mary Anne, eu e o Lorde das Trevas...- ele se aproximava mais a cada palavra, soava como um louco.- Precisamos de aliados como você, jovens que levarão nossos valores a diante.

– P-pai, eu nao acho que eu sou a pessoa certa para isso.- falei vendo o homem pegar a varinha, meu olhos marejaram.

– Desculpe, filha, você não tem escolha.- ele falou firme prestes a me lançar um feitiço, mas eu fui mais rápida.

Expeliarmus.- vi a varinha de Rolf Greeney voar para o outro lado do cômodo antes de correr escada à cima, eu poderia ter pavor dele, mas eu nunca me tornaria uma Comensal.

Me tranquei no meu quarto esperando o momento em que ele fosse explodir a porta. Ouvi meu pai subir as escadas falando e delirando como um louco.

Era isso que ele estava, louco.

Eu finalmente relaxei meus músculos quando tudo que eu pude ouvir foi silêncio. O vento batia forte nas janelas conforme eu abria a porta com calma, e para minha surpresa, eu não vi ninguém.

Desci as escadas sem fazer nenhum barulho rezando para que meu pai tivesse se afundado em sua própria loucura e esquecido do que estava pretendendo fazer comigo.

Entretanto, tudo que eu vi ao pisar na sala de estar foi meu pai inconsciente flutuante com um feitiço, e ao lado dele, um casal que parecia ser bem jovem.

A mulher tinha cabelos castanhos ondulados e uma expressão doce apesar de estar revistando minha casa toda, já o homem tinha cabelos claros e aparentemente era ele que estava enfeitiçando meu pai.

Eu fiquei olhando aquela cena por alguns minutos até que a mulher, que não parecia ter mais que 22 anos, notou minha presença ali.

– Ted...- ela chamou pelo homem e os dois me encararam, com certeza eles não eram Comensais.

–Quem são vocês?- perguntei.

– Nós fazemos as perguntas, quem é você?- A mulher perguntou.

– Mary Anne Greeney.- respondi e eu percebi que estavam quase pegando as varinhas, deviam achar que eu era aliada do Lorde das Trevas como meu pai.- Não peguem as varinhas, por favor, vocês acabaram de me salvar de receber a Marca Negra à força.

Os dois se olharam e viraram de costas para mim como se aquilo fosse impedir que eu escutasse algo que eles iam dizer.

– Temos que levá-la para Ordem.- Ted falou recebendo um olhar da espanto de mulher.

– Ficou louco? Olho Tonto nos mataria.- ela respondeu, eu não fazia ideia do que eles estavam falando.- Levar uma estudante para sede da Ordem da Fênix? Seria o nosso fim.

– E vamos deixar uma menor de idade sozinha? Os Comensais podem vir atrás dela, Andrômeda.- Ted explicou e ao ouvir aquele nome eu sabia exatamente quem os dois eram.

–Andrômeda Black?- perguntei e a mulher se virou para mim.

– Como sabe disso?- ela perguntou.

–Ouvi falar de você no Largo Grimmald.- respondi.- Usam seu nome como algo ruim mas eu queria ter tido a sua coragem e ter mostrado quem eu realmente era pro meu pai. Eu não sou uma supremacista.

Andrômeda sorriu, assim como Ted, eu via o tanto que ele admirava a esposa.

– Mary, você tem um lugar para ficar?- a mulher perguntou.

– Os Comensais podem vir atrás de você a qualquer momento, e enquanto você não estiver em Hogwarts, o perigo é eminente.- Ted explicou.

Eu não tinha outro lugar para ficar, eu só consegui pensar na casa da família Evans, mas eram trouxas em sua maioria, seria perigoso demais para eles.

Então eu lembrei de uma família e um amigo que com certeza me receberiam.

– Na verdade, eu tenho sim um lugar para ficar.- comecei.- Podem me levar para casa dos Potter, de Fleamont e Euphemia Potter.

Only One - Sirius BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora