Capítulo 6: Bruxa da lua.

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Coloquei exatamente cinco moedas de ouro empilhadas, antes de empurrar o montinho sobre a madeira negra da mesa, até o outro lado, onde a bruxa observava tudo com atenção, como se o brilho do ouro a encantasse, como sangue encanta um vampiro.

Seus lábios se curvaram em um sorriso sem mostrar os dentes, antes de ela juntar as moedas e me empurrar o saquinho. Apertei o tecido escuro, sentindo a silhueta circular das duas garrafinhas de poções que estavam ali, antes de enfia-lo no bolso.

—Vai funcionar?  —Indaguei, ouvindo ela rir, enquanto mordia uma das moedas, como se quisesse ter certeza que era realmente ouro.

—Fiz o meu melhor, vampira. Mas não quer dizer que vá funcionar.  —Ela deu de ombros, com um ar um pouco desdenhoso.  —Flores nasceram pra florescer na luz, não na escuridão.

—Tenho certeza que você sabe a resposta.  —Afirmei, pressionando meus lábios em uma linha  fina, ao ver os olhos da bruxa da lua se iluminarem.

—Você me pagou para criar a poção, não para ver o seu futuro.  —Murmurou, como se eu tivesse esquecido.  —Mas posso te dizer algumas coisas.  —Ela sorriu largamente, estendendo a mão na minha direção. —Ou te mostrar, se quiser.

—Não quero suas previsões.  —Rebati, um pouco rápido demais, atravessando a sala em segundos, para longe do toque dela.

Bruxas da lua eram excelentes em criar poções. Mas eram melhores ainda em visualizar o futuro. O problema é que a maioria delas adorava usar o poder para atormentar pobres almas com previsões incertas ou visões distorcidas.

—Hm, mesmo? Tem algumas coisas interessantes no seu futuro.  —Provocou, testando meu controle e me fazendo suspirar pesado. Quando me dirigi até a porta, ela prosseguiu.  —Não quer saber sobre seu parceiro?

Parei coma mão na maçaneta, ouvindo ela rir baixinho ao conseguir minha atenção. Não havia muitas coisas que detinham mais o interesse de um vampiro, que sangue e o laço de parceria. Poucos eram aqueles que conseguiam encontrar sua alma gêmea. Seu igual. Mas o laço nunca errava. Uma alma sempre se ligaria aquela do seu verdadeiro amor.

—Ele é muito encantador, sabia?  —Meu coração martelou no peito, quando ela voltou a falar.  —E um tanto peculiar.

—Não quero saber!  —Afirmei, erguendo os olhos até ela, sabendo que ela só queria me testar, me provocar até eu implorar para ver o futuro.  —Guarde isso pra você, bruxa.

—Tem certeza?  —Ela arqueou as sobrancelhas e minha língua pareceu pesada quando o desejo de perguntar se um dia o encontraria, surgiu. A grande curiosidade se ele era de Vênus ou não.

Olhei para a janela, vendo Jason acariciando a cabeça do cavalo, enquanto me aguardava, entre aquela floresta verde. Abri a porta e ignorei a bruxa, sabendo que era melhor pra mim não perguntar nada a ela. Se eu tivesse sorte, um dia ainda o encontraria. Ou talvez ele viesse me encontrar.

[...]

Abri a garrafinha, a virando até que uma única gota do liquido escuro pingasse sobre a terra ao redor do girassol. A fechei e guardei de volta no saquinho, enfiando no meu bolso de novo, antes de observar a flor que girava de acordo com a posição do sol. Se eu tivesse sorte, a poção a faria sobreviver a escuridão da minha casa nas cavernas abaixo.

Olhei ao redor, observando o imenso jardim que se abria no topo do castelo do Clã Huxlay, entre paredes de vidro e um teto triangular que refletia o sol. De um lado, eu podia ver o território dos vampiros, onde a floresta e as montanhas se erguiam ao longe. Do outro lado, a imensidão azul das águas do mar.

—Cuidando das suas flores, Quinn? 

Meu corpo ficou rígido ao ouvir aquela voz, antes de eu engolir em seco, firmando os dedos ao redor do vaso do girassol. Com uma respiração pesada, me virei para o vampiro de cabelos muito negros que se aproximava, me encarando com olhos curiosos.

—Lorde Huxley.  —Acenei com a cabeça, tentando manter uma expressão tranquila.  —Aproveitando o dia tranquilo?

—O dia não está nada tranquilo pra mim, Quinn.  —Afirmou, soltando uma risada baixa.  —Problemas do lado humano da muralha, reunião com os outros lideres dos clãs, vampiros fora do controle... nada divertido.

—Imagino.  —Me limitei a dizer aquilo, torcendo para que ele fosse embora. Mas Lorde Huxley se aproximou mais, fazendo minhas unhas se fincarem no vaso que eu ainda agarrava firmemente.

—Você recebeu o recado?  —Indagou, erguendo a mão para tocar nas pétalas amarelas do girassol.

—Sim, já estou sabendo sobre a caçada oficial.  —Murmurei, com a respiração presa na garganta.  —É um evento muito esperado pelos vampiros do clã, não é?

—Realmente, é. —Ele sorriu, mostrando os dentes brancos e perfeitos, enquanto me observava com certo interesse que eu já havia aprendido a ignorar com o tempo. Não queria ser sua favorita. Não queria que ele usasse o passado para conseguir algum poder sobre mim.

—Quinn, eu tô faminto! —Jason apareceu ao meu lado em um piscar de olhos, se agarrando ao meu braço. Olhei pra Lorde Huxley, observando seus olhos descerem até o pequeno vampiro ao meu lado.

—Jason? —Chamei, e ele parou, abrindo um sorriso amarelo.

—Perdão, Lorde Huxley. Não tinha o visto. —Jason fez um movimento pequeno com a cabeça, antes de apertar a mão ao redor do meu braço, mostrando o mesmo desconforto que eu.

—Bem, vou deixá-los. Infelizmente tenho coisas a resolver. —Ele me lançou um olhar cauteloso, antes de sorrir e sumir de vista em segundos. Soltei o vaso do meu agarre, pra no segundo seguinte ele se desmanchar nas minhas mãos, ficando em pedaços.

—Merda! —Xinguei baixinho, me voltando para Jason com as sobrancelhas erguidas. —Não pode ignora-lo, Jason. Sabe disso. Ele é nosso líder.

—Ele matou o papai. —Afirmou, dando de ombros.

Ele mereceu, Jason. Mereceu morrer. Não ousei dizer aquilo em voz alta. Mesmo não gostando da ideia de ter meu pai sendo morto por outros vampiros, ele realmente havia merecido aquilo. Aprendemos desde cedo a proteger nosso clã e não trai-lo, como ele fez.

—E ele te olha como se quisesse te devorar. —Completou, fazendo uma careta. Pressionei meus lábios, ouvindo uma gargalhada familiar.

—Concordo com você, Jason. Ele realmente olha pra sua irmã como se quisesse devora-la. —Megan se aproximou, me lançando um sorriso provocativo com os lábios vermelhos, sem deixar de transparecer o sentido duplo da frase. Jason podia não entender ainda. Mas eu sim.

Eu sabia muito bem das intenções dele e já havia reconhecido aquele olhar várias vezes. Por mais belo e poderoso que ele pudesse ser, eu não tinha o interesse algum de aquecer sua cama e muito menos me tornar sua esposa.

—Recebeu? —Megan parou ao meu lado, pressionando os lábios em resignação ao perguntar, antes de passar as mãos nos cabelos curtos e muito escuros, que estavam acima do seu queixo.

—Sim. —Murmurei, torcendo os lábios. —Caça oficial dos clãs as criaturas das sombras. O que pode ser mais divertido que vampiros inimigos caçando monstros?



Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora