Capítulo 21: Um príncipe jamais fica de joelhos.

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Minha mente parou de funcionar naquele instante. Acho que nunca fiquei tão chocada e confusa ao mesmo tempo, com o medo e a insegurança revirando meu estômago. Desejei ficar longe do Clã Arteryon e qualquer coisa relacionada a ele, depois da morte do meu pai. Mas ali estava Will, sendo parte do clã e parte dos humanos também, de uma forma que eu não compreendia.

—Como? —Soltei o ar com força, ficando de pé na frente dele. —Como isso é possível? Você, vampiro, com pais humanos? Como isso é possível, Will?

—A história é longa demais pra eu explicá-la agora, Quinn. Mas tudo começou com minha tia, quando ela veio parar aqui por conta da morte de um vampiro na floresta do sussurro. —Will afirmou, tocando meu rosto com as duas mãos.

—Lady Arteryon. —Murmurei, com ele balançando a cabeça afirmativamente. —Sua tia, parceira do Lorde Arteryon.

—Sim, é exatamente isso. —Ele riu, exalando nervosismo. —Você está chocada.

—Curiosa agora. —Retruquei, sentindo meu corpo inteiro incendiar quando ele deixou um beijo na ponta do meu nariz, acariciando o laço entre nós.

—Vou responder todas as perguntas que quiser e contar cada detalhe da história. Mas não dá agora. Eu tinha ido me despedir de você na praia, Quinn. Eu estava indo embora. —Revelou, segurando com mais força ainda meu rosto, me obrigando a encara-lo. —Mas você é minha parceira e não vou deixar você.

—Que bom, porque eu mataria você se fizesse isso. —Afirmei baixinho, vendo os lábios dele se abrirem em um sorriso. —Preciso contar ao Jason. Não posso ir embora sem ele, Will.

—Ele já sabe. Sobre mim, quero dizer. —Eu ergui as sobrancelhas e Will deu de ombros em resposta. —Digamos que ele encontrou um membro do Clã Arteryon um tanto peculiar na caverna.

—Então ele sabe toda sua história e eu não? —Fiz uma careta e Will mordeu o lábio, claramente tentando não rir. —Will!

—Eu não contei nada a ele. —Will segurou minha mão, me puxando para que saíssemos de lá. —Mas vou contar tudo a você, depois que sairmos daqui.

Parei de andar assim que chegamos a saída do estábulo, com meu coração martelando no peito.

—Pra onde? —Indaguei, sentindo minha mente girar ao perceber que estava fazendo a mesma coisa que meu pai um dia fez. Mas Will era meu parceiro. Eu tinha que lutar por ele e com ele, mesmo que seja com o Clã Arteryon e contra o Clã Huxley. O laço acima de qualquer coisa.

—Acho que vamos pro Clã Arteryon primeiro. Depois... eu não sei. Tem os meus pais no reino mortal e... —Will hesitou, engolindo em seco, com o rosto se curvando em uma expressão amarga. —Não importa, está bem? Você é minha parceira. Fico em qualquer lugar, contanto que seja com você.

Abri um sorriso, sentindo aquele laço brilhar ainda mais entre nós dois, como se cada palavra o fortalecesse. Mas meu sorriso morreu, ao mesmo tempo que a mão de Will soltava a minha com uma velocidade sem igual. Os ombros dele ficaram rígidos. Demorei muito, muito mesmo parar sentir o cheiro de outro vampiro, porque o cheiro de Will e de tudo que fizemos estava mascarando qualquer outra coisa.

Ergui os olhos para a entrada do estábulo, vendo a silhueta do vampiro de pele dourada surgir por lá, a medida que ele caminhava na nossa direção, avaliando o clima entre mim e Will.

—Mostrando os estábulos pro recém transformado, Quinn? —Dane indagou, com a voz soando arrastada, como se ele soubesse que estávamos fazendo de tudo, menos olhando os malditos cavalos.

—Estou apenas cumprindo ordens de Lorde Huxley. —Afirmei, vendo Will girar a cabeça e me encarar com as sobrancelhas erguidas. —Precisa de alguma coisa?

—De você, não. —Senti o laço estremecer, com uma onda de possessividade que exalou de Will até mim, enquanto ele encarava Dane como se pudesse rasgar o pescoço dele. —Mas você, caro Will, tem um encontro marcado com nosso lorde, nesse exato momento.

Meus ombros ficaram rígidos e o sangue se esvaiu do meu corpo, quando senti o ar ficar tenso ao nosso redor. Aquela cena, me lembro daquele exato momento, anos atrás, acontecendo com meu pai, antes de ele morrer.

—Tudo bem. Só me levar até ele. —Will murmurou, exalando calma. Ele se virou pra mim, me olhando de cima a baixo, com um ar casual, como tudo estivesse acontecendo como previsto. —Obrigada por me mostrar os estábulos. Jason estava procurando você, a propósito.

—E você só lembrou de me avisar agora? —Ergui uma das sobrancelhas, tentando agir tão naturalmente como ele. Mas era difícil, já que meu sangue parecia estar virando brasa.

Will soltou uma risada e então deu de ombros, se virando para Dane, que nos observava como um gavião. Will o seguiu assim que ele fez um aceno com a cabeça, indicando o caminho. Segui os dois no mesmo instante, tentando não deixar que todos ao redor percebessem o tremor que emanava do meu corpo.

O salão principal do castelo estava lotado de vampiros. O único espaço vago era o círculo que envolvia Lorde Huxley, sentado em um trono no topo de dois degraus. Dane guiou Will até o centro do círculo, o deixando de frente para o lorde vampiro com ar preguiçoso. Todos os vampiros ao meu redor estavam em silêncio, apenas observando o que estava acontecendo ali.

Eu já sabia. Will também já sabia, porque o laço estava silencioso e quietinho no canto da minha mente. E eu sabia que ele havia feito aquilo, como um aviso. Um aviso para que eu não interferisse. Soltei o ar com força, sentindo a mão de Jason segurar a minha, assim que sua pequena forma surgiu ao meu lado.

—Lorde Huxley. —Will olhou ao redor, para cada vampiro que estava o encarando. —Parece que o senhor está fazendo uma reunião e tanto aqui.

—Gosto que meus vampiros saibam o que acontece dentro do clã. Evita boatos falsos e teorias sem sentido. —Lorde Huxley deu de ombros, escorando o cotovelo no ombro do trono, apenas para pressionar as mãos no queixo. —Devo chamá-lo de Will ou vossa alteza?

Puxei o laço, mas Will o afastou de novo, fazendo minha garganta começar a se fechar.

—Pode me chamar de vossa alteza. —Will suspirou aliviado. —Mas príncipe também serve.

Os vampiros ao redor começaram a sussurrar coisas uns para os outros, enquanto eu apertava a mão de Jason, como se ele fosse uma tábua de salvação no meio do oceano.

—E o que o príncipe das terras humanas faz aqui, no meu clã, ainda por cima na forma de um vampiro? —Fallon indagou, batucando os dedos no queixo. —Estou curioso pra saber quem foi o vampiro que teve a coragem de transformar um membro da realeza humana em vampiro.

—É uma história um tanto interessante, posso garantir. Mas não é da sua conta, então... —Will deu de ombros, abrindo um sorriso com o canto dos lábios.

—Passou a ser da minha conta quando você entrou no meu clã! —Fallon sibilou.

—Eu ja estava de partida, se é o caso. —Will tombou a cabeça de lado. —Mas estou curioso também, como descobriu?

—Ah, é uma história interessante também. Mas acho que você não deve se preocupar com isso agora. —Lorde Huxley exibiu os dentes, olhando para Will de cima a baixo. —Quero você de joelhos.

—Como? —Uma risada escapou pelos lábios de Will, enquanto ele arqueava a cabeça pra frente, como se quisesse ouvir melhor.

—Você sujou meu clã quando veio até aqui, se escondendo nas minhas cavernas e fingindo ser o que não era! —Ele ficou de pé, olhando para Will com um ar de desdém que chegava a sufocar o ar. —Quero você de joelhos, agora!

Os segundos pareceram passar muito lentamente, enquanto eu processava o que estava acontecendo ali, ainda tentando me agarrar aquele laço que me ligava a Will. Mas ele não se ajoelhou. Seus ombros ficaram mais eretos do que o possível e seu queixo se elevou, como um desafio que ele estava pronto para agarrar.

—Um príncipe jamais fica de joelhos. —As palavras saíram lentas e cheias de sarcasmo, enquanto Will sorria como alguém ensinado a nunca abaixar a cabeça. —Ainda mais pra alguém como você.



Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora