Capítulo 40: Cartas e teorias.

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Caminhei a passos pesados até a o escritório de Nicolay, quase amaçando aquela carta no processo. Bati na porta e esperei ouvir a voz dele do outro lado, antes de abrir a porta. Parei quando vi que Jason estava ali, sentado na frente da mesa de Nicolay.

—Pensei que ia pra biblioteca. —Comentei, fechando a porta atrás de mim, enquanto erguia os olhos para o lorde vampiro sentado do outro lado. Jason apenas deu de ombros, abrindo um sorriso inocente.

—Pode deixar, ele não está me atrapalhando. —Nicolay piscou para Jason, antes de voltar sua atenção pra mim. —Posso ajudar você, Quinn?

—Você leu? —Indaguei, mostrando a carta pra ele.

—Não costumo abrir a correspondência dos outros. —Comentou, fazendo meu rosto pegar fogo com aquela afirmação.

—Ah, sim, é claro. —Murmurei, constrangida. —Olha, é da Megan, do Clã Huxley. Ela era minha amiga lá. Ou pelo menos eu acho que era. —Entreguei o papel pra ele, deixando que ele lesse. —Acha que tem a possibilidade de ser uma armadilha? Eu não sei. Talvez Lorde Huxley esteja tentando descobrir algo sobre a caça. Quem você irá mandar com Will.

—Você confia nela? —Ele me devolveu a carta, me observando com atenção.

—O suficiente para pensar que ela não usaria um encontro nosso para ajudar o próprio clã? —Indaguei, vendo ele assentiu. Como resposta, balancei a cabeça negativamente. Queria confiar em Megan, mas não consigo. Não quando tudo está indo de mal a pior.

—Então talvez isso seja uma jogada do Lorde Huxley. Não tem como termos certeza. —Ele batucou os dedos na mesa, encarando o nada por alguns segundos. —Ah não ser que você esteja disposta a usar um encontro com ela para conseguir informações pra nós.

—O que? —Olhei de Nicolay para Jason, engolindo em seco.

—É só uma possibilidade, Quinn. Não estou dando uma ordem a você. Pode ir se encontrar com ela se quiser. Mas tem que ter em mente que existe 50% de chance de ela não ser confiável, como você mesmo pensa que não é. Então, se ela tentar conseguir informações, talvez você também deveria tentar conseguir algumas. —Ele deu de ombros, passando a mão nos cabelos brancos. —De qualquer forma, ninguém saberá quem irá com Will até o dia chegar.

—Tudo bem. —Afirmei, sentindo o peso daquelas palavras caírem sobre meus ombros. Faria o que meus pais um dia fizeram. Agora eu entendo eles. Jamais pensei em fazer algo como isso. Mas agora, pensando em Will, faria qualquer coisa.

Olhei para a porta quando ela se abriu, vendo Lou passar por ela, com a expressão mais neutra possível. Olhei por cima do seu ombro, pronta para ver Will entrar ali atrás dela. Mas a porta se fechou, deixando claro que ele não estava ali.

—Olá, Quinn. —Lou passou por mim, sorrindo ao tocar o ombro de Jason, antes de ir para perto do parceiro. —Alguma novidade?

—Apenas algumas cartas e teorias. —Ele indicou a carta na minha mão, começando a explicar pra ela nossa conversa de segundos atrás.

Jason estava ocupado mexendo em alguns papéis que estavam em cima da mesa, de uma forma que eu tinha certeza que se fosse Lorde Huxley, teria ficado incomodado. Mas não era Lorde Huxley ali. Era Nicolay Arteryon e ele não era nem um pouco parecido com o que as histórias contam.

—Onde está o Will? —Indaguei, olhando para Lou. Ela olhou pra mim, um pouco hesitante, antes de abrir um sorriso pequeno.

[...]

—Will? —Chamei, caminhando entre as estantes de livros.

A biblioteca estava silenciosa, mas eu podia sentir o cheiro dele ali, praticamente chamando por mim. Aquele laço sempre agia como um imã, me guiando em direção a Will a cada momento. Senti ele dar um puxão, me dizendo me que direção seguir.

—Will? —Parei na entrada de um corredor, observando Will sentado no chão, com alguns livros caídos a sua volta. Pela expressão dele, eu já podia imaginar que algo muito ruim havia acontecido. —Ei, o que foi? O que está acontecendo? —Me aproximei dele, vendo seus olhos se ergueram para me observarem. —O que foi, Will? Seus pais estão bem? Sua mãe?

Ele estendeu a mão, me fazendo ficar de joelhos e então sentar no seu colo, com cada joelho de um lado do seu quadril. Ele ficou com as mãos na minha cintura, observando meu rosto com a cabeça encostada na estante atrás de si.

—O que foi? —Ergui a mão e toquei as bochechas dele, vendo seus olhos se fecharem ao sentir meu toque.

Will ficou em silêncio, parecendo perdido nos próprios pensamentos, enquanto apenas absorvia minha presença ali com ele. Tocando seu rosto e beijando seus lábios as vezes. Por mais que eu tivesse curiosa pra saber o que estava havendo, não queria deixá-lo chateado com perguntas demais.

—Aquela bruxa estava lá de novo. Se lembra dela? —Indagou baixinho, abrindo os olhos e acariciando minhas bochechas com o polegar. —Minha mãe ainda estava de cama, mais indisposta do que da última vez.

—O que ela tem? —Toquei com as mãos dele que estavam no meu rosto. —Tem algo que podemos fazer por ela?

Will negou com a cabeça, engolindo muito lentamente, como se estivesse pensando no que dizer agora. Toquei minha testa na dele, soltando um suspiro e o abraçando pelos ombros, querendo que ele soubesse e sentisse que eu estava ali por ele.

—Ela está grávida, Quinn. —Revelou, fechando os olhos por alguns segundos. —Meu pai disse que eles estavam tomando cuidado todos esses anos, pra que isso não acontecesse. Mas aconteceu. E talvez dessa vez ela não sobreviva, porque o bebê está exigindo demais dela. Talvez ela... ela nem consiga tê-lo de fato.

—Ah, Will, eu sinto muito. —Afirmei, beijando algumas lágrimas que estavam escorrendo pelas bochechas dele. —Eu sinto muito mesmo.

Will me puxou para um abraço apertado, afundando o rosto nos meus cabelos, como se eu fosse a única coisa sólida no muito. E eu o segurei, enquanto sentia que o mundo estava se partindo, e não havia nada que pudéssemos fazer a respeito.


Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora