Laços de Sangue e Poder / Vol. 2

Capítulo 33: Mundo Inferior.

Os vampiros estavam em total alerta no Clã Arteryon. Percebi isso logo de cara, quando retornamos e vimos que haviam muito mais deles pelas cavernas que davam para o clã e pelo vale. Nicolay estava em um dos salões principais, parado em frente a uma imensa mesa de madeira redonda, observando um mapa que estava aberto sobre ela. Lou se afastou de nós e foi para perto dele, com os olhos oscilando entre o parceiro e Kyara.

—Ágape, pode levar Jason para a biblioteca? —Will pediu, fazendo Jason soltou um barulho de frustração com a boca.

—Mas eu queria ficar aqui. —Afirmou, segurando minha mão. —Quinn, por favor, quero saber o que está acontecendo.

—Nem mesmo nós sabemos o que está acontecendo, Jason. —Rebati, puxando ele em direção a porta, com Ágape liderando o caminho. —Vá com Ágape para a biblioteca. Se alguma coisa muito importante acontecer, eu vou até lá contar a você.

—Mentirosa. —Acusou, fazendo Ágape soltar uma risada.

—Não minta pra ele. —Ágape deu uma lambida na pata. —O projeto de demônio não é burro.

—Eu estou falando sério. —Falei, olhando de cara feia para o gato preto. —E pare de chamar meu irmão assim.

—Tu tá vendo ele bravo por acaso? —Ele lançou um olhar para Jason. —Não, então vou continuar chamando ele assim até quando eu quiser. —Ele se virou, balançando a bunda preta até a saída. —Vem logo, Jason. Depois eu venho aqui pra saber as fofocas e divido com você.

Queria pegar aquele gato e dar um apertão nele. Mas fiquei feliz que Jason o escutou e saiu da sala atrás dele. A porta se fechou, me dando a oportunidade de ir para perto da mesa, onde Will estava prestando atenção no que quer que Nicolay estava falando.

—Ele estava apenas rondando o clã. Não fez nenhum movimento de atacar nem nada. Desapareceu assim que notou que havia sido descoberto. —Nicolay indicou no mapa a área que ele estava. —Era um macho. Os lobos sentiriam o cheiro dele.

—Onde Milles e Mayra estão agora? —Lou questionou, parecendo ficar preocupada.

Não precisei perguntar a Will quem eles eram, porque lembrava da menção do casal de lobos e sua alcateia na história que Lou contou. Uma amizade entre uma alcateia e um clã de vampiros era rara. Dificilmente era permitida.

—Estão tentando encontrar o cheiro dele. Sumiu no final do vale, perto da praia. —Nicolay esfregou a nuca, fazendo uma careta. —Não era o Leon.

—Milles deixou claro que o cheiro era diferente. —Kyara afirmou, quando Will olhou pra Nicolay com uma expressão questionadora. —Eu olhei os rastros. Se move diferente dele também. É outro vampiro.

—Alguém que ele transformou? —Indaguei, fazendo todos olharem pra mim. —Ele transformou a família dele, não foi? Quer dizer... matou uma parte. Mas ele pode ter transformado outros e vocês não saberem.

—Só se for do Mundo Inferior, porque Kane não nos avisou de nada sobre os humanos do reino. Tudo está perfeitamente bem por lá. —Nicolay afirmou, olhando para a parceira por alguns segundos, como se esperasse uma confirmação dela.

Estava de fato tudo bem lá, porque tínhamos acabado de fazer uma visita ao reino humano e tirando a saúde confusa da rainha, todo o resto estava certo.

—Mas ele não tem como ir pro Mundo Inferior. Precisaria de um navio e só os humanos os tem. Vampiros não perdem seu tempo viajando no mar. —Kyara apontou para a cordilheira de Waryan, onde a entrada para o Mundo Inferior estava. —Ou ele é mais esperto do que pensamos e conseguiu uma pedra dimensional com uma bruxa. Mas isso... não faz o menor sentido.

—O alvo dele é o Will. —Lou balançou a cabeça negativamente, enquanto eu me virava para Will, vendo sua expressão frustrada ao observar o mapa dos territórios dos clãs.

Toquei a mão dele, vendo seus olhos se voltarem para os meus, parecendo buscar qualquer coisa em mim que o salvasse daquilo tudo. Acariciei o laço, sentindo ele estremecer. Will fechou os olhos por alguns segundos, apertando minha mão, antes de voltar a atenção para os outros.

—E o Clã Huxley?

—Está aguardando a reunião. —Nicolay olhou pra ele por alguns segundos. —Sugiro que se prepare, não acho que ele vá pegar leve. —Will balançou a cabeça afirmativamente, enquanto eu observava aquele imenso mapa sobre a mesa, tentando absorver tudo que estava acontecendo naqueles últimos dias. —Teremos Lorde LaRue ao nosso lado e talvez Lorde Brendan.

Todos olharam para Kyara, que apenas ergueu o queixo, encarando o mapa como se ninguém estivesse olhando pra ela. Mas eu vi os lábios dela tremerem, assim como o leve franzir das sobrancelhas.

—Kyara, pelo amor dos deuses, aceite logo ser esposa dele. —Lou afirmou, soltando uma respiração pesada. —Você sabe que ele não vai desistir, então por que não aceita logo?

—Porque podemos encontrar nossos parceiros e... —Ela começou, mas foi interrompida.

—Já ouvimos isso antes. Centenas de vezes. —Nicolay afirmou, balançando a cabeça negativamente. —Não vamos interferir em um assunto seu. Mesmo eu, sendo seu irmão, não farei isso. Mas deveria começar a pensar no que quer pra você, Kyara. —Ele se virou pra ela, com um olhar repleto de carinho e compreensão. —Infelizmente nem todos tem a sorte de encontrar seu parceiro e talvez você esteja perdendo a oportunidade de ter alguém ao seu lado, que se importa com você.

Kyara ficou em silêncio, ainda encarando o mapa na mesa, sem demonstrar qualquer emoção. Aquela estranha reunião se seguiu, até todos começarem a se dispersar. Lou tocou o ombro de Kyara, olhando pra ela um pouco triste, antes de segurar a mão do parceiro e sair dali com ele. Olhei para Will, vendo que ele também estava observando Kyara, que agora se retirava da sala com uma expressão um pouco séria demais.

—Pode me esperar no quarto? —Murmurou baixinho, erguendo minha mão e beijando cada um dos meus dedos com carinho. —Só quero ver se ela está bem.

—Claro. —Abri um sorriso pra ele, beijando seus lábios, enquanto tocava sua nuca e o puxava para perto. —Temos uma coisa a resolver essa noite, não temos?

—Temos sim, girassol. —A respiração dele acariciou minha bochecha, enquanto seus lábios roçavam nos meus, fazendo meu corpo estremecer e o ar ao nosso redor parecer muito mais quente. —Por isso, sugiro que me espere na cama. —Ele mordeu meu lábio e sorriu. —Completamente nua.

Ele me beijou, segurando meu rosto entre as mãos, enquanto aquele laço queimava entre nós, exigindo por muito mais do que aquilo. Minha boca se encheu de água com a vontade de mordê-lo e prova-lo. Mas Will se afastou, deixando um último beijo cheio de promessas.

—Na cama, Quinn. —Ele começou a se afastar, com as sobrancelhas erguidas. —Você me deve um presente de aniversário.

E ele sumiu em um piscar de olhos, me deixando ofegante e ansiosa.

Continua...