Capítulo 9: Sangue de vampiro.

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Observei Will caminhar pela sala, observando os nomes dos livros que estavam nas prateleiras das estantes, antes de sua atenção se voltar para minhas flores e ele se aproximar, parecendo curioso. Ele tocou as pétalas amarelas do girassol, antes de olhar as tulipas, de tom negro.

—Você gosta de flores e livros. —Comentou, parecendo um pouco surpreso e resignado, coisa que me fez juntar as sobrancelhas.

—Eu gosto de flores, não de livros. —Ele olhou pra mim, arqueando as sobrancelhas. —Meu irmão gosta de ler. Os livros são dele. —Afirmei. —Aliás, como sabia que eu tinha irmão?

—A pintura no seu quarto. Você, um homem e um garotinho. —Ele me olhou com cautela, parecendo esperar que a qualquer momento eu fosse pular sobre si de novo. —Ouvi vocês dois chegando também. Pela forma como se tratavam, você não é a mãe dele. Então só pode ser irmã.

—Que esperto, hein. —Zombei, fazendo pouco caso da sua constatação. Isso fez ele soltar uma risada baixa e balançar a cabeça negativamente.

—E o vampiro? —Indagou, e eu sabia que estava se referindo ao meu pai. A pintura havia sido feita um pouco antes de ele ser acusado de traição e acabar perdendo a cabeça, literalmente. —Seu pai?

—É. —Me limitei a dizer isso, vendo ele ainda mexendo nos meus vasos de flores. Isso me fez engolir em seco e caminhar até ele, afastando suas mãos das plantas. —Pode parar de xeretar? Está me irritando de novo.

—Quando eu te irritei a primeira vez?

—Quando invadiu minha casa e se enfiou dentro do meu armário. —Afirmei, com um tom sarcástico, enquanto ele fazia uma careta de frustração e se afastava, até se sentar no meu sofá.

—Já pedi desculpas por isso. E você quase arrancou minha cabeça. —Ele olhou pra mim com certo ar de advertência que me fez estalar a língua dentro da boca.

—Eu ainda não entendi o que estava fazendo aqui. Você disse que estava se escondendo e que queria ir pro Clã LaRue. —Cruzei os braços na frente do corpo, olhando pra ele com as sobrancelhas erguidas. —E também disse que não pertence a nenhum clã.

—Bem, eu realmente não pertenço a um clã. —Ele se remexeu, parecendo ficar desconfortável, já que também esfregou as mãos no rosto. —Eu fiz uma coisa ruim e fugi. Sei quem é o lorde do Clã LaRue e sabia que ele provavelmente não tentaria me matar se me encontrasse lá. Mas, pelo que parece, entrei no clã errado.

—Fugiu de onde? —Ele ergueu os olhos até mim, franzindo a testa. —Você matou alguém? Um vampiro de outro clã?

—É mais complicado que isso. —Rebateu, ficando de pé. —Muito mais complicado do que você pode imaginar.

—Bem, então é melhor você descomplicar agora mesmo, ou vou...

—Arrancar minha cabeça? —Ele riu, enquanto exibia uma expressão presunçosa que fez meu sangue ferver. —Já sei, vampira. Já sei. Mas eu não vou sair contando minha vida toda pra você, okay? Por isso, vou sair por aquela porta e ir embora desse clã.

—Não faço ideia de como entrou aqui. Ainda mais nas cavernas inferiores. Mas está de noite. A maior parte dos vampiros do clã está perambulando pelas cavernas, ou caçando no nosso território. —Tombei a cabeça de lado, abrindo um sorriso de falsa simpatia a ele. —Isso significa que, se não lidar comigo, vai lidar com outros vampiros menos gentis. Ou... o nosso lorde.

Ele bufou, esfregando a mão na nuca, enquanto me olhava como se eu fosse um tipo de tábua de salvação. Mal sabia ele que eu ainda desejava rasgar seu pescoço perfeito. Ainda mais, quando lembrava do cheiro do sangue dele e sentia minha boca se encher de água. Eu não deveria desejar o sangue de um vampiro. Isso não é minimamente possível.

—Como se você fosse muito gentil. —Resmungou, puxando o ar com força, enquanto eu abria um sorriso curto. —Eu matei alguém. Mas... eu não queria. Foi sem querer. Eu perdi o controle.

—Era de que clã? —Indaguei, vendo ele olhar pra mim e hesitar, pressionando os lábios como se não quisesse contar. Revirei meus olhos e apontei para porta. —Quer saber? Não me importo. Já tenho problemas demais pra pensar em lidar com os de um vampiro que eu nem conheço. Então, porque não cai fora da minha casa?

—Quinn, eu só... —Ele parou de falar, ao mesmo tempo que nós dois olhávamos para a porta, quando alguém bateu. Eu estava na frente de Will no mesmo instante, tampando sua boca com minha mão.

Volta pro maldito armário! —Falei, entredentes, vendo ele se afastar e sumir da sala no mesmo instante.

Olhei ao redor, sentindo o cheiro dele em cada canto, mesmo com a fumaça das chamas e das velas. Não tinha como esconder. A batida na porta me fez hesitar, mas não havia como fugir daquilo. Caminhei até a mesma e puxei a trava, abrindo a porta e dando de cara com Lorde Huxley em carne e osso, com seus olhos alertas me avaliando como um predador.

—Senhor. —Abri o maior sorriso que conseguia, enquanto meu coração martelava dentro do peito, como se quisesse fugir.

—Está ocupada? —Ele olhou por cima do meu ombro, avaliando a sala, como se sentisse o cheiro de Will ali. E se não sentisse na sala, sentiria em mim, já que eu praticamente me esfreguei nele quando estava tentando matá-lo.

—Não, senhor. Apenas aguardando Jason sair do banho. —Afirmei, mantendo um tom de voz neutro. —O senhor precisa de alguma coisa? Eu posso ajudá-lo em algo? —Fiz uma careta, olhando para o corredor atrás dele. —Pensei que tinha uma reunião com os clãs.

—Tinha. Mas mudei os planos e não fui. Nada de agradável vem dessas reuniões. —Ele deu de ombros, com um ar casual, dando um passo na minha direção. Arquei as sobrancelhas e aguardei que ele falasse. —Mas já recebi o recado que amanhã vai haver outra. Gostaria que me acompanhasse.

Meu sorriso vacilou um pouco, porque eu sabia que o convite vinha por um único motivo, Lorde Arteryon. Não importa quanto tempo passe, para um vampiro nunca é tempo demais para desconfiar de alguém. E ele desconfiava de mim. Sempre iria desconfiar. E me colocar frente a frente com o lorde com quem meu pai confabulava, parece algo que o agradaria muito.

—Poderia ter enviado um recado. Mas eu vou, é claro. —Abri mais o sorriso, tentando mostrar que estava tudo bem.

—E dar a oportunidade para negar? —Ele se afastou, abrindo um sorriso lascivo.

—Impossível, milorde. Ninguém pode negar algo ao senhor. —Rebati, vendo os olhos dele se iluminarem com aquilo.

Lorde Huxley desapareceu de vista em um piscar de olhos, enquanto eu fechava a porta e encarava a madeira escura, sentindo a presença e o cheiro de Will na sala. Me voltei pra ele, vendo suas sobrancelhas erguidas de forma questionadora é um pouco maliciosa.

—Podia ter me entregado pra ele. Mas não fez isso. —Comentou, abrindo um sorriso com o canto dos lábios. —A doce Quinn esconde um coração nesse corpo de vampira, pelo visto.

—Vou me encontrar com Lorde Huxley amanhã. Então eu não me provocaria se fosse você. —Eu estava na frente dele no mesmo instante, vendo seus olhos se cerrarem em desafio. —Ou posso acabar falando demais pra ele. —Will não disse nada, me encarando com ar tranquilo e casual, como se a ameaça não surtisse efeito. —Quer saber? Vou levá-lo para as cavernas dos recém transformados.

E isso sim surtiu efeito na pose elegante dele.

Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora