Capítulo 8: Recém transformado.

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Os olhos dele ficaram em mim, sem o mesmo se mover, nem um músculo sequer. Pressionei meus lábios em negação, sentindo meu sangue esquentar e o ar começar a ficar tenso ao meu redor, quando mais tempo aquele silêncio se seguia.

—Estou esperando. —Falei, com a voz saindo muito rude. —Quem é você?

Ele pareceu sair do torpor, já que deu um passo para trás, soltando uma respiração pesada, antes de me encarar uma última vez e olhar ao redor, como se pudesse ver além das paredes rochosas, todo o clã repleto de vampiros.

—Esse é o Clã Huxley, então? —Indagou, com a voz soando um pouco decepcionada. Fiz uma careta, pressionado ainda mais meus lábios, como se pudesse fundir um ao outro.

—O que? —Soltei, fechando minhas mãos em punho, quando a raiva foi substituída por confusão. —É claro que esse é o Clã Huxley.

—Merda, isso não é bom! —Ele franziu a testa, curvando os lábios em resignação, antes de se virar e dar um passo em direção a porta. Atravessei o quarto no mesmo instante, ficando na frente da mesma, impedindo-o de sair dali. —Hm, pode sair da frente?

—Não! Caso não tenha percebido, você invadiu a minha casa. Então espero que tinha uma boa explicação pra isso. —Afirmei, tentando não pular em cima dele, já que sua expressão estava tranquila demais pra quem havia sido pego escondido dentro de um armário. —Você é recém transformado?

—Tenho cara de recém transformado? —Indagou, olhando pra si próprio com uma careta, como se realmente estivesse com dúvida sobre si mesmo.

—Você está brincando comigo? —Exclamei, cruzando os braços na frente do corpo, vendo ele erguer os olhos pra mim, parecendo perceber minha irritação.

—Ah, sinto muito, não queria invadir sua casa. Eu só precisava me esconder um pouco. —Ele abriu um sorriso nervoso, encolhendo os ombros largos, antes de soltar uma respiração pesada. —Achei que estava no Clã LaRue. Não tinha intenção nenhuma de vir pra esse clã.

—Você é do Clã LaRue então? —Indaguei, encarando a fisionomia dele.

Normalmente, cada clã tinha um aspecto físico evidente. O Clã LaRue era conhecido pelos cabelos vermelhos e a pele clara cheia de sardas. Mas o vampiro na minha frente não tinha nada disso, o que não significava que não pertencia ao clã em questão. Entre as características marcantes de cada clã, as vezes, haviam alguns vampiros de aparência diferente perdida no meio.

—Eu não pertenço a nenhum clã. —Rebateu, enrijecendo os ombros e erguendo o queixo. —Só estou de passagem.

—Passagem pra onde? —Indaguei, sentindo o ar pesar ainda mais quando ele deu um passo na minha direção, de uma forma que fez os pelos do meu corpo se arrepiarem.

—No momento, pra fora desse quarto. —Ele fez um movimento lento com a cabeça. —E você está no meu caminho.

—E você está na minha casa. —Rebati, vendo ele cerrar os olhos e olhar de mim para a porta, várias vezes, como se estivesse tentando ter certeza que conseguiria passar por mim e ir embora.

Ele fez um movimento para o lado, pronto para passar por mim. Ergui as mãos e me choquei contra ele, o empurrando com toda força para o outro lado do quarto. O corpo dele bateu contra a parede, fazendo as coisas sobre minha escrivaninha balançarem. Eu estava na frente dele no mesmo instante, agarrando seu pescoço e o pressionando contra a parede.

O rapaz me encarou com os olhos duros, antes de agarrar meu braço e me empurrar, usando a perna para enganchar na minha e me derrubar no chão, tombando sobre mim, quando o puxei pelos braços, antes de o lançar para o chão, do outro lado do quarto. Ergui os olhos, ficando de joelhos, ao mesmo tempo que ele.

—Qual o seu problema? —Questionou, saindo quase como um rosnado. —Eu só quero ir embora!

—Não sem antes me explicar o que faz aqui! —Sibilei, cerrando meus olhos e pressionados meus lábios em uma linha fina. —Sua explicação está muito estranha, sabia?

—Bem, mas é essa a explicação que você terá. Contente-se com ela! —Ele ficou de pé, ajustando as roupas amaçadas no corpo, de uma forma lenta e elegante. Fiz uma careta, antes de ficar de pé.

Eu estava sobre ele segundos depois, em um emaranhado de braços e pernas, até que estivéssemos no chão de novo. Suas costas estavam pressionadas contra minha barriga, enquanto meu braço estava ao redor do seu pescoço e minhas pernas ao redor da sua cintura.

—Seu tempo já passou, caso não tenha percebido. —Falei, entredentes, puxando o pescoço dele para trás, vendo ele se mover, tentando sair do meu agarre. Mas pra uma caçadora, eu sabia muito bem onde agarrar uma presa, pra que ela não conseguisse se soltar, nunca. —Vou arrancar sua cabeça fora se não começar a falar a verdade!

—Costuma ficar ameaçando vampiros por aí? —Indagou, ofegante, quando minhas pernas se firmaram ainda mais ao redor da sua cintura, enquanto meu braço e minhas mãos forçavam sua cabeça para trás, obrigando-o a me encarar por cima, com os olhos vidrados. Podia sentir o coração dele, batendo tão acelerado quanto o meu.

—Só babacas que invadem minha casa. —Afirmei, abrindo um sorriso sarcástico pra ele, sentindo o corpo dele tenso contra mim, quando mais força eu fazia no seu pescoço. —Ele mandou você aqui?

—Eu nem sei de quem você está falando! —Rosnou, agarrando meus braços, tentando se soltar, mas ele claramente não tinha jeito algum. —Me solte, não quero machucá-la.

Soltei uma gargalhada, girando o corpo e me colocando sobre ele, antes de pressionar meu joelho na sua garganta, vendo ele soltar um gemido e morder o lábio, parecendo surpreso.

—Parece mesmo que você vai me machucar. —Zombei, com o coração batendo forte no peito. —Mas eu vou arrancar sua cabeça se não falar.

—O que seu irmão vai pensar, quando entrar aqui e encontrá-la com a minha cabeça nas mãos? —Indagou, parando de se mover e olhando pra mim. —Não acho que seja uma imagem muito legal pra uma criança.

—Não se preocupe. —Abri meu maior sorriso, agarrando o pescoço dele e fincando minhas unhas na sua pele. —Ele vai superar.

Forcei sua cabeça pra cima, sentindo minhas unhas cortarem sua pele. O cheiro do sangue dele chegou até mim, me deixando zonza e confusa no mesmo instante, pela intensidade da sensação de eletricidade que causou em todo meu corpo, fazendo cada parte de mim estremecer.

Perdi o foco por alguns segundos, mas foi tempo suficiente para ele agarrar meus braços e me tirar de cima dele, girando o corpo e ficando sobre mim, me deixando presa contra o chão, com suas pernas impedindo as minhas de se moverem e suas mãos mantendo meus braços presos, acima da minha cabeça.

O encarei com o peito subindo e descendo, vendo os pequenos cortes que minhas unhas causaram cicatrizando em instantes no seu pescoço. Ergui os olhos para o rosto dele, vendo sua expressão nada feliz, ao mesmo tempo que eu tentava entender o que havia acabado de acontecer ali.

—Isso não foi muito gentil da sua parte. —Afirmou, com o rosto muito próximo ao meu, me permitindo sentir o calor do seu corpo tenso contra o meu. —Vou te soltar, mas tente deixar essas garras longes de mim.

Fiz um movimento com a cabeça, sentindo o corpo dele relaxar contra o meu, antes de ele soltar minhas mãos e sair de cima de mim, em um piscar de olhos. Me sentei no chão, observando ele se escorar contra a porta, levando as mãos até o pescoço, parecendo checar se estava tudo no lugar.

—Quem é você? —Questionei de novo, ainda sentindo a sensação de eletricidade pelo meu corpo.

—Will. —Murmurou, me lançando um olhar resignado, antes de endireitar os ombros e ficar ereto. —Meu nome é Will.

—Quinn. —Fiquei de pé, tentando encontrar alguma coisa naquele vampiro. Qualquer coisa que explicasse meu momento de fraqueza. Mas não havia nada ali. Nada além dos olhos dele queimando minha pele, pela forma que me encarava. —Se você não é do Clã LaRue, é de onde então?

Ele soltou uma risada baixa e fraca, antes de fechar os olhos e escorar a cabeça na porta.

—Não sou de lugar nenhum. —Ele abriu os olhos de novo e me encarou. —Esse é o problema, Quinn.


Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora