Megan fez uma careta, franzindo a testa, antes de revirar os olhos. Sua atenção se voltou para Jason, enquanto a minha estava em concertar o vaso quebrado e a terra que se espalhava pela mesa.
—Acha que vão colocá-la? —Indagou, voltando a se aproximar de mim, agora que Jason estava com sua atenção voltada para um grupo de pequenas fadinhas que surgiu de trás de uma roseira.
—Ah, não, eu tenho certeza. Aqueles babacas adoram me testar. E Lorde Huxley parece muito interessado em saber se vou trair o clã da mesma forma que meu pai fez. —Afirmei, tombando a cabeça de lado. —Talvez seja por isso todos aqueles olhares cheiros de segundas intenções.
—É mais fácil controlar um inimigo quando ele dorme ao lado? —Indagou, soltando uma risadinha. —Eu acho que é mais fácil você ser apunhalado nas costas.
—Não importa. Não vou dar nada disso a ele. —Apontei pra mim, vendo Megan cerrar os olhos. —Nem a ele nem a nenhum vampiro daqui que se ache no direito de se por acima de mim, por causa do meu pai e suas ações.
—Ele é nosso líder. —Afirmou, me fazendo rir fraco.
—E já conseguiu o que queria quando matou meu pai. Deveria me deixar em paz agora. Estou preocupada em cuidar do meu irmão, não em trair nosso clã. —Declarei, enfiando o girassol em outro vaso e arrumando a terra que havia caído sobre a mesa. —Além do mais, não tenho o menor contato com o Clã Arteryon e nem pretendo ter.
—Tudo bem. —Megan olhou pra Jason, que ainda tinha a atenção nas fadinhas. —Se você for escolhida pra ir, como imaginamos que vá, cuido do mini sugador de sangue ali.
Olhei pra ela com um sorriso nos lábios, antes de puxar o vaso para minhas mãos e ir até Jason, querendo me esconder na minha pequena caverna, longe de qualquer problema que possa cruzar meu caminho.
[...]
—Banho, Jason. Depois vamos nos alimentar. —Afirmei, espantando as fadinhas que haviam nos seguido até a porta, antes de fechá-la e deixá-las para o lado de fora, onde poderiam ir irritar outro vampiro com seus pozinhos mágicos.
Jason subiu as escadas correndo, enquanto eu ia até meu cantinho de folhes. Soltei o vaso com o girassol ali, torcendo pra que a poção funcionasse e ele não morresse ali embaixo, onde a luz do sol não entrava e tudo que tínhamos eram as chamas das tochas.
Éramos considerados seres da escuridão, então gostar de flores era algo um pouco fora dos padrões para os vampiros. Mas eu gostava. Estava sempre tentando fazê-las florecer ali embaixo, nas cavernas sombrias do Clã Huxley. Mas, infelizmente, a única coisa capaz de viver ali além de nós vampiros, são tulipas negras, florescendo em meio a escuridão e a noite.
Parei, encarando os vasos de tulipas, percebendo que eles estavam fora de lugar. Eu cuidava daquelas plantas todos os dias, sabia muito bem a posição que as deixava, assim como conhecia cada canto daquela pequena caverna que chamo de lar.
Aspirei o ar com força, deixando meu pulmão se encher, sentindo cada cheiro característico que estava acostumada a sentir ali, até perceber um, fraco, diferente, único. Minha mão se fechou ao redor de um dos vasos, quando o empurrei até colocá-lo no lugar que ele normalmente ficava. O soltei, antes que acabasse o quebrando também.
Me afastei da mesa e contornei os sofás, subindo a escada em caracol. O pequeno corredor tinha apenas duas portas. Uma que dava para o meu quarto e outra para o de Jason.
—Jason? —Chamei, ouvindo o barulho da água enchendo a banheira. Entrei no quarto dele, olhando ao redor, antes de caminhar até o cômodo adjacente, onde Jason estava ao lado da banheira.
—O que foi? —Ele me olhou com uma careta, tirando os sapatos e os jogando no chão de qualquer jeito. —Você me mandou tomar banho.
—Não deixe a banheira trasbordar. —Alertei, voltando para o quarto, antes de sair para o corredor e puxar a porta dele, a deixando fechada. Chutei a porta do meu próprio cômodo, sentindo o cheiro ficar mais forte. Parei no batente da porta, encarando minha cama arrumada e os armários no seu devido lugar.
Era um vampiro, eu tinha plena certeza. Nenhuma outra criatura esperta o suficiente entraria ali. Ainda mais, em uma parte tão profunda do clã. Mas como eu ainda não tinha certeza de onde ele estava, decidi testar.
Caminhei até o cômodo ao lado, onde estava a banheira e liguei a água para enche-la também, tendo a certeza que Jason estaria concentrado demais no próprio banho e no som da água, pra perceber qualquer coisa estranha.
—Você tem exatamente um minuto pra dizer o que está fazendo dentro da minha casa. —Murmurei, tirando a jaqueta e jogando no chão. —Ou vou arrancar a sua cabeça.
Pressionei meus lábios ao ouvir o som da madeira do armário rangendo, antes de dois pés se chocarem contra o chão com um baque. Eu ainda estava olhando para a banheira enchendo, sentindo a presença da pessoa atrás de mim.
Esperei que quem quer que fosse, falasse logo alguma coisa. Mas não era difícil imaginar que Lorde Huxley resolveu me testar dentro da minha própria casa. Sempre tive certeza das suas desconfianças sobre mim. Mesmo depois da morte do meu pai, ele ainda fica rondando, como um predador prestes a atacar uma presa.
—Seu tempo está acabando. —Alertei, ouvindo o som irregular da sua respiração. —Lorde Huxley mandou você aqui, não foi?
Me virei, encontrando o vampiro no meio do quarto, com os olhos fixos em mim, parecendo ter sido congelado no lugar. O ar pareceu esquentar ao meu redor, quando meus olhos desceram pelos cabelos escuros, encontrando um par de olhos avelã profundos, que pareciam conter o universo todo dentro.
Por alguns segundos, ficamos em silêncio, enquanto ele me analisava descaradamente, da mesma forma que eu fazia. Analisando o corpo alto e forte, onde os ombros largos estavam escondidos em um sobretudo preto.
—Quem é você? —Questionei, sentindo algo começar a queimar dentro de mim, com o coração martelando no peito, pronto para explodir.
Continua...
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Laços de Sangue e Poder / Vol. 2
FantasíaEm uma terra de humanos e vampiros, o príncipe Will deveria ser aquele que subiria ao trono do reino mortal, para governar os humanos. Mas só tinha um único problema, por conta de uma maldição envolvendo sua mãe, a rainha, ele é um vampiro. O segred...