Capítulo 32: Isso começou com o Nicolay.

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Me aproximei da cama, percebendo o quanto a rainha parecia frágil. Quando me sentei na ponta, com Jason entre nós duas, percebi o quanto eu queria que aquela mulher ficasse bem, porque ela era mãe de Will e porque ela estava me olhando com tanto carinho. Humanos não olham assim para vampiros. Mas ela estava olhando.

—É um prazer imenso conhecê-la. —Ela segurou minha mão, com os dedos frios e muito pálidos.

—O prazer é meu. —Eu olhei para o rei, de pé do outro lado da cama, olhando pra nós com um sorriso.

Já tinha ouvido falar sobre o rei Kane. Como representante dos humanos, muitas reuniões entre os lordes e ele eram feitas regularmente, ainda mais depois das mudanças ocorridas no tratado. Ele parecia diferente do que eu esperava. Mais sorridente. Mais doce. Eu podia ver Will nele, de uma forma que eu nem imaginava.

—Ficamos felizes que você e Will tenham se encontrado, Quinn. —Ele caminhou até parar ao lado de Will, tocando o ombro. —Você é muito bem vinda aqui.

—Fico grata. —Olhei para a rainha de novo. —Nunca tinha estado ao sul da muralha. É... estrado.

Lyn era uma humana que já havia sido mordida por um vampiro. Parecia ter tantos segredos guardados naqueles olhos. Fico me perguntando como isso aconteceu. Lyn a rainha dos humanos e sua irmã a parceira de um lorde vampiro.

—Muitas coisas são estranhas por aqui. —Lou comentou, soltando um risada, enquanto ia se sentar numa poltrona no canto da sala. —Quem quer começar a história?

—Ágape, pode fazer as honras? —Lyn indagou, fazendo o gato preto revirar os olhos. —Isso começou com você, chegou até a Lou e então veio até mim e por último chegou ao Will.

—Não, não, não... isso começou com o Nicolay, aquele vampiro idiota. —Ágape revirou os olhos e bufou, se sentando na cama, como se estivesse se preparando para o que viria a seguir. —A história começa há um pouco mais de 8 décadas atrás...

[...]

Nicolay Arteryon e Louisa Reese eram o exemplo mais que perfeito do que o laço de parceria significava para os vampiros. Ele se amaldiçoou por 70 anos para encontrá-la. Ela atravessou um território de vampiros, ainda humana, apenas para liberta-lo, quando tudo que tinha era um medalhão com um enigma e seus sonhos com ele.

Acho que qualquer recentimento que eu tinha por Nicolay se foi nesse momento, porque eu o entendo. Ele fez de tudo para proteger os vampiros do seu clã, fez de tudo para proteger e ajudar os humanos, porque sua própria parceira era uma humana. O que os dois fizeram um pelo outro é inexplicável. Olhando para Will agora, tenho certeza que faria coisas assim por ele também, mesmo que ainda não existisse amor, mesmo que ainda não soubesse quem ele era de verdade. Porque o laço era isso. Era o que Lou e Nicolay fizeram um pelo outro.

—O que acha que ele vai exigir? —Will indagou, enquanto o pai dele esfregava a nuca, depois de toda a história do Clã Huxley ter sido explicada a eles.

—Eu não faço ideia. De todos os lordes, ele é o que menos conhecemos. Pode ser bem surpreendentemente nas suas jogadas. —Kane olhou para Lyn, que estava sentada me uma poltrona na frente da lareira, conversando com Lou, enquanto tomava um chá. Ainda estava pálida e cansada, mas parecia feliz demais por ter o filho de volta. —Vamos confiar em Nicolay. Ele sempre resolve a situação, de um jeito bom ou ruim.

—Eu sei. Não estou em preocupando tanto com isso. Vou fazer o que tiver que fazer. Mas e o Leon? —Will olhou pra mim, antes de desviar os olhos para o pai de novo. —Ele ainda está por aí.

—Pelo menos não atacou mais ninguém. —Kane deu de ombros. —Vamos continuar procurando. Ele pode estar em qualquer lugar.

—E a segurança de vocês?

—Estamos seguros aqui, Will. Não se preocupe. —Ele tocou o ombro de Will, abrindo um sorriso. —Tem que se preocupar com você e sua parceira agora.

—Vossa majestade! —Olhei para a porta da sala, quando um guarda passou por ela, parecendo um pouco ofegante e com as roupas amaçadas. Fiz uma careta, enquanto Jason se inclinava ao meu lado, para conseguir vê-lo.

—Sim? —O rei girou a cabeça para olhá-lo, erguendo as sobrancelhas.

—Lorde Arteryon acabava de enviar um comunicado, majestade. Está exigindo o retorno de Lady Arteryon, do príncipe e seus visitantes. —O guarda se virou para Louisa, quando ela ficou de pé. —Parece que alguém tentou entrar no clã. Estão tentando descobrir quem, mas não encontraram nada, por enquanto.

—Merda! —Will estava de pé no mesmo instante, agarrando a mão de Jason para ele ficar de pé, enquanto eu me levantava e agarrava sua outra mão. —Só pode ser ele.

—E como ele saberia sobre o Clã Arteryon? —Lou indagou, segurando a saia do vestido para andar mais rápido.

—Não sei. Se não for ele, é o Clã Huxley. —Will olhou pra ela por alguns segundos. —Mas não acho que ele faria isso, já que teremos uma reunião em que ele vai poder pedir especificamente o que quer.

A despedida aconteceu mais rápido do que eu pude absorver. Quando vi, já estava sentada dentro da carruagem, com Will erguendo Jason e o colocando sentado ao meu lado. Ágape pulou para o banco, enquanto eu olhava pela porta, vendo Will dar um último abraço nos pais.

—Sabe, podemos achá-lo e matá-lo. —Jason comentou do nada, me pegando de surpreso. —Isso resolveria o problema.

—Você tem só 10 anos. Vai ficar no clã quietinho no seu canto. —Afirmei, vendo ele bufar e revirar os olhos.

—Você me deixou ir até o Clã LaRue. —Retrucou, enquanto Lou e Will subiam na carruagem.

—Porque era necessário. A vida de todos nós estava em risco. Agora é diferente e você não vai entrar no meio. —Declarei, vendo ele abrir a boca e erguer o queixo para retrucar. Fiz uma careta pra ele, que ficou quieto, parecendo frustado.

—Ele não nos chamaria de volta se não fosse importante. —Lou afirmou, esfregando as bochechas.

—Acha que eles vão ficar bem? —Will indicou o castelo, que já estava ficando para trás. —Ele era um guarda. Sabe como as coisas funcionam por aqui.

—Não vou dizer que não estou com medo. Já passamos por algo assim antes. —Lou olhou pela janela, pressionando os lábios enquanto negava com a cabeça. —Vamos mandar alguns vampiros pra cá. Só por precaução. —Ela olhou pra Will e depois pra mim. —Vocês precisam encaixar o laço. E rápido.

—Assim que voltarmos. —Will concordou, com um voz firme que fez meu corpo estremecer.



Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora