Passei pelas portas de vidro, sentindo a presença de Will atrás de mim. O imenso jardim estava florido, parecendo surpreender o vampiro, já que seus lábios se curvaram em um sorriso, enquanto ele olhava ao redor. Sorri, caminhando na direção que os girassóis ficavam. Meu lugar favorito de todo aquele clã.
—Ainda parece sombrio pra você? —Indaguei, observando ele colocar as mãos no bolso da calça, enquanto ainda observava todo o lugar.
—Não tanto quando deveria. —Comentou, me fazendo rir. Parei ao lado dos vasos de girassóis, observando que alguns deles estavam querendo morrer, por falta de água. Ele se escorou na mesa ao meu lado, observando o que eu fazia. —São suas favoritas? Você levou uma pra sua casa.
—São. Estou usando uma poção de bruxa pra tentar fazê-lo sobreviver lá embaixo, sem a luz do sol. Mas não estou tão animada. —Dei de ombros, suspirando. Flores nasceram para a luz, vampiros para a noite. Eu havia aprendido aquilo muito cedo.
—E aquelas tulipas negras? Nunca tinha visto alguma flor igual. —Comentou, parecendo genuinamente interessado.
—Tulipas negras crescem no meio da escuridão e da dificuldade. Mas apesar de não parecerem tão belas quanto as outras flores, tem propriedades curativas. —Falei, sentindo que agora os olhos dele me fitavam.
—Eu acho elas tão belas quanto qualquer outra flor. —Afirmou, enquanto eu erguia os olhos até ele, observando sua atenção voltava para o meu rosto. —Qual a sua história, Quinn?
Ri, negando com a cabeça, achando graça da pergunta aleatória.
—Você não vai querer saber. —Declarei, curvando o rosto para próximo dele. —Não enquanto não me contar nada sobre você.
—Você sabe o suficiente. Matei alguém e estou fugindo disso. —Deu de ombros, com a expressão ficando longe, como se a lembrança o frustrasse.
—Por que está tão preocupado com isso? —Indaguei, tombando a cabeça de lado ao encara-lo. —Você é um vampiro, Will. Vampiros caçam e matam. É a nossa natureza.
—Você já matou? —Ele ficou com os ombros eretos, me fitando com muito interesse. Engoli em seco, sentindo o cheiro dele impregnado em mim. —Não animais para se alimentar. Mas outros vampiros e... humanos?
—Já. —Abri um sorriso maior ainda, vendo os olhos dele se estreitarem, com um lampejo de interesse. —E matarei quantos vampiros ou humanos for necessário, pra ter minha eternidade. —Toquei o ombro dele, vendo ele inspirar fundo, parecendo surpreso com o contato. —Deveria parar de se preocupar com quem matou. Provavelmente terá que matar muitos outros no futuro.
—Não se eu puder evitar. —Rebateu, descendo os olhos para os meus lábios, quando minha mão chegou até sua nuca. —Não sou um assassino.
—Não. —Meu rosto se aproximou do dele, com nossas respirações se misturando, fazendo o sangue pulsar dentro de mim. —Você é um vampiro. Deve agir como um, novato.
Ele abriu um sorriso sarcástico, desviando os olhos da minha boca para meus olhos. Me afastei de Will, tirando minha mão da sua nuca quando a silhueta de Lorde Huxley surgiu. O sangue que estava quente no meu corpo, esfriou até se tornar gelo, quando ele ajeitou a manga do sobretudo, antes de erguer os olhos e fitar eu e Will.
—Quinn. —Ele cumprimentou, enquanto eu dava um lento aceno com a cabeça, vendo os olhos de Will se voltarem para o vampiro que havia acabado de surgir. —Acho que não conheço você ainda.
—Will. —Will murmurou, com a expressão ficando neutra e indiferente. —Lorde Huxley, não é?
—Evidentemente. —O lorde abriu um sorriso de um felino, trazendo os olhos até mim. —Você deve ser recém transformado que Quinn levou para a caverna ontem. Mundo Inferior, não é?
Nenhum de nós dois respondeu. O ar parecia difícil de respirar naquele momento. Lorde Huxley não era o tipo de macho que se preocupava em saber o nome de cada recém transformado que chegava ao clã. Muito menos em saber a história de cada um.
—Você não parece um recém transformado. —Lorde Huxley prosseguiu, fazendo meu coração começar a queimar dentro do peito. —Ouvi dizer que se saiu muito bem na caçada de hoje cedo.
—Tive sorte. —Will deu de ombros, parecendo não estar preocupado com o lorde vampiro a sua frente, enquanto eu sentia o gosto da mentira queimar na minha língua.
—Claro. —O tom de voz veio repleto de ceticismo e eu senti minha coluna ficar rígida quando ele me encarou de novo. —Quero falar com você, Quinn. —Ele lançou um olhar lento e indiferente a Will, que provavelmente teria feito qualquer vampiro abaixar a cabeça. Mas Will ergueu o queixo, exibindo um sorriso preguiçoso. —Bem vindo ao clã.
Lorde Huxley virou as costas e saiu andando, não me dando outra alternativa a não ser segui-lo. Olhei para Will uma última vez, vendo os olhos dele cerrados na direção do outro vampiro, como se ele fosse um tipo de desafio.
Desviei os olhos dele e sai daquele jardim, repassando na minha cabeça quais as possibilidades de ele ser filho de algum lorde vampiro. Mas nenhum lorde vampiro de Vênus possuía um herdeiro. Me perguntei por alguns segundos se havia qualquer possibilidade de ele ter vindo de Artenis. Não tínhamos contado com os vampiros de lá, porque nenhum vampiro quer invadir o território do outro e ser morto. Mas isso não significava que eles não podiam vir até aqui ou um de nós ir até lá.
A questão é que Will não era um simples vampiro. O jeito elegante de agir e falar. A calma contida e tranquila ao estar de frente para Lorde Huxley, erguendo o queixo como se ele não passasse de um vampiro como qualquer outro. Havia algo nele, que o deixava diferente dos outros. Algo que fazia meu corpo acender.
—Quem o transformou? —Lorde Huxley parou de repente, se voltando para mim com uma expressão dura.
—Eu não sei. Encontrei ele no corredor e ele só me disse que era do Mundo Inferior. —Afirmei, sentindo a mentira queimar na minha garganta. Mas por algum motivo, gostei de não obedecê-lo. De deixá-lo no escuro. —Levei ele direto para a caverna dos recém transformados.
—Quinn... —Ele sugou o ar com força, parecendo entediado. —Espero que não esteja mentindo pra mim. Você se lembra o que aconteceu com seu pai, não é?
Meu corpo ficou mais rígido do que eu achava ser possível, enquanto meus dentes se apertavam.
—Milorde...
—Não quero que você acabe como ele. Seria uma perda muito lastimável. Principalmente para o jovem Jason. —O ar se prendeu na minha garganta, quando ele parou na minha frente e abriu um sorriso. —Descubra quem o transformou e a história dele. Qualquer coisa que possa me interessar. Nosso recém chegado parece... diferente dos outros, não acha? —Ele curvou o rosto para próximo do meu. —Isso é uma ordem, entendeu?
E quando movi minha cabeça em concordância, ele desapareceu.
Continua...
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Laços de Sangue e Poder / Vol. 2
FantastikEm uma terra de humanos e vampiros, o príncipe Will deveria ser aquele que subiria ao trono do reino mortal, para governar os humanos. Mas só tinha um único problema, por conta de uma maldição envolvendo sua mãe, a rainha, ele é um vampiro. O segred...