Capítulo 35: Calmaria antes da tempestade.

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Nunca entendi a complexidade do laço de parceria até esse momento, em que o meu está devidamente encaixado entre mim e Quinn. Ela acabou de desabar sobre meu peito, se esfregando em mim e beijando minha pele enquanto seu corpo ainda treme de prazer.

É completamente perfeita pra mim. Ainda posso sentir seu interior me espremendo enquanto ela sai do meu colo e me tira de dentro dela. Inevitavelmente sinto falta do seu calor. O que temos e o que fizemos aqui é diferente de qualquer coisa, por causa dessa ligação entre nós. Tudo é mais intenso e intimo.

—Me conte o que está pensando, Will. —Ela deitou a cabeça no meu peito, me olhando de forma carinhosa. —Está tão calado.

—Estou apreciando o momento com você. Essa sensação de paz e de que tudo está certo. —Afirmei, tocando o rosto dela e beijando de leve. —Acho que esse é meu momento de calmaria antes da tempestade.

—Vai dar tudo certo. O que quer que Lorde Huxley peça, podemos resolver. —Ela esfregou o nariz na minha pele, mordendo meu ombro de leve. —Estou curiosa, você viveu no reino humano. Teve relações com alguma fêmea?

Eu a olhei, erguendo as sobrancelhas de leve. Então encarei o teto, soltando um suspiro pesado.

—Não com humanas. Sabe que isso é impossível. Mas já tive, com uma única fêmea. —Ela me encarou, esperando que eu prosseguisse. —Com Kyara, Quinn.

—Oh! —Ela se remexeu, fazendo uma careta. —Vocês dois tinham...

—Não. Não entenda errado. Não era nada romântico. —Balancei a cabeça negativamente. —Se você me perguntar se gosto da Kyara, sim, eu gosto dela. Considero ela uma grande amiga. Mas não sou apaixonado por ela e nunca fui. Nossos momentos íntimos eram só uma distração. Minha vida nunca foi fácil naquele reino, por mais que meus pais fizessem de tudo por mim. Eu ainda era um vampiro no meio dos humanos. Vivia me escondendo e tentando conseguir um momento de paz.

—Kyara foi o seu momento de paz. —Comentou, enquanto eu concordava com a cabeça.

—Kyara sempre foi alegre e determinada. Sempre gostou de ter machos e fêmeas a sua disposição. Não a julgo por isso. Ter a eternidade toda pela frente, sem um parceiro, pode ser um pouco entediante. —Continuei a explicar, enquanto sentia Quinn deslizar a mão pelo meu peito, em um carinho que me deixava queimando por dentro. —Em um momento eu estava tão frustrado, tão cansado de tudo, e ela estava lá. Estava no castelo o tempo todo, fazendo piadas de duplo sentido. Eu tomei a iniciativa primeiro. A beijei quando ela sequer estava esperando. Sabia que ela poderia ter qualquer macho ou fêmea que quisesse, mas queria ser uma opção também. —Quinn olhou pra mim, enquanto eu soltava um suspiro pesado. —Ela ficou brava comigo. Ficou tão chocada e me afastou na mesma hora, dizendo que aquilo não ia acontecer. Eu me senti um completo idiota enquanto tentava explicar porque tinha beijado ela. No fim das contas ela foi embora sem falar comigo.

—E depois? —Quinn indagou. —Ela mudou de ideia ou você insistiu?

—Não insisti. Não iria tentar de novo. Ia me contentar com a minha imaginação. —Dei de ombros quando ela riu. —Mas uns dias depois eu estava entrando no meu quarto e ela estava lá, deitada na minha cama, me esperando. Foi uma troca, você entende? Kyara gosta de prazer e eu dei isso a ela, enquanto eu só queria me desligar do mundo por algum tempo. Não envolvia sentimentos. Kyara tinha relações com outros vampiros. Lorde Veliant, por exemplo. E quando eu precisava ela aparecia. Era só isso. Depois da primeira vez eu perguntei porque ela tinha mudado de ideia e ela me contou que tinha avisado Nicolay e minha tia sobre isso, porque não podia tocar em mim sem eles saberem. Não quando nossas famílias são tão ligadas assim. —Me virei para Quinn, segurando o rosto dela. —Tudo bem pra você?

—Sobre Kyara? —Eu assenti e ela sorriu. —Provavelmente vou ficar um pouco possessiva em relação a você com ela, mas sei que está falando a verdade quando diz que não existe sentimentos além de amizade. Vi como ela ficou quando falaram sobre Lorde Veliant. —Ela se aproximou, mordendo meu lábio inferior. —E eu entendo você. Ela é possui uma beleza de dar inveja. Eu também iria desejar.

—O que? —Soltei o ar com força, vendo ela soltar uma risada e morder meu lábio com ainda mais força. —Quinn, você já dormiu com alguma fêmea?

—Algumas. —Ela acariciou o laço, me fazendo fechar os olhos e morder o lábio quando a imagem dela e de Kyara juntas, na minha cama, invadiu minha mente. Meu sangue esquentou, enquanto o desejo latejava em cada parte do meu corpo. —Sabe, isso poderia ser bem interessante.

—Não vou dividir você com ninguém. —Quase rosnei, enquanto puxava ela e a deixava de joelhos na cama. Quinn soltou uma risada, olhando pra mim por cima do ombro. —Depois vou querer saber dessa história direito. —Puxei o quadril dela em direção ao meu. —Mas eu sou o único que vai tocar em você a partir de hoje.

[...]

Olhei para Jason, que estava sentado na frente do piano ao lado da minha tia, tentando aprender a tocar. Mesmo com um pouco de dificuldade, ele conseguiu criar algumas melodias depois de umas boas tentativas.

—Eu nunca perguntei, mas você sabe tocar? —Quinn indagou, passando o braço pelos meus ombros, quando parou de pé ao lado do sofá onde eu estava.

—Sei. Mas não é algo que eu goste muito. Aprendi apenas por não ter outra coisa mais interessante. —Ela me encarou com as sobrancelhas erguidas. —Eu não tinha muito interesse em nada. Estava apenas existindo, até você aparecer.

—Salvei sua vida de uma existência entediante? —Murmurou, com um toque de provocação que me fez rir. Passei o braço pela cintura dela, a puxando até que ela estivesse sentada no meu colo.

—Na verdade, foi exatamente isso, girassol. —Beijei a pontinha do seu nariz. —Você me deu um motivo para desejar viver minha eternidade.

Ela sorriu, beijando meus lábios antes de voltar a observar o irmão mais novo e suas tentativas de aprender a tocar piano. Ele tinha jeito, só precisava de prática. Mas vivendo aqui, ao lado de Lou, que tocava tão bem, isso era questão de dias.

—Bom dia, Ágape. —Lou murmurou, assim que Ágape pulou para cima do piano, com os bigodes tortos em uma careta.

—Bom dia só se for pra você, Louisa. Pra mim é um péssimo dia. —Ele começou a se lamber, soltando um resmungo com a boca.

—Você e seu mal-humor diário. —Comentei, vendo o gato preto olhar pra mim de cima a baixo e então virar a cara, como se eu fosse um ser insignificante.

—Lady Arteryon? —Olhamos pra trás quando uma vampira de cabelos brancos muito curtos entrou ali, fazendo um tipo de reverência com a cabeça. —Lorde Arteryon aguarda a todos para uma reunião. O encontro com os outros lordes é em algumas horas.

Afundei no lugar, com o corpo de Quinn ficando rígido no meu colo. Encarei os olhos dela, sentindo sua mão acariciar minha nuca e uma onda de carinho e coragem passar pelo laço.

—Fique tranquila. —Falei pra ela, mesmo que aquilo fosse para mim mesmo. —Vou enfrentar o que quer que ele peça.



Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora