Will desapareceu com Louisa assim que eu fui trazida para o escritório de Lorde Arteryon. Apesar de querer passar mais tempo com ele, para tentar dissipar toda tensão que estava sobre meus ombros, sabia que em algum momento essa conversa aconteceria. Soube no exato momento que aceitei vir pra cá.
—Antes de qualquer coisa, quero te dar boas vindas. Não é sempre que um de nós encontra sua parceira ou parceiro por aqui. —Ele se sentou na sua bela cadeira do outro lado da mesa, passando a mão pelos cabelos extremamente brancos. —E Will é parte principal da família. Tanto Lou como eu ficamos felizes por vocês terem se encontrado, apesar da forma como aconteceu.
—Fico grata por aceitarem a mim e ao Jason. —Falei, tentando controlar o nervosismo. Meu sangue estava quente e a tensão era quase palpável.
—É uma coisa que eu deveria ter feito antes, não é? Ter estendido a mão para ajudar vocês dois.
Ele não olhou pra mim. Sua atenção estava no quadro pendurado na parede ao lado da mesa. Uma pintura dele e de Louisa. Eles eram bonitos juntos. Únicos e belos como um casal com laço de parceria deveria ser. Meus músculos rígidos relaxaram um pouco, quando lembrei do próprio laço dentro de mim.
—Eu nunca uso informantes que possuem uma família. Sempre achei que isso era uma péssima ideia, porque sei que se algo acontecer, não vai sobrar apenas para ele ou ela, mas para o restante da família também. —Comentou, como se estivesse pensando longe. —Mas o seu pai era persistente, determinado e com uma força de vontade surpreendente. Quando eu disse que não era uma boa ideia, que isso poderia respingar em vocês, ele disse que estava tudo bem. Que sua esposa também queria ajudar.
—E o que a minha mãe tem a ver com isso? —Indaguei, fazendo uma careta, enquanto apertava meus dedos uns contra os outros.
—Eles não eram parceiros, não é? Mas também não faziam parte do mesmo clã. Acho que você não sabe, mas a sua mãe era do Clã Arteryon. Deixei ela ir quando a mesma avisou que pretendia se casar com seu pai. —Ele deu de ombros. —Não costumo impedir a união de ninguém. E ela parecia feliz com isso, em ir para o Clã Huxley.
Não consegui falar nada, apenas desviei os olhos dele. Não fazia ideia daquilo. Sempre achei que meus pais eram ambos do Clã Huxley. Mas eu me deixei enganar pela aparência dela, tão particular ao Clã Huxley, mas não completamente.
—Ele foi até você, ou você foi atrás dele? —Indaguei, voltando a olhá-lo.
—Quando a questão dos humanos desaparecidos começou a circular, na época que a Lou veio pra esse lado da muralha, ele veio até o Clã Arteryon. Não falei diretamente com ele, porque estava... impossibilitado. Foi minha irmã, Kyara. —Ele hesitou, parecendo pensar. —Will certamente vai contar você essa parte da história, como tudo começou. Mas ele veio até aqui. Os dois vieram e falaram com Kyara. Como eu disse, costumo ser contra informantes que possuem família completa. Você já existia, apesar do seu irmão ainda não. —Ele se recostou na cadeira e batucou os dedos na mesa. —Quando eu retornei, começamos a nos comunicar por cartas. Ele me mandava algumas informações importantes do Clã Huxley, ou qualquer coisa que achasse que fosse interessante pra mim.
—Por quê ajudar você naquela época? Meu pai nunca pareceu se importar com a questão dos humanos. E mesmo que minha mãe tenha sido daqui, isso não é uma explicação boa o suficiente. —Afirmei, comprimindo meus lábios. Queria entender meu pai. Só queria entender suas escolhas. Mas acho que nunca vou entender de fato.
—Eu não sei, Quinn. Eles quiseram fazer isso. Como um líder que se preocupa com seu povo, fiz apenas o que deveria fazer, aproveitei cada informação. —Ele não pareceu envergonhado em revelar aquilo. Mas era o que qualquer lorde vampiro faria, eu sabia disso. —Foi uma época complicada. Depois que o Clã LaRue foi presenteado com um novo lorde, meu contato com seus pais diminuíram.
—Mas isso não o evitou de ser morto. —Afirmei, soando um pouco grosseira. Ele não pareceu se importar com meu tom de voz. Na verdade, Lorde Arteryon parecia não se importar com muitas coisas.
—Eu tentei interceder por ele. Se sua mãe estivesse viva, eu provavelmente teria conseguido salvá-lo disso. Mas não pude fazer nada, por ele e nem por você e o Jason. —Ele se curvou na mesa, entrelaçando os dedos e olhando pra mim com uma expressão determinada. —Sinto muito por tudo. Eu tinha grande apresso pelo seu pai. A ajuda dele foi muito valiosa pra mim. Mas você sabe como as coisas funcionam nos clãs, Quinn.
—Traição é traição. —Murmurei, vendo ele balançar a cabeça em concordância.
—Não sei o que pensa sobre mim ou sobre meu clã, Quinn. Mas a partir de agora você faz parte disso aqui. Will é sobrinho da minha parceira. Vou evitar qualquer coisa que machuque ela, mesmo que indiretamente. —Afirmou, voltando a olhar pro quadro dos dois. —Então da mesma forma que protegemos Will, vamos proteger você e seu irmão também. São parte da família agora. E costumamos levar isso muito a sério por aqui.
Olhei para as mãos que estavam no meu colo, lembrando do cuidado de Louisa com Jason, quando estávamos no Clã Huxley ainda. Ou como Kyara conversou com ele e respondeu todas as suas perguntas sobre o Clã Arteryon quando estávamos chegando aqui. Eles não eram o que eu imaginava. Não eram o que eu cresci achando que eram.
A tensão se dissipou no ar e meus ombros rígidos caíram. Nunca tivemos nada como aquilo até aquele momento. Eu estava sempre protegendo Jason de todos naquele clã, porque a maioria duvidava de nós. Mas eu não preciso fazer isso aqui. Não preciso me preocupar em acordar um dia e ele não estar mais comigo, porque foi levado da mesma forma que meu pai foi.
—Obrigada por isso, milorde. —Fiquei de pé, vendo ele me avaliar com os olhos, como se estivesse esperando mais do que aquilo. Mas eu não poderia culpá-lo por algo assim.
—Pode me chamar de Nicolay, Quinn. —Ele abriu um sorriso leve, indicando a porta, como se estivesse deixando claro que eu poderia ir embora se quisesse. Mas quando fiz menção de sair, ele me chamou de novo. —O aniversário de Will foi a dois dias. Acho que ele não se lembra disso. Talvez você queira fazer as honras e lembrá-lo disso.
Mordi o lábio e assenti, sentindo que as coisas estavam prestes a melhorar muito para Jason e eu. Eu provavelmente demoraria muito para me acostumar com aquele novo clã. Mas o pensamento de ter algo como Nicolay e Lou tem, era reconfortante.
Com esse pensamento, sai do escritório e fui atrás do meu parceiro.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Laços de Sangue e Poder / Vol. 2
FantastikEm uma terra de humanos e vampiros, o príncipe Will deveria ser aquele que subiria ao trono do reino mortal, para governar os humanos. Mas só tinha um único problema, por conta de uma maldição envolvendo sua mãe, a rainha, ele é um vampiro. O segred...