Laços de Sangue e Poder / Vol. 2

Capítulo 24: Terras mortais.

Ele me encarou com uma fúria irredutível, enquanto eu ainda absorvia a sensação de alivio que inundava meu corpo. Aquele estranho gato falante estava certo, Lorde LaRue realmente veio ajudar.

—Você, fora! —Ele apontou para Megan, que ainda era segurada por dois vampiros, com os olhos arregalados enquanto tentava entender o que estava acontecendo. Nunca achei o clã o mais justo, mas nunca esperei que Fallon Huxlay fosse capaz de tirar a vida de um dos seus gratuitamente apenas para conseguir uma informação.

Ele agarrou meu braço e me lançou em direção aos vampiros. Cambaleei, até os dois me agarrem, com Dane fazendo questão de vir ajudar, quando comecei a me debater. Ergui os olhos, ainda me debatendo contra as mãos firmes, vendo os olhos de Megan fixos em mim, com a sombra de algo que eu não sabia o que significava.

Ela parecia surpresa, magoada e chocada. Mas ela foi embora sem pensar duas vezes quando Lorde Huxley a expulsou uma segunda vez, mandando o vampiro que ainda aguardava nas portas trazer Lorde LaRue até ali.

—Quando isso terminar, vou cuidar de você. —Prometeu, lançando a mim o olhar mais raivoso do mundo. Soltei um barulho de descrença com a boca, sabendo que aquilo o deixaria mais irritado

Então Lorde LaRue estava passando pelas portas, com passos elegantes e lentos como um predador. O rosto era uma mascara de calma e divertimento. Dos três irmão LaRue, sempre o achei o mais belo de todos. O rosto dourado e manchado de sardas, além dos cabelos vermelhos como sangue na altura do nariz, caindo sobre os olhos como uma cachoeira de sangue.

—Estou atrapalhando alguma coisa? —Falou, olhando pra mim por alguns segundos, ignorando completamente o lorde vampiro que agora se sentava em um trono.

—O que quer aqui? —Lorde Huxley indagou, quase rosnando. —Se quer tratar algum assunto, marque uma reunião com todos os lordes.

—Eu poderia marcar, sabe. Mas se eu fosse você resolveria isso aqui, entre nós. —Ele finalmente desviou os olhos de mim para Fallon. —Onde está o príncipe?

—Isso não é da sua conta.

—É da minha conta a partir do momento que suas ações ameaçam todos os clãs! —Lorde LaRue rebateu. —Você está mantendo o príncipe do reino mortal como prisioneiro. Tem noção de como suas ações podem estragar completamente a paz estabelecida a anos? —Ele fez uma careta, torcendo os lábios. —Ia fazer o que, matá-lo?

—Ele invadiu meu clã, estou no meu direito de fazer o que quiser com ele, segundo as leis e...

—As leis... —Lorde LaRue parou, respirando fundo. —As leis deixam claro que qualquer vampiro que invada o clã de outro deve ser punido, mas com a presença de todos os envolvidos presentes na hora da decisão das punições. —Ele ergueu o queixo, com um ar de pura indiferença. —Se estivesse tão preocupado assim em seguir as leis, teria contatado Lorde Arteryon para uma reunião, ou o rei dos humanos. Mas você não fez nada disso.

—Se veio aqui me lembrar das leis e tradições, pode ir embora. Estão no meu clã, com as minhas regras próprias. —Fallon afirmou e como resposta, Lorde LaRue revirou os olhos, parecendo subitamente entediado.

—Vou te contar o que vai acontecer se tocar naquele príncipe, já que você parece estar ficando cego com o passar das décadas. —Lorde LaRue começou e eu teria rido se não estivesse ocupada tentando me soltar do aperto dos vampiros. —Se matá-lo, machucá-lo ou continuar mantendo-o preso aqui, o rei e a rainha, que caso você não se lembre é irmã de Lady Arteryon, terão todo o direito de retaliação as suas ações. Automaticamente o restante dos clãs terão que escolher um lado. —Ele sorriu, negando com a cabeça. —Clã Artetyon, sendo ligado diretamente aos humanos, obviamente ficara ao lado deles. Lorde Veliant está mais do que determinado a fazer de Kyara Arteryon sua esposa. Então acho que não vamos nos surpreender com o lado que ele escolher. Lady Driatanis talvez fique do seu lado, ela tende a ser bem surpreendente. Agora eu... —Ele estalou a língua, como se estivesse pensando no fato. —Lady Arteryon é uma graça, então...

—Essa é a primeira vez que vejo você elogiando alguém. —Soltei o ar com força, quando Lorde Arteryon passou pelas portas, seguido por sua parceira, sua irmã e um grupo de quatro outros vampiros do Clã Arteryon. —Não sei se fico surpreso ou com raiva por estar falando da minha parceira.

—Ah, ela é uma graça, você sabe. —Lorde LaRue ergueu as mãos para o alto. —Mas é toda sua e não pretendo tentar contra isso.

Ele piscou para ela, ganhando um rosnado de Lorde Arteryon. Com uma risada, ele se afastou para o lado, ainda com as mãos erguidas pra cima.

Meus olhos se iluminaram quando o sorriso de Jason se alargou na minha direção. Ele estava de mãos dadas com Lady Arteryon, no meio do grupo de vampiros de cabelos braços. Estava bem e com um sorriso muito grande pra mim, como se estivesse feliz por ter feito tudo certo.

—Você o avisou! —Lorde Huxley ficou de pé, com a raiva muito clara no seu rosto.

—Apenas evitando uma catástrofe maior. Deveria me agradecer. —Lorde LaRue se escorou em uma das pilastras no canto da sala, dando de ombros, parecendo se divertir muito com o que acabara de criar ali.

—Onde ele está? —Lorde Arteryon indagou, olhando para o vampiro de pé na frente do trono.

—Ele invadiu meu clã. Com seus antecedentes, imagino que tenha o enviado até aqui. —A expressão de Lorde Arteryon não vacilou. Ele continuou sério, olhando para Lorde Huxley com os lábios curvados em reprovação.

—Onde ele está? —Repetiu a pergunta, ignorando a acusação. —Você deveria ter enviado uma mensagem a nós quando o encontrou. Mas não fez isso. Se quer puni-lo por estar aqui, tudo bem. Mas faça isso do jeito certo, seguindo as leis que vocês tanto pregam.

—Ele não faz parte do seu clã. Ele é príncipe das terras mortais e estava aqui como um recém transformado. —Fallon rebateu. No mesmo instante a expressão de Lorde Arteryon mudou. Um sorriso muito pequeno brotou nos lábios dele, enquanto ele tombava a cabeça de lado.

—Primeiro você diz que eu o mandei até aqui. Agora está dizendo que ele não faz parte do meu clã e que estava aqui como um recém transformado. —A risada baixa dele preencheu o ar. —Está começando a ficar difícil de entendê-lo, sabia? Deveria decidir se vai ou não colocar a culpa em mim, antes que isso acabe se tornando entediante.

—Saia do meu clã, agora! —Lorde Huxley rosnou, então baixou os olhos para Jason, que estava olhando pra mim, ainda ao lado de Lady Arteryon e segurando a mão dela. —Está com algo que me pertence, a propósito.

Dane se afastou de mim e eu comecei a me debater quando percebi que ele estava indo em direção ao meu irmão. Jason sumiu da minha vista quando Lady Arteryon e a irmã de Lorde Arteryon deram um passo para frente dele, protegendo Jason.

—Não ouse. —Lorde Arteryon nem mesmo olhou para Dane quando ele ainda sim deu um passo na direção das duas. —Toque na minha parceira ou na minha irmã e eu não vou me incomodar em começar uma guerra nesse exato momento. —Ele deu um passo à frente, erguendo o queixo e cerrando os olhos. —Traga-o aqui agora mesmo!

—Você não dá ordens dentro do meu clã! —Fallon rosnou de volta. —Esse é o meu território. Aquele vampiro atrás delas pertence a mim.

—Tente-o tirar de nós então. —Kyara Arteryon desafiou, abrindo um sorriso muito grande, enquanto olhava para Dane como se desejasse muito que ele tentasse fazer aquilo.

Observei Jason enfiar a cabeça no meio das duas e então mostrar a língua e o dedo do meio para Lorde Huxley. A risada se entalou na minha garganta quando Lady Arteryon o empurrou para trás dela de novo, ficando com as bochechas vermelhas ao mesmo tempo que soltava uma risada baixa.

—Não vou sair daqui sem Will. Então pare de perder o meu tempo e o seu e mande algum dos seus vampiros trazê-lo aqui. —Lorde Arteryon abriu um sorriso, olhando para a parceria por alguns segundos, antes de se voltar para Lorde Huxley de novo. —Você não vai me querer como inimigo. Acho que sabe muito bem o que aconteceu com o último lorde vampiro que me desafiou.

E com a risada baixa de Lorde LaRue preenchendo o silêncio, como se ele fosse a confirmação suficiente daquelas palavras, o queixo de Lorde Huxley finalmente oscilou, com a determinação dando lugar a hesitação nos olhos dele.

Continua...