Jarro de vagalumes

51 6 8
                                    

N.A:

Capítulo longo significa fortes emoções.


Só que eu não esperava passar a última semana conciliando entre a minha casa e a casa da Isabela. De manhã eu trabalho em meus roteiros enquanto Isolda passa o tempo livre acumulando mais coisa em nosso apartamento, que está praticamente remobiliado, com exceção da cozinha. Tudo isso acordado entre ela e o dono sem que eu soubesse, mas não me importo. Confesso que minha irmã realmente conseguiu deixar o lugar aconchegante como uma casa deve ser, e não um espaço em que sou assombrada constantemente pelos meus demônios internos.

De tarde, sou assistente da Isabela, onde vez ou outra Isolda vai até lá passar o tempo. Limpo os pincéis, arrumo os potes de tinta, procuro por algum artigo em específico ou referência e recuso as chamadas do seu orientador procurando por ela pedindo pelo trabalho atrasado. Devo ressaltar que as tais fotos foram tiradas da cabeceira. Toda essa nossa convivência é regada a muita música pop, que inclusive já conheço boa parte e sei diferenciar boa parte das artistas que cantam.

Estou sentada na cama de Isa sentindo o vento da janela aberta por conta do seu trabalho com tinta a óleo, que inebria o ambiente. Meu telefone vibra do lado, e o pego.

"Acabei de sair do treino. Vou comer alguma coisa. Ainda está na casa de sua amiga?"


— Bah, é o dia todinho vocês nisso?

Desde que trocamos mensagens pela primeira vez, começamos a conversar com certa frequência, tanto que meus dedos até se tornaram mais rápido por conta do fluxo de mensagens que trocamos. Normalmente nos falamos no período da tarde, que é quando estamos mais desocupadas e no início da noite. Mas, nada demais, não? As pessoas fazem isso normalmente com as outras que querem conversar.

"Sim, só vou sair mais tarde."

— Será que estou sendo inconveniente? – digo ainda com o telefone em mãos, virando só o rosto para a olhar.

— Não é isso – ela diz por entre as pinturas – é que vocês só ficam se falando nisso. Por que não chama ela pra sair hoje?

— Eu? – sinto minhas bochechas corarem – Por que eu faria isso?

— Já passam o dia todo falando por mensagem, o que custa se encontrarem e conversarem cara a cara?

— Ela está ocupada esses dias, não quero... – não sei se quero interagir pessoalmente com ela e a fazer se sentir frustrada ao ver como realmente sou desinteressante.

— Hoje é sexta-feira – Isabela volta à sua pintura – faz o convite. Fala que vai sair com tuas amigas hoje e pergunta se ela não quer ir, simples.

Dou com os ombros, olhando para a tela.

— E se ela não quiser?

— Então ela que perde em não querer sair com nós – Isabela faz uma careta e aumenta o som. É uma das suas músicas preferidas que começa a tocar.

"Não quer sair conosco?"

Envio a mensagem e volto a apoiar minha cabeça na cama dela, olhando de relance pra Isabela cantarolando Cool for the Summer, da Demi Lovato. Ela ouve tanto essa música que já até decorei.

— Por que tem tanto medo de falar com as pessoas? – ela me questiona sem tirar a atenção do que está fazendo.

— Porque tenho a impressão de que se eu me aproximar demais de alguém – me viro de lado em sua direção – essa pessoa vai me abandonar.

As incríveis desventuras de MorganaOnde histórias criam vida. Descubra agora