- Mog.
Ouço Isa colocar o chá de cidreira do meu lado, sentando no chão, me encarando deitada no sofá, de peito pra cima, uma almofada em cima da minha cabeça.
- Não acha que está apaixonada não?
- Não estou - minha voz sai abafada - devo ter comido alguma coisa que me fez mal.
Isabela tira a almofada da minha cara, e me encara séria.
- Se você tá dizendo, então não se importar em lembrar da guria te abraçando, te tocando - ela faz um bico com os lábios pensativo - o toque dela contra o teu...
Meu estômago revira mais uma vez, e sinto minha cabeça girar. Coloco a mão na minha boca, e me levanto correndo pra ir pro banheiro. É o tempo de chegar, enfiar a cabeça no vaso e ver tudo indo pra fora. Apoio minhas mãos na porcelana, e respiro fundo, ofegante. Isabela para na porta, me olhando, possivelmente pra saber se preciso de ajuda.
- E se eu estiver? - pergunto mais para mim do que para ela, olhando a esmo para frente.
- Aí você beija a boca dela... - Isabela se ajoelha ao meu lado, passando a mão na minha costa, o que faz meu estômago dar outra galopada visceral pra fora - Barbaridade, gostar de alguém te deixa tão abichornada assim?
- Eu posso estar só confundindo tudo... - suspiro fundo, apoiando minha cabeça nas mãos - Não sei porque isso está acontecendo comigo.
- Mas isso é tri normal - ela dá com os ombros, me puxando para trás, para sentar no meio de suas pernas ali, no chão - tenho certeza que ela gosta de ti também.
- Como pode ter tanta certeza disso? - encosto minhas costas contra o seu peito, e seus braços se apoiam com os joelhos ao meu lado.
- Não sei, mas é o que parece - Isa dá uma risada contida.
- Mas, Isa...- engulo em seco, sentindo meu corpo tremer com essa hipótese - Se for, o que eu faço?
- Nessas horas eu prefiro pensar que nossa vida é como um rio - ela pega meus braços, apoiando nos dela, gesticulando - a água vai seguir o fluxo, encontrando um obstáculo ou não, ela vai continuar - e os cruza junto com meu corpo - se gosta da guria, deixa as coisas seguirem como estão. Uma hora vai fluir.
- Tenho medo de estragar tudo - abaixo a cabeça, jogando-a para frente, cansada - não sei se consigo lidar com isso.
Olho de relance pra ela, que bate a língua entre os dentes, balançando meus braços.
- Mog, você vive essa situação com a Isolda que não é fácil, passou por aquela questão bucha com aquela outra guria, mas está aí, fazendo o que gosta, seguindo a vida... - e vira o rosto pra me encarar - Acho que consegue sim.
Dou com os ombros, afundando contra ela, e ela me aperta contra o seu corpo, me acalentando.
- Escrever é bem mais fácil do que viver - respondo suspirando, sentindo o cansaço me invadir de uma vez.
- É... - Ela apoia a cabeça no topo da minha - A realidade gosta de maltratar mesmo.
Me sinto como em uma cena de filme, o qual nós duas, sentadas no chão frio do banheiro, abraçadas tal como duas almas perdidas que procuram se acalentar a todo custo contra as adversidades da vida.
Ela me ajuda a levantar, e só aí escovo os dentes e tomo o chá para em seguida me sentar em sua cama. Me sinto bem melhor, como se nunca tivesse sentido nada, mas também estou evitando pensar no que aconteceu a todo custo.
- Acho que essa cabe em ti - e me dá uma regata com shorts combinando. Tenho certeza que essa roupa não pertence a ela, mas estou sem graça de perguntar se é da garota da foto. Apenas agradeço e troco de roupa, me deitando em sua cama, mas ela não deita comigo. Acaba indo para o seu computador, e é essa cena que vejo antes de apagar de uma vez.
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As incríveis desventuras de Morgana
RomansDepois de passar os últimos sete anos em uma clínica psiquiátrica, Morgana tem alta e se vê tendo que aprender a viver fora dos muros, e o pior: ser adulta. Conforme vemos sua história ser contada por ela mesmo, adentramos nos seus medos, anseios...