Só por um dia

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N.A.: Como esse capítulo ficou muito longo, será dividido em duas partes.



Carol. Nunca fui santa. Você pode viver pra sempre. Meu primeiro verão. Retrato de uma jovem em chamas. Ammonite. Imagine eu e você. Elena Undone. Desejo Proibido. Almas Gêmeas. Você nem imagina. A trilogia da Rua do Medo. Meu amor de verão – não confundir com o Meu Primeiro. Como esquecer. A jovem Rainha. D.E.B.S. Desobediência. Sim ou Não. Bloomington. A Turminha das Sapinhas de Tetinhas Pequeninhas – sim, é esse o nome, e agora... Terminando de assistir Alguém avisa?

Eu não acredito que passei a última semana enfurnada na casa da Isabela assistindo filmes com garotas fazendo tudo o que se pode imaginar, em todo o contexto possível. Isso só contando os filmes, porque a lista de série também é extensa, sem contar os livros. Ela me emprestou um chamado Carmilla, a qual não consegui fechar uma opinião a respeito, e agora me emprestou um da Virginia Woolf.

Vivi os últimos dias vendo mulheres descobrindo o amor e tendo finais trágicos, outros não. Garotas que se amam, mas a sociedade não aceita e garotas se beijando e se tocando. Mergulhei tão fundo nisso que até dormindo eu sonho com casais sáficos – essa palavra que Isabela tanto fala – isso quando eu não estou inserida no meio.

Eu acho que estou um pouco... Extasiada com tudo isso, e minha companheira de baldes de pipoca e pedaços de chocolate em vez de se cansar, parece estar ainda mais feliz. Só não Isolda que até tenta acompanhar, mas acaba saindo na metade do filme, indo fazer outra coisa.

Parece que a nossa vida se fechou em uma bolha lésbica dentro dessas paredes ao qual qualquer coisa que seja diferente vai ser estranha, e não a gente. É algo tão... Convidativo, como se eu tivesse perdido muito tempo sem saber que existia essas coisas. Não é de se estranhar, claro, afinal jamais chegaria esse tipo de conteúdo até onde eu vivia. Claro, tinha acesso à Internet e essas coisas encontramos nela, mas é difícil quando não tem alguém que te mostre que tem e te indique onde procurar.

Não precisou assistir muita coisa pra perceber que ela tinha razão. Quando temos algo pra se identificar, se torna bem mais fácil, e quando se torna aprazível... Você chega nesse nível de imersão que chegamos.

Ela tem razão. Quando temos algo para nos espelhar, não nos sentimos sozinhas, e nem tão confusa quando as coisas se desenvolvem em uma jornada solitária pra você. Tem aquela garota, mesmo que na ficção, que passa por algo parecido com o que você passa ou passou, com um desenrolar parecido, com vivências equiparadas. É como se abrisse uma porta com um letreiro escrito "você não está sozinha". Isso deve ser óbvio para outras garotas, mas pra mim é tão novo poder palpar isso sem ter medo do que pode ser...

Vejam só, esse lesbisivão – um intensivão lésbico, segundo Isabela – me faz até ficar mais tranquila com a ideia de tocar na mão de uma garota. Sim, só tocar, não vamos nos precipitar com outras coisas, mas pra ela o efeito é outro.

— Bah! – ela joga o controle para o lado – Nessas horas eu queria uma namorada.

— Sério? – digo tentando não rir – Mas olha só as coisas que ela se sujeita porque gosta da guria.

Daqui a pouco, viro uma versão compacta dela.

— Mas ao menos ela tem alguém que fala que ama, acorda e dorme do lado dela, essas coisas... – ela faz uma cara emburrada – não... Não essa galinhagem que virou minha vida.

Ela está triste porque a garota desmarcou com ela, e ficou de ver se vinha hoje e até agora não confirmou. Desde a hora que cheguei, ela pegou no telefone exata quinze vezes. Devo dar um passo a mais e dispor de um abraço?

As incríveis desventuras de MorganaOnde histórias criam vida. Descubra agora