Volte para casa

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Lá está ela, carregando duas malas grande e uma bolsa larga. Isolda está com seus óculos escuros redondo, chapéu de palha e um macaquinho de cor verde. Se alguém a vê assim, vai jurar que ela está vindo da praia, e não de uma rehab. Assim que ela me vê, corre com as malas em mãos e me dá um abraço apertado. Ela ainda usa o mesmo perfume de sempre.

— E aí, vamos?

Busco-a no terminal, e pegamos um carro até no que também será seu apartamento. Quando paramos em frente, ela dá sua esperada olhada de cima a baixo.

— Nada mau – ela dá com os ombros – como é a vizinhança? Aqui é perigoso?

— Aparentemente não – digo tirando uma das malas do carro – mas você sabe que não sou de sair muito.

— Bom dia! – ela acena para o porteiro, que responde caloroso nos ajudando com as malas até o elevador. Deixei pra fazer compras quando ela chegasse, mas sei que ela vai reclamar. Ao nos depararmos com a porta de entrada do nosso apartamento, abro e ela vai entrando, curiosa.

E, como o também esperado, olha com desdém ao redor.

— Mas que muquifo é esse? – ela coloca as malas encostadas na parede – Cadê os móveis daqui? E esse sofá velho?

Ela vai logo entrando no quarto, dando um grunhido descontente.

— Porra, Morgana! – Isolda se volta pra mim – Você não tá mais num hospício. Parece que eu entrei no teu quarto de lá e...

Isolda coloca a mão nas têmporas, suspirando, e vai caminhando até a mesa, pegando um dos livros e o jogando no sofá.

— Ah, claro, sabe gastar teu dinheiro com isso e continua usando essas roupas velhas gastas.

Reviro os olhos, mas ela grunhe insatisfeita.

— Sério, Morgana, isso tá parecendo aquelas casas que os sem-teto vivem, abandonadas. Acha que é bom pra ti viver assim? Mal entrei e já estou com depressão – ela gesticula no ar – Sinceramente. tá tudo uma imundície.

— E vai fazer o quê? – dou com as mãos no ar – Jogar tudo fora e comprar novo?

— Como adivinhou?! – ela revira os olhos, abrindo os armários, o que a faz resmungar ainda mais – Tu tá vivendo de quê? Doação? Só tem um Cup Noodles e meio pacote de bolacha de água e sal – e abre a geladeira em seguida – e ótimo, uma garrafa quase seca e esse tomate nem presta mais. Estou o quê, na casa de um homem que não sabe lavar nem as cuecas e pede ajuda pra mamãe?

— Olha, maninha – pego a carteira de cima da mesa e entrego pra ela – você é melhor do que eu nisso, então faz o que tem que fazer.

— Bem lembrado – ela pega a carteira da minha mão – tenho que ver se o banco já liberou minha conta. Como vou viver sem dinheiro? Se for pra depender do teu, sua mão de vaca, vou passar fome e catar lixo pra sobreviver.

— Não te preocupa com isso – dou as costas, pego um dos livros com a leitura pela metade – só vai lá e...

— Aonde pensa que vai?

— Fugir pra casa da vizinha – que inclusive acho que ainda está dormindo.

— Nada disso – ela tira o livro da minha mão e me segura pelo pulso – Nós vamos fazer compras, agora.

Já deu pra perceber um ponto forte da personalidade de Isolda: autoritária. Ou você aceita ou só vai embora, porque o que ela quiser fazer, ela vai.

Segundo ponto: consumista. Se ela tiver dinheiro, ela vai gastar até onde der.

O resto, vou ter muito tempo pra relembrar com afinco como é convivermos juntas.

As incríveis desventuras de MorganaOnde histórias criam vida. Descubra agora