Quebra

32 4 11
                                    



N.A.: Capítulo intenso pra c****** virá a seguir.



No final das contas, o parecer final foi da produtora, que decretou que as filmagens continuassem comigo a par do que acontecer, mas tendo que acatar as mudanças da diretora que não intervisse completamente no produto final. Eu me dei por satisfeita, mas Camille se sentiu coagida pela reação dos atores a continuar com o roteiro.

Essa não é uma briga que quero comprar, mas já dá pra entender que nossa relação ficou estremecida, focada somente no necessário em poucas palavras. Sei bem que ela está com raiva de mim, e torço pra que isso não se prolongue, mesmo achando que estou pedindo muito. Por isso não gosto de ter que interagir com gente, nunca sei o que esperar delas além do pior.

É porque pouco me importo com qualquer coisa no momento.

Hoje não é um dia comum, daqueles que consigo lidar até chegar em casa. É um daqueles que estou a ponto de ter uma crise que sabia que ia chegar.

E agora tento me controlar pra não perguntar pra Isolda como ela consegue aquelas pílulas, ou de evitar fazer uma visita só pra saber se ela não pode me ceder uma daquelas...

Não tem como passar pelo lugar que passei sem nenhuma sequela e, levando em consideração a minha genética nada favorável, acho que ainda me saio bem por não ter ficado completamente dependente química.

Quer dizer, em parte. Meu desmame medicamentoso foi um ponto bastante complicado, o que dá pra compreender que, quando as coisas pioram, eu sempre fique tentada a dar uma fugida da realidade.

Eu não quero só fugir da realidade.

Eu quero deixar de existir completamente.

Estou mal pra caralho.

Meu exterior é totalmente comum, meu interior é uma confusa colcha de retalhos. Não que eu goste. Eu queria ser como todo mundo.

Estou muito triste.

Minha mãe sempre foi aversa a que tivéssemos contato com a "futilidade" do mundo ao nosso redor. Talvez por isso Isolda tenha mergulhado tão fundo nisso quando teve a oportunidade, e eu cada vez associei mais minha vida à realidade que eu crio no papel.

Não consigo suportar minha companhia.

Parece que minha vida com minha família foi uma mentira que a mente criou em algum momento pra poder suprir algo que nunca existiu. Todas as memórias da minha infância são envoltas em algum trauma difícil de digerir, com grandes lapsos de tempo entre uma e outra, e quando se aproxima da adolescência, vai afunilando até chegar onde eu cheguei há anos atrás.

A culpa não é de ninguém, é só que tudo acumulou de uma vez.

Hoje não é um dos meus melhores dias. Na verdade, há dias que não tenho um momento pra chamar de bom, e isso aflora coisas em mim que eu não gostaria de lembrar.

Da última vez que me senti tão detestável, fui sedada por dois dias.

É o que eu queria no momento.

Eu só consigo pensar nisso. Como é o nome do xarope que a Valentina tomava? Era com mais alguma coisa... Ah sim, é, esse mesmo, lembrei.

O que me faz, depois do expediente do trabalho, procurar a farmácia mais próxima e pedir por um antitússeno e uma cartela de comprimidos. Sim, para tosse, estou com uma tosse terrível por não conseguir digerir a realidade.

As incríveis desventuras de MorganaOnde histórias criam vida. Descubra agora