Pegamos o caminho de volta para a cidade de Isabela. Ela ligou de madrugada perguntando se estávamos aos arredores, porque se sim, se não tinha como buscá-la, que ela custeava toda essa parte. Raquel não fez nenhuma objeção, e não iria negar um favor a ela. Saímos no raiar do sol e eu, do lado da motorista, me aninhei com sua manta de viagem e dormi em parte do caminho.
Ainda estou extasiada do dia anterior. Penso que, em uma próxima vez, quando não estiver tão frio, possa tomar banho no mar como sempre imaginei.
Chegamos antes do almoço, e quando Raquel apita, Diana, a mãe de Isabela, sai para falar conosco.
— Me desculpem o inconveniente - diz ela em um tom triste, nos abraçando - eu, não imaginei mesmo que... Esse tipo de coisa fosse acontecer.
Então é melhor não saber que a gente sabia bem disso. Raquel nega em um sinal de que está tudo bem, e faço o mesmo.
— Não se preocupe, está tudo bem?
— Está, só... - ela parece aturdida - vou chamar a Isabela. Isa!
Eu e Raquel nos entreolhamos, e me aproximo dela. A mãe volta com o ar de ainda mais constrangimento.
— Tem como vocês esperarem um instante? Não querem entrar?
— Não, estamos bem aqui, senhora - Raquel se antecipa, e ela volta pra casa - É melhor assim.
Depois de uns dez minutos, outro carro chega atrás do nosso. Dele descem umas três pessoas, um homem e duas mulheres. Uma delas se destoa dos demais: é alta, tem os ombros largos, cabelos pretos compridos lisos, uma cara de poucos amigos, usando um blazer preto e uma camisa social branca entreaberta. Ela olha de um lado para o outro, e os outros conversam entre si, e eles estão vestido do mesmo jeito.
Raquel arqueia as sobrancelhas, e tenta esconder o riso sugestivo. A mulher nos olha e desvia o olhar, mas logo se volta para nós, com a feição surpresa.
— Ortiz? - a mulher dos ombros largos e voz marcante vai até Raquel - O que está fazendo por aqui? Se perdeu?
Ela dá um abraço apertado em Raquel, que bate em seus ombros, amigável.
— Essa que é a Rafaela, Morgana - ela aponta com o queixo para a sujeita - a melhor nadadora que temos, não é?
— Não é pra tanto - ela dá com os ombros, e aperta minha mão com firmeza - prazer, Morgana.
Assinto sem dizer nada. Rafaela me amedronta de certa forma, não sei dizer se pelo seu porte, sua voz ou seu olhar congelante, firme... Deve ser isso. Essa sua postura me lembra Eleanor de um jeito que não queria.
— E você, veio fazer o quê por aqui? - Raquel pergunta, e ela olha em direção a casa.
— Eu... - ela cerra as sobrancelhas, olhando ao redor - Vim buscar a Cláudia. Estava em um encontro desportivo na capital, ela me ligou e viemos saindo de lá por aqui...
— Vim fazer a mesma coisa - Rafaela deve ser da altura de Isabela ou quase, só que com um porte físico duas vezes maior - vim buscar a amiga dela - e segura meu ombro - a Isabela, conhece?
— Isa? - ela cerra as grossas sobrancelhas novamente - A prima da Cláudia? Só por nome - e me encara - Vocês são parentes?
— Ah... - me desconcerto totalmente - não, só amigas.
E, do lado de dentro, sai Cláudia com sua mala de rodinhas rosa metálica, óculos escuros, cabelo preso e vestido florido até as canelas.
— Bom dia, gurias - diz ela animada indo ao lado da que sabemos ser sua amada - a Isa já vem, só está...Arrumando umas coisas.
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As incríveis desventuras de Morgana
RomanceDepois de passar os últimos sete anos em uma clínica psiquiátrica, Morgana tem alta e se vê tendo que aprender a viver fora dos muros, e o pior: ser adulta. Conforme vemos sua história ser contada por ela mesmo, adentramos nos seus medos, anseios...