Há cinco dias que estou aqui.
No primeiro dia, não era capaz de responder nada. Era tudo muito confuso. Minha cabeça ainda estava ligada com tudo o que me aconteceu. Não sei dizer até agora se foi um sonho intenso ou outro tipo de experiência.
No segundo dia, já mais lúcida, vieram me perguntar das minhas reais intenções com a ingestão de medicamentos. Não respondi a nenhuma delas. Deixei essa função para minha tia.
Fiquei com medo de ter que falar alguma coisa e me levassem de volta para lá. Dormi a maior parte do tempo.
No terceiro dia já conseguia me levantar da maca sem problemas. Tentei comer só, mas ainda ficava zonza. Efeito dos medicamentos. Também tiraram aquele cano do meu nariz.
No quarto eu pedi para tomar banho e mudar de roupa. Pediram mais alguns exames, mas me senti extremamente cansada de tudo. Ouvi rumores que teria que ir a um psiquiatra.
Ontem também veio as primeiras pessoas pra saber o que tinha acontecido comigo. Jornalistas? Curiosos? A polícia? Não quis saber.
A única coisa que pedi, ainda grogue quando acordei, foi que não queria nenhum tipo de visita. O que necessariamente não impediu de que ouvisse a voz delas.
Não queria que ninguém me visse nessa situação.
Afinal, até onde sei, quem me encontrou mais uma vez foi Isabela, que me levou logo para a emergência. Não sei como isso aconteceu, e minha tia diz que não importa. Pelo visto, não fora algo bom.
Até agora não sei o que aconteceu de fato. O pouco que sei é que me encontraram e me trouxeram, e que dormi por dias, agora não sei quantos. Concluo que deve ter sido mais de uma semana. Talvez minha tia não queira dizer para tentar me proteger ainda mais.
Porém, a única coisa que quis saber era se Isolda sabia e sim, sabe, e sim, reagiu mal, e sim, teve um surto. Ouvi minha tia falar com ela, mas também ouvi que ela queria falar comigo e que não importava a propina que ela tivesse que pagar ou bater em alguém, ela daria um jeito de me ver.
As demais, estou constrangida demais para interagir. A última vez que falei com Raquel eu gritei com ela pedindo pra que fosse embora, e depois ignorei Isabela como eu pude.
Deixo meu exemplar de Rei Lear do lado e Berenice senta ao meu lado, segurando minha mão.
— Está se sentindo melhor hoje?
Assinto que sim, e ela gesticula para que eu me sente.
— Não quer dar uma volta antes de comer? - ela tenta dizer em tom brando, segurando meus dedos - Pegar um pouco de ar fresco pode te deixar melhor.
Dou com os ombros. Querer não quero, mas vejo que é necessário.
— Vem - ela gesticula para segurar minhas mãos e assim me levanto.
Passar tanto tempo deitada assim realmente é estranho. Parece que suas pernas não respondem por ti. Com certa dificuldade e sentindo câimbras, me levanto segurando seu braço. Já parei de tomar soro. Estou só em observação até meu corpo se limpar. Não que eu ache isso necessário, mas o corpo médico e minha tia concordaram com isso.
A passos lentos, passamos pelo corredor até chegar no hall. Meus lábios ressecados e olhos frágeis mal se adequam a iluminação natural que vem de fora. Das grandes janelas, vemos a cidade movimentada.
Minhas pernas fraquejam, e me encosto na parede. Logo ela se prontifica de me sentar em uma cadeira ali próximo.
— Tia, posso fazer uma pergunta? - digo olhando para fora.
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As incríveis desventuras de Morgana
RomanceDepois de passar os últimos sete anos em uma clínica psiquiátrica, Morgana tem alta e se vê tendo que aprender a viver fora dos muros, e o pior: ser adulta. Conforme vemos sua história ser contada por ela mesmo, adentramos nos seus medos, anseios...