Roteirista principal - M.

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Sei que aquilo que aconteceu no quarto seria um ótimo jeito de terminar uma história, afinal sempre cai bem um momento de superação cercado de amor e emoção.

Mas a realidade é que aconteceu outras coisas depois daquilo, as quais tentarei resumir brevemente.

Eu tomei alta e consegui a proeza de não ser mandada de volta para a clínica, porém com o acordo que voltaria aos medicamentos por ora e terapia por pelo menos uma vez no mês. Está ajudando bastante.

Infelizmente, só posso toma-los com a supervisão de alguém, que nesse caso foi Isabela. Estamos dividindo o mesmo teto no momento por três bons motivos.

Um, que ela não estava mantendo o aluguel sozinha, dois que foi dito expressamente que eu bom que eu tivesse a companhia de alguém, e três, que achamos que podemos viver em harmonia, com a condição de que cada um tenha o seu quarto.

Por isso, acabamos saindo do apartamento em que morávamos - já que o aluguel também tinha aumentado - e fomos para outro com dois quartos, mais espaçoso.

Não posso dizer que não fiquei triste em me despedir daquele lugar o qual tive tantos momentos bons - no seu apartamento - e ruins - na maior parte do tempo, no meu - mas é algo que acabei me acostumando. Sem contar que aqui é mais arejado.

Minha irmã conseguiu se limpar e decidiu tirar um tempo viajando na tentativa de espairecer as ideias. Fui a pessoa que mais apoiei ela a isso.

Não tenho o que dizer sobre mim. Minha rotina ainda é a mesma de sempre, só que agora com a obrigatoriedade de um telefone e a presença mais firme da minha tia na minha vida, além de mais trabalhos pra escrever, revisar.

Inclusive, estou quase roendo minhas unhas de tensão em saber que hoje a série vai ao ar na plataforma de streaming. Tentei não ler nenhuma crítica antecipada e, mesmo o pessoal da produção me convidando para assistir todos juntos, eu prefiro fazer isso com as pessoas mais próximas.

Sobre tudo o que aconteceu, minha tia conseguiu contornar toda a situação. Por ora, acho que o fenômeno não vai explodir da bolha tão cedo. Tanto Raquel quanto Isabela reconheceram que aquilo que fora dito deveria ser esquecido e deixado onde está.

E, depois disso, nenhuma outra experiência de quase morte aconteceu, e nem mesmo ver Valentina como costumava. O psicólogo disse que isso era ótimo e um bom progresso. Vou acreditar no que ele diz.

Possivelmente, algo que posso acrescentar é que voltei a tocar por diversão, em extensas sessões com aquela que me conhece de outra vida. Parou de ser uma tortura e se tornou algo que pode ser aprazível, ainda mais com boas companhas.

Espero que ela já tenha aceitado que não vou largar tudo e ir para a Europa acompanhando-a. Inclusive, ela disse que tem pessoas a me apresentar que eu irei gostar.

Mas, não consigo falar do meu pai, e muito menos da minha mãe. Esse é um assunto que quero deixar pra lá.

Raquel chega do treino e vai até mim, beijando meu rosto e colocando a mala de lado.

Não, não estamos morando juntas, mas ela vem com frequência até aqui e eu na sua casa. Seria um passo ousado demais para mim, sem contar que gosto das coisas do jeito que estão. Um passo de cada vez, mesmo que seja lento. Namorando? Não sei responder se sim, e só de pensar nisso minhas bochechas já queimam, como agora.

Ela vai tomar banho. Isabela mandou mensagem dizendo que vai comer fora e sim, sua situação continua aquele mistério. Raquel já vem com seu pijama de calças xadrez e camiseta gasta.

Dizem que você se torna íntima de alguém quando usa uma roupa dela com frequência, e bem, posso considerar que já me apossei da sua camiseta do Metallica assim como ela da minha preta lisa já acinzentada.

As incríveis desventuras de MorganaOnde histórias criam vida. Descubra agora