CENA V
Morgana está na sala de terapia, deitada no sofá azul escuro estampado. Balança as pernas no encosto, e olha para a parede. A psicóloga, de jaleco branco e bloco de anotação em mãos, a encara descontente, com os olhos focados nas ataduras que percorrem seus braços.
PSICÓLOGA
Precisamos conversar sobre algumas coisas, Morgana.
Morgana a olha de canto de olho e olha novamente para a parede, focando em uma mancha que se forma nela.
MORGANA
Mas não é o que fazemos toda semana aqui?
A psicóloga pigarreia, arrumando a postura antes de voltar a falar.
PSICÓLOGA
É sobre sua relação com Valentina.
MORGANA
O que tem?
(Seu tom já é mais sério e conciso).
PSICÓLOGA
Já não conversamos a respeito de como ela influencia sua vida?
Morgana revira os olhos, cruzando as pernas, virando a cabeça em direção a psicóloga, que a encara. Dá como resposta um dar de ombros. Já a terapeuta suspira e deixa o ar sair pela boca.
PSICÓLOGA
Como sua psicóloga, não posso ignorar o fato das coisas que ela anda coagindo você a fazer.
MORGANA
Valentina não me obriga a nada.
(A voz se torna mais grave).
A psicóloga olha para a anotação em seu caderno.
PSICÓLOGA
Você acabou de me dizer que ela cortou os seus pulsos como símbolo de sua lealdade, e você não tem histórico de automutilação.
MORGANA
Mas se eu deixei, foi porque eu quis!
(A voz se altera ainda mais).
Ela fecha os olhos, e balança a cabeça. Procura manter a compostura em seu gesto enquanto Morgana permanece com as sobrancelhas cerradas.
PSICÓLOGA
E os furtos de medicamentos da farmácia, também foram um gesto de lealdade?
Morgana se levanta assustada, apoiando as mãos sob o estofado.
MORGANA
Como souberam disso?
PSICÓLOGA
O que faz você achar que não dariam falta deles na farmácia?
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As incríveis desventuras de Morgana
RomanceDepois de passar os últimos sete anos em uma clínica psiquiátrica, Morgana tem alta e se vê tendo que aprender a viver fora dos muros, e o pior: ser adulta. Conforme vemos sua história ser contada por ela mesmo, adentramos nos seus medos, anseios...