Alexa, toca Dreams, do The Cranberries

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Seu quarto não é diferente do que imaginei. De cor branco gelo – os tons claros predominam nesse espaço – fica no segundo andar da casa, de frente para a rua, onde tem uma pequena sacada acessada por uma porta de vidro de correr. Pelo menos cinco raquetes amontoadas no canto do quarto, assim como outros acessórios, como bolas verdes-limão, tênis, esparadrapos coloridos. Na parede ao meu lado, duas prateleiras amontoadas de troféus, medalhas, títulos, anúncios de jornal colados e emoldurados. Um pouco mais ao lado, uma estante com diversos discos, CDs, DVDs, um aparelho de reproduzir música moderno, um toca-discos que apesar do estilo antigo, deve ser novo também.

Meus pés balançam, tocando somente com as pontas no tapete estampado abaixo deles. À minha frente, a porta do banheiro, onde ouço a porta do box do banheiro correr. Ela deve ter saído do banho. Eu fui antes, e depois do banho e uma escova nova cedida, agora me vejo usando as suas roupas emprestadas, e passando a mão devagar no edredom branco que fica em sua cama de casal.

Ela sai do banheiro já vestida com uma regata preta e calças xadrez, balançando o cabelo antes de colocar a toalha de lado.

— Não está mesmo com fome?

Respondo negando com a cabeça, e ela dá com os ombros.

— Se importa se eu desligar a luz? – Raquel aponta para o interruptor, volto a negar. Quando ela o faz, o lugar não fica escuro de fato. Só é tomado por uma penumbra, mas a luz de fora entra pelo quarto.

Ela se senta ao meu lado, e suspira, pegando o telefone e o colocando de lado.

— Você não quer se deitar? – diz ela encostando o corpo no colchão, apoiando a cabeça no braço que está tocando a cama.

— Não.

Raquel nada diz, e rola pela cama, deitando seu corpo na totalidade.

— Bom... – estou de costas para ela, mas ainda posso vê-la olhando para cima, suspirando - Morgana, acho que tem que saber que sua irmã conversou comigo e com sua amiga...

Ainda bem que ela não pode me ver, porque a minha cara com certeza denunciaria que estou receosa com o que ela tem a dizer.

— E acabou falando um pouco da vida de vocês.

Espero que Isolda não tenha bebido o juízo dela dessa vez.

— E eu me pergunto, como é que você... – sua voz é séria, e a olho de relance – consegue aguentar tanta merda calada.

— O que ela falou? – olho-a de relance e volto a olhar para o chão.

— Que a família de vocês é digna de um filme de terror, que a mãe de vocês a abandonaram quando mais precisou e... – Ela se senta na cama – Que ela tem problemas com álcool.

Abaixo a cabeça ainda mais, esfregando meus dedos um contra o outro. Não sei como ela tem coragem de falar essas coisas assim, sendo que ela mal as conhece... Eu não consigo.

— Olha, Morgana, eu sei que você não quer ouvir isso, mas... O que te fez achar que sumir seria a solução dos seus problemas? Você não pensou nas pessoas ao seu redor?

O que ela quer que eu diga?

— O que te faz achar que está certo simplesmente sumir de casa por três dias?

Não tenho o que dizer.

— Acha que ninguém se importa contigo? – sua voz é indignada – Não importa em como nos sentiríamos? E o seu trabalho? Você quer lidar com as coisas fugindo?

Meu peito dói, e meus lábios trêmulos. Sinto aquela onda salgada querer invadir meus olhos mais uma vez.

— É por isso que não me respondeu? É por isso que está me evitando?

As incríveis desventuras de MorganaOnde histórias criam vida. Descubra agora