O confronto

310 36 7
                                    

Depois de 40 minutos eu cheguei na fazenda. Desci do táxi apressada e logo o capataz se aproximou, ficou espantado e disse:




- Senhorita, achei que estivesse no hospital.



- Eu voltei e preciso da sua ajuda.



- Do que você precisa? - Ele levou as mãos para o bolso da calça.




- Preciso de uma arma de fogo. Você tem alguma? - O capataz arregalou os olhos.




- Mas pra que a senhorita quer isso? - Ele falou baixinho - Vai matar alguém?




- Caso for necessário, sim. - Fui subindo devagar as escadas da varanda.




- Olha, moça, eu não quero ser testemunha e cúmplice de homicídio. - Ele começou a fazer o sinal da cruz.



- Você estava aqui o tempo todo que eu estive fora. Me diz o que o Alef fez? - Parei de subir e olhei pra ele.



- Olha, eu não vi ele fazendo nada. Só trazendo homens o tempo todo pra sede e como a senhorita estava no hospital, eu não pude pedir o dinheiro para comprar os medicamentos dos cavalos. Sorte que o veterinário deixou tudo por conta até a senhorita voltar. - Eu agradeci o Theo na minha cabeça.




- Pois é, de agora em diante eu vou assumir a fazenda. Então eu preciso que me ajude a tirar esse infeliz daqui, você pode fazer isso? Prometo que eu vou cuidar dessa fazenda tão bem quanto o meu pai e com a sua ajuda eu vou poder fazer mais.




- Tudo bem - Ele sorriu brevemente - Eu tenho uma espingarda na camionete.



- Serve. Vou entrar e se ele fizer alguma coisa, você entra.





O capataz balançou a cabeça positivamente e saiu correndo atrás da arma. Eu respirei fundo e continuei subindo as escadas. Depois abri a porta da casa e novamente encontrei uma zona. A casa estava infestada com um odor de cigarro e bebida, misturada com um cheiro masculino muito forte. Isso me causou uma náusea momentânea e só piorou quando encontrei o Alef jogado no sofá da sala só de cueca. Ao seu redor estava algumas embalagens duvidosas, então eu peguei um copo que estava sobre a mesa e o joguei com força no chão. Com o barulho alto, Alef acordou:





- Mas que porra, Agatha!




- Está feliz em me ver? Porque eu não estou feliz em ver tudo o que estou enxergando na minha frente.




- Eu achei que você tinha morrido. - Alef se levantou e colocou um roupão sujo que estava próximo a ele.




- Era o que você queria, não é? Pra ficar com toda a grana só pra você. - Minha vontade era de voar no pescoço dele.



- Eu nem acordei direto e já tenho que ouvir baboseiras de uma garota que nem saiu das fraudas ainda - Ele se pôs na minha frente - Gostei do seu novo acessório. Usar gesso virou tendência de moda em Paris? - Ele saiu rindo.




- Eu sei que você mandou matar os meus pais, Alef - Ele parou de andar após ouvir isso - Seu amante Marcus me contou tudo. Você achou que ninguém ia descobrir?



- Marcus? Aquele que estão dizendo no jornal que matou muitas meninas e que no caso você foi sequestrada por ele? - Alef me olhou - Eu nem sei quem ele é, irmãzinha. Aliás, como você sobreviveu na mão de um assassino?




- Sínico! Eu sei de tudo, como vocês se conheceram na faculdade e como você articulou tudo! Você é tão assassino quanto ele! - Eu gritei.




- Você tem provas? Você está me julgando por causa de um relato de uma testemunha nada confiável - Alef olhou nos meus olhos - E ainda por cima, morta.




- Você sabia de tudo o que aconteceu, como eu fui parar no hospital e enquanto isso tu ficou fazendo festinhas. Sambando na memória dos meus pais! - Coloquei o dedo no peito dele - Eu vou provar que você é o mandante do crime.




- Que feio acusar as pessoas sem provas, Agatha. Você parece a mamãe quando subia no púlpito para dar aqueles discursos falsos e moralistas. - Ele debochou e eu dei um tapa na cara dele. Alef ficou com o olhos cheios de ódio e isso me deu arrepios. Porém, eu sustentei a pose.



- Lava a boca pra falar da minha mãe!



- A próxima vez que você encostar um dedo em mim, eu mesmo vou te matar! - Alef pegou no meu cabelo e puxou. Nesse momento o capataz entrou com a espingarda apontada pra ele.



- Ninguém vai bater em mulher na minha frente, a não ser que você queira virar um queijo suíço. - Na mesma hora ele soltou o meu cabelo.




- Sai da minha fazenda, Alef! Agora! - O empurrei.




- Ela não é sua fazenda.




- Eu vou provar o que você fez e depois tu vai parar na cadeia. Presidiários não podem cuidar de fazendas, irmãozinho - Olhei para o capataz - Acompanhe esse rapaz para fora da minha propriedade e se ele tentar alguma coisa, já sabe o que fazer.




- Eu vou recorrer, vou te tirar aqui! - Alef berrou.



- Chama o seu melhor advogado. Agora vai embora! Eu nunca mais quero te ver, a não ser quando você estiver naquele macacão laranja. - Cruzei os braços.



- Ouviu o que a senhorita disse. Bora pra fora, cabra! - O capataz escoltou o Alef para fora.




Da janela eu fiquei olhando o Alef andando só de roupão no meio da estrada. Não sei como ele ia chegar a cidade e muito menos onde ele ia ficar. Só sei que eu não queria ficar naquela zona, eu só subi no meu antigo quarto e peguei um talão de cheques que eu deixava escondido em um fundo falso do armário. Peguei e coloquei uma alta quantia, após o capataz retornar e me garantir que o Alef tinha saído da fazenda, pedi a ele que fosse na cidade comprar um celular pra mim. E que também aproveitasse para pagar o Theo pelos medicamentos dos cavalos. Após isso eu desci até a adega de vinhos da fazenda e tranquei a porta, ficando isolada do mundo por um tempo.

Era estranho como todo o ambiente me lembrava o Phil. Principalmente do tempo que passamos juntos ali, isso me fez pensar em como ele estava depois de tudo o que aconteceu. Meus pensamentos pareceram se encontrar com os deles e eu pude sentir um arrepio no corpo, como se ele estivesse pensando em mim ou talvez fosse coisa da minha cabeça. Eu queria que ele estivesse ali comigo, cantando e me fazendo rir, me beijando e me matando de desejo. Me distraindo do mundo e me dando um pouco de esperança. A saudade tomou conta de mim, mas eu não podia cair nessa. Deitei no sofá e apaguei as luzes, coloquei uma música no rádio e ela ecoou sobre o ambiente. Eu estava sozinha e no escuro, tentando me curar daquele sofrimento e tentando me reerguer. Estava sendo muito difícil, doía muito, mas eu estava decidida a sair daquela adega renovada.

Depois de duas horas eu me levantei e sai da adega. Passei o dia todo caminhando pela fazenda e falando com os outros trabalhadores da colônia, visitei o vinhedo, o estábulo e a pastagem. Estava quase tudo abandonado, sorte que os funcionários de lá são muito bons. Orientei eles sobre todas as coisas deveriam ser feitas e pedi a colaboração de todos. Logo após eu fui tomar um banho e decidi me tornar a senhora absoluta daquela fazenda, dar orgulho aos meus pais e honrar a memória deles.

(Continua)...

⭐ Deixe seu voto.

❤️ Deixe um comentário.

Duskwood - AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora