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Porra, na moral mesmo, minha vida é só toma no cu sem dó e nem piedade

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Porra, na moral mesmo, minha vida é só toma no cu sem dó e nem piedade. Eu nunca fui muito de ficar sério com alguém, sempre soube que essas paradas aí são só ladeiras abaixo (nível aquele penhasco da Luísa a tal da Sonza ), gostar de alguém com a vida que eu vivo e me colocar em risco e colocar a pessoa, afinal, podem usá-la para me atrair de alguma forma, mas eu fui burro e estúpido o suficiente para esquecer tudo isso.

Meus sentidos me avisavam, os caras até tentavam me alertar, mas eu só pensava em como a foda era boa, em como ficar fumando e ela nua ao meu lado me trazia paz, mas ela mesma levou essa paz pra casa do caralho, quando descobrir que ela estava passando informação para os meus inimigos.

Nunca sentir tanta raiva de mim como sentir no dia que fui pego pelos vermes e eles falaram que foi ela que passou a fita de onde eu estava para eles.

Toma no cu!

Mulher só fode com nossa cabeça.

Por isso que agora só vou comer essas putas e mete o pé, papo sério. Meu morro é muito mais importante para mim do que uma buceta.

— eai meu filho, como foi o tempo enjaulado? — Cabelinho entra na minha sala.

— tem medo de morre não, filho da puta? — ele se faz de ofendido.

— que boca suja amor, já te falei que puta é só na sua cama— ele afina a voz.

— EU SABIA, sabia que vocês tinham um caso — TZ entra na sala junto com Xamã.

— vai pra porra você também — digo.

— vai lavar suas roupas sujas depois, vem cá, a Paty vai ficar naquilo mesmo?— Xamã se senta em cima da mesa.

Que cara abusado.

— eu já falei, ela vai ficar, mas um erro, o mínimo que for, eu a mando para fora— digo — e faço uma ligação muito importante.

Vejo os olhos do índio pegar fogo, eu até entender o que ele sente, eu conheço essa tal de Patrícia bem antes dela me conhece, sei que Xamã já teve um rolo com ela na época da escola, mas que ela largou tudo para ficar com o vacilão do Matuê. Xamã só quer proteger ela e a neném, eu não tô nem aí, mas, assim como eu sei, ele tem que lembrar que ela aqui é um sinal de guerra, Matuê não é besta, ele sabe onde ela está, só está deixando ela viver esse conto de que está livre dele para voltar com tudo e fuder a vida dela.

Mas eu a abriguei aqui, é como gritar que quero briga, eu não tô nem aí para eles, porém quando descobri que ela tem uma bebê de um ano eu não poderia deixar ela por aí sem proteção, a menina não tem nada a ver com as merdas dos pais, ela só foi enfiada nesse meio sem nem saber.

— se ela for eu vou junto — ele diz.

— eu sei, é com isso que a neném conta — digo olhando no fundo de seus olhos.

Eu sei Xamã o quanto você queira que a menina fosse sua filha.

— viado tô com fome — cabelinho diz.

— eu também, bora rapa a quentinha da Maricleide — TZ já está de pé.

— BORA.

Quando chegamos no pequeno estabelecimento vejo uma senhora que por muito tempo me deu o que comer quando fui abandonado aqui no morro.

— oi tia — passo meus braços ao redor de seu corpo.

— meu filho, que saudades— ela beija meu rosto.

— também estava com saudade.

— eu também quero beijinho — Xamã diz fazendo biquinho com os lábios.

— um velho acabado desse querendo beijo, vai pra porra — digo recebendo um dedo de volta.

— vamos comer, sentem, já, já trago o de vocês— ela diz nos dando as costas.

— a gente come tanto aqui que ela já sabe o que a gente quer? — cabelinho pergunta.

— cara, você toma café aqui, almoça aqui, comer algo de tarde aqui e janta aqui, você quer mais o que?— o gibi humano fica sem resposta.

— só assim para o Cabelinho calar a boca— Tz ri.

— agora eu tô em inglês fi, little hair— ele se gaba.

— vai pedaço de bosta — a gente ri tanto dele que quase me engasgo.

— engoliram um palhaço foi?— uma voz feminina se aproxima de nós.

Uma morena do cabelo joãozinho vem junto com a Patrícia, que tava com a neném no colo.

— oi meu amor — a bebe simplesmente ignora o Tz e volta sua atenção para o resto da turma.

— oi gente, eu também vim comer ? — Patrícia mexe na mão da filha como se ela que estivesse falando.

— NENÉM— Cabelinho grita pegando a menina, mas acho que ela não quer ficar com ele e começa a chorar.

— sua cara feia a assustou.

— vai ser foder Ret.

A menina volta para o colo da mãe que se sentou ao meu lado, mas continuar chorando.

— calma filha — a menina só chora mais.

— me dá aqui — não espero sua resposta e pego a bebê — qual foi cria, vai chorar mesmo?

A menina me olha como se pudesse ver minha alma (ela sabe de todos os meus pecados) ela tem os olhos castanhos tão grandes que fica difícil não se hipnotizar, ela abre um sorriso com poucos dentes para mim o que me faz sorri de volta e ela parar de chorar.

— você tem jeito com crianças — Patrícia falar baixo perto do meu ouvido.

— parece que sim — olha para ela que sorri concordando com a cabeça.

A menina fica no meu coloco até minha comida chegar, um pouco mais a diante a neném dormiu e as meninas foram embora. Os trouxas foram fazer os seus deveres e eu fui fazer o que faço de melhor; comer puta.

No Morro Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora