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O barulho estar gravado em minha mente, quando fecho os olhos eu só escuto o som, só aquele som, aquele som que mudou a minha vida, após ele gritos fortes e de novo aquele som e depois gritos

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O barulho estar gravado em minha mente, quando fecho os olhos eu só escuto o som, só aquele som, aquele som que mudou a minha vida, após ele gritos fortes e de novo aquele som e depois gritos.

— PATY— escuto o Xamã gritar.

Então tudo fica em silêncio, vejo o vulto de Tz indo até aquela cena deplorável, o corpo de Matuê estava em cima do corpo de Cecília, Tz pega a mesma que chorar.

— Paty — Xamã me chama mais uma vez.

— acabou ?— continuo olhando para o além.

— ele não se mexeu ate agora — Cabelinho diz.

Ficamos em silêncio, até um resmungo baixo quebrar o silêncio.

— vazo ruim não quebra fácil — a voz debilitada de Matuê me faz voltar a realidade.

— nem o diabo te quer — digo.

— você vai comigo, Patrícia — ele dispara um tiro, mas Xamã que estava ao meu lado se põe na minha frente levando um tiro no braço.

Tz com Cecília em seu colo chuta a cabeça de Matuê, vou em direção a ele enquanto Teto ajuda Xamã, chegando bem perto dele, vendo seu rosto transborda em sangue, eu vejo todo meu pesadelo acabar, não consigo descrever a sensação de liberdade que toma meu peito, é inexplicável o sentimento de estar livre dele, livre do tormento que seu nome me causa, livre da sensação de que a qualquer momento tudo que eu tenho ia ser tirado de mim, a sensação de paz em meu coração.

Agora estou livre

Agora posso viver com minha filha que eu amo mais que tudo nesse mundo, que morreria e MATO por ela, agora vou viver com o homem que eu amo e que me ama de volta ao ponto de amar minha filha como se fosse a sua, a relação dos dois é de outro mundo.

Estou livre

Ele não vai mais me atormentar, ele não vai mais dominar meus pesadelos e pensamentos, ele não vai mais ser aquele que me faz fugir, me faz me sentir uma covarde, uma pessoa insegura, que me faz sentir uma péssima mãe.

Acho que nunca falei isso em voz alta, me sinto uma péssima mãe para a Cecília, eu transformei a vida dela em uma inferno mesmo antes dela nascer, poderia ter dado outra vida para ela, poderia ser uma mãe melhor, sei que tenho culpa nisso, assim como sei que se não fosse assim poderia ser de uma forma pior, a vida nos ensina de diversas formas e maneiras, talvez se não fosse o Matuê poderia ser outro, que poderia ter feito coisa pior.

Mas nada disso me faz não pensar o quanto penso que sou uma péssima mãe, como vou explicar isso no futuro para minha filha, como vou explicar que matei o seu pai, se descobrisse quem era seu pai ela poderia até me agradecer, mas ela não vai.

Porque eu matei ele

Ou quase isso

— dá um beijo no demônio por mim — saco a arma e atiro em sua cabeça.

Seu sangue respinga pelo meu rosto, sua morte foi um pouco fácil para quem era tão fodão como ele, mas se juntar todo o mal que ele já fez, creio que fui até boa com ele, a prepotência de Matheus sempre o levou a fazer merdas e andar como se fosse o dono do mundo, por isso que muitos já pisaram nele, por isso que de uma certa forma fugir de sua casa foi relativamente " fácil " , mas fugir da suas garras foi o mais difícil, no final das contas, talvez, ele só fosse o carcereiro da prisão que eu fiz para mim mesma, talvez eu sempre me culpei por ir contra a todos que só queiram meu bem, acho que esse só foi a forma que eu achei para me punir, acho que essa foi a forma de me castigar.

Porém agora olhando para ele, aqui sem vida perto dos meus pés senti que posso me perdoar, mesmo com minha indecisões e medos, eu agora me perdoou por ter escolhido ele, por ter escolhido essa vida.

— acabou — digo mais para mim do que para os outros.

— aqui — Tz me entrega a Cecília.

— acabou meu amor — aperto minha filha contra meu peito.

— vamos embora, esse lugar está me dando calafrios — Cabelinho diz — os velhotes levaram tiros, vão te histórias para contar por seus netos, isso se sobreviverem até lá.

— Cabelinho você quer fazer companhia ao cara ali ?— Tz pergunta.

— que isso meu irmão? Tô só tentando quebrar o gelo — o gibi humano levanta as mãos para cima.

Entramos em uma van, vou na parte de trás nos bancos do fundo com Cecília, ela está um pouco agitada e eu tô tentando acalmar ela e me acalmar.

A fixa ainda não caiu para mim.

Chegando no morro os meninos forma tudo para minha casa, acharam uma enfermeira do posto que ajudou os meninos a tirarem as balas dos brações e fez alguns curativos nos outros, ela examinou a Ceci pois com o peso de Matuê em cima dela poderia ter a machucado, mas ela não teve nada demais porque caiu em cima da cama.

Quando finalmente a Cecília dorme e todos já se foram sobrando só eu, o Felipe e uma Cecília que dorme tranquilamente eu pude respirar.

— oi — Filipe se aproxima de mim na cama.

— oi — abro um sorriso torto para ele.

— ainda não caiu a fixa né ? — balanço a cabeça negando — vem aqui meu amor.

Ele abre seus braços e naquele momento eu pude chorar, chorei igual uma criança, chorei por tudo que já passei, me entreguei a dor e a liberdade que toma meu peito.

— acabou linda — ele passa suas mãos várias vezes subindo e descendo pelas minhas costa, beija o todo da minha cabeça e repete que vai ficar tudo bem.

Agora está tudo bem

— eu te amo, nada nunca mais vai acontecer com você — suas palavras viram juramentos, suas palavras viram um compromisso, um compromisso que ele está fazendo não só comigo, mas com ele mesmo.

No Morro Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora