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3 meses depois

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3 meses depois

— eu não aguento mais — Mari fala pela sei lá quantas vezes.

— amiga nem eu, mas hoje tem baile e é nesse momento que a gente lucra— vou até ela — então, bora mulher se compreenda, seja mulher porra.

— ai amiga como você é carinhosa, fofa igual uma pedra— reviro os olhos e vou chegar qual é a próxima cliente.

— Carla — falo quando chego na recepção.

— finalmente, que demora — ela resmunga.

Dai-me paciência senhor

A garota senta na cadeira, ela é branquinha, cabelo liso, longo e castanho, bem padrãozinho. Ela não é daqui não.

— onde eu moro o atendimento é melhor.

— é, tá fazendo o que aqui então? — cruzo meus braços.

— além de gorda é barrigueira — ela se levanta.

— e você é sem educação e noção.

— você sabem quem eu sou fofa? Eu sou a mulher do dono — ela enfia a unha em meu braço direito.

— primeiro, tira essa mão de mim, segundo, você tem quantos anos ? E terceira, o DONO não tem mulher, no mínimo você é chaveirinho da vez — a menina fica vermelha de raiva.

Mas eu só tô falando a verdade.

— quando você aparecer de cabelo raspado você vai ver o que essa chaveirinho faz — ela me ameaça.

— ai Deus — eu comecei a ri que bateu até um calor.

Nessa altura a maioria das clientes e funcionários estão olhando, eles são só as provas de que eu não falei nada demais, só verdades. Essa menina acha que esses bandidos são os que elas leem em livros? Que eles vão se apaixonar por elas e larga esse mundo? Ata gata, eu posso dizer com toda certeza do mundo, isso só acontece nos livros, eu sei porque pensava assim e agora olha onde estou.

— ei, antes de sair acabando com tudo, só um conselho, sai disso enquanto tem tempo, talvez quando você for perceber, não tenha mais como sair — digo.

— você não saber de nada — ela me dá as costas batendo a porta com força.

Sim, eu sei sim.

— QUEBRA DESGRAÇA, FOI SUA MÃE QUE PAGOU — Mari grita.

Que ela consiga ser mais esperta que eu.

— então, próxima.

Terminei as clientes já era quase horário do baile, eu não estava muito no clima, " conversar " com aquela menina me fez lembrar quando eu tinha a idade dela, quando eu tinha o mundo inteiro e larguei tudo por achar que a vida era uma fanfic do Wattpad.

Dois anos atrás

A meninas estão superanimadas para fugir de casa para irmos em um baile de favela, eu sinceramente, nem queria ir, tenho medo desses lugares, papai falou que só tem traficante e gente armada até os dentes, que podem me matar só porque não foi com a minha cara.

Chega fico arrepiada

— gente eu não quero ir — falo.

— ai Paty, vamos, vai ser muito legal — Adriana diz terminando de colocar seu vestido preto, super justo e mais curto que tudo.

— mas meu pai...— tento argumentar.

— Paty, por favor, esquece o que seu pai falou, ele é policial, claramente vai querer colocar coisas na sua cabeça, mas vai ser superdivertido, vai ser incrível, uma experiência que você nunca vai esquecer— Karine fala com brilho no olhar.

Talvez eu deva parar de ser tão filhinha de papai assim, acho que vou começar a me ousar mais.

— tá bom, vocês me convenceram— elas dão pulinhos de alegria.

Coloco um vestido bem colocado e, sim, bem curto. Eu não sou acostumada com essas roupas, eu não acho confortável e, além disso, sei que ganhei uns quilinhos de uns tempos para cá e minha barriga fica marcada no vestido, mas hoje não é dia de ligar para isso.

— o Geizon vai? — pergunto.

— ele vai pegar a gente na entrada do morro — Karine mostra a mensagem dele.

Pegamos uma carona com um dos ficantes de Adriana e fomos para o morro, segundo Geizon, está tendo festa porque o dono do morro está recebendo convidados, que convidados são esses eu não sei, mas me meti por aqui também.

— já chegamos — Karina fala ao telefone.

Alguns minutos depois encontramos a entrada do morro, mas fomos barradas pelos caras que estão tão armados que parece que estavam na guerra.

— eu falei que eles eram super armados — digo com medo.

— para de chorar Patrícia, seu pai também tem arma em casa e você não faz nada — Adriana joga na cara.

— a gente tá com o Geizon — Karina diz para um dos homens.

— aqui não tem nenhum Geizon não pati — ele dá risada com o carinha do lado.

— estamos no lugar errado?— fudeu, mil vezes fudeu.

— claro que não, como é o apelido dele por aqui? — tento puxar na memória.

— aí é coisa de indígena lá — falo já nervosa.

— Xa, xe, eu não lembro — Dri morde a unha.

— Xamã — o moreno descendente de indígena desce a escadinha ao lado dos caras armados — libera aí, elas estão comigo.

— olha lá Xamã, o chefe tem convidados— um dos caras avisa.

— relaxa, não vão ter problema com o chefe — Geizon garante.

Eu e as meninas vamos para perto dele.

— por aqui é Xamã, nada de Geizon, então vocês se ligam viu — a gente concorda com a cabeça— esse é meu vulgo por aqui, não sou do tráfico e nem nada, mas Geizon Fernandes não é um nome muito atraente.

No meio dessa confusão só ele para me fazer ri.

Fomos subindo o morro até chegar em uma quadra lotada de gente e com vários barzinhos ao redor. Tinha gente se pegando, nem lembravam que estavam em público, outras só bebiam suas cervejas e outras dançavam, mas o que mais chamou minha atenção foi um lugar, tipo, área vip improvisada em um canto da quadra.

Sai mais fumada de lá do que no escapamento de um carro velho, mulheres estavam, em sua maioria, seminuas e com homens ao seu redor.

Senhor!

Depois de um tempo me sentindo um peixe fora d'água Geizon, Xamã, veio me entregar uma cerveja, apesar de odiar o gosto e preferir uma coca-cola geladinha, serviu para passar minha cede e me deixar mais solta.

Ao longo da festa bebi vários copos e shorts de sei lá o que, eu já estava bem alterada, eu sou fraca para bebida e quando percebi já estava dançando com pessoas que nunca vi na vida. Tentei procurar meus amigos, mas só vi Adriana aos beijos com um cara lá, tentei sair um pouco do meio das pessoas, porém estava impossível.

Depois de um tempo eu desistir de procurar alguém e voltei a dançar, até que sentir mãos em minha cintura, quando viro para trás dou de cara com um moreno de dreads.

— oi linda — ele diz em meu ouvido por causa da música.

— oi — falo também em seu ouvido.

— prazer, sou o Matuê.

No Morro Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora