VI - Noite

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  Lírio estava sentado na varanda da casa assistindo ao pôr do sol, aquilo era algo que fazia bastante, não só para apreciar a paisagem, mas também porquê isso o lembrava de sua família, sua vida na roça quando seu passa tempo favorito era fazer exatamente isso: assistir o pôr do sol junto ao seu cachorro de estimação, tufo.

  O homem estava totalmente alheio ao mundo ao seu redor, por isso se assustou levemente ao ouvir Dara saindo da casa aparentemente cansada. A garota não gostava nada do rumo que a missão estava tomando, Adágio estava morto e eles tinham que enganar a esposa e o filho do falecido agora. Lírio fechou a expressão novamente, se culpava por isso e mesmo que Adágio já estivesse morto por dentro, isso não o faria ficar melhor.

  Dara se sentou ao lado de Lírio e encostou a cabeça no ombro do homem.

— Eu tô de saco cheio desse lugar. — A acastanhada falou, começando brincar com os próprios dedos.

— Eu também. — Respondeu cabisbaixo — Desculpa por isso.

— Não foi culpa sua, não tinha o que fazer de qualquer maneira.

— Mesmo assim, eu fiz merda.

— E quem aqui não fez

— Aqui, até agora, ninguém fez nada errado além de mim.

— Não tô falando daqui Lírio, tô falando no geral, todo mundo aqui já fez merda, não é a primeira vez e nem vai ser a última.

— Talvez você esteja certa, mas pode não 'tá também.

— É por isso que eu tô cansada, não ter certeza de mais porra nenhuma tá me dando nos nervos.

— Você é esperta, mesmo que as coisas estejam confusas e ruins agora uma hora você vai conseguir superar.

— Talvez você esteja certo, talvez não. — Repetiu a frase do amigo.

  Lírio deu uma risada fraca, mas já era alguma coisa visto que à horas ele não dava nem mesmo um sorrisinho que não fosse forçado apenas para não preocupar Chico.

  Dara também o acompanhou com um sorriso pequeno, porém verdadeiro, sua ansiedade estava matando-a por dentro e podia jurar que sua cabeça iria explodir sem nem mesmo estar parasitada ou algo do gênero. No fim, ela apenas queria ter controle da situação novamente e ter certeza que não iria perder nenhum de seus amigos, por ser a médica da equipe já perdeu a conta de quantas vezes teve que tirar os amigos da beira da morte, mas agradecia por cada vez que tinha conseguido salvar eles, sentia que se perdesse qualquer um ali iria enlouquecer.

  Os dois ficaram ali até o sol ir embora de vez e o azul escuro tomar conta dos céus, com os pequenos pontinhos brilhantes entrando em cena para enfeitarem a escuridão infinita da noite, iluminando o vazio que os cercava. Eles não estavam bem, mas estavam juntos.

Interferência - SDOLOnde histórias criam vida. Descubra agora