(Eu tenho muitas brisas estranhas e grande parte delas envolvem ordem.)
E mais uma vez Xande discutia com seus pais e saía de casa puto, ele não tinha culpa que seu pai era um escroto que não ligava pra família e que sua mãe era burra o suficiente para achar que o problema era ele, ela realmente achava que aquele homem de merda ainda se importaria com ela se Xande não existisse? Puta que pariu.
Não morava mais com os pais mas sempre que podia ia visitar os dois para tentar resolver a relação de merda que tinham, mas pelo visto era impossível.
Caminhou puto por tanto tempo que nem percebeu que a noite já havia chego, quando olhou as estrelas por algum tempo decidiu não ir para casa, queria visitar um lugar que ia quando era mais novo e queria fugir de seus problemas.
Andou bastante até chegar num lugar no limite da cidade, na sua frente havia uma grade surrada e destruída, já conhecia um ponto quebrado daquela cerca idiota então passar por ela não foi um problema. Caminhou por entre árvores que tinham na subida da grande colina enquanto ouvia Ahlevo em seus fones.
Chegando no topo da colina tinha um local aberto, sem árvores ou arbustos, local este que permitia uma visão privilegiada da cidade e das estrelas, dali de cima tudo parecia tão pequeno, as pessoas, as casas e principalmente seus problemas.
Se deitou na grama enquanto encarava o céu noturno deslumbrante acima de si, viu uma estrela cadente passar e fechou os olhos, mentalmente fez um desejo bem simples e, em sua opinião, cafona."Quero alguém que quando eu olhar em seus olhos me faça sentir a mesma coisa que sinto quando observo as estrelas."
Quando abriu os olhos novamente tomou um susto ao ver que tinha uma pessoa o encarando bem de perto. Se levantou no impulso e acabou batendo a cabeça contra o nariz do garoto que estava o observando.
– Desculpa! Você tá bem?
– Tô sim..
– Ham, o que você tava fazendo?
– Olhando se você morreu.
– Eu pareço morto?
– Parece cansado, tá tudo bem?
– Não.. mas na real não importa, eu nem te conheço.
– Guilherme ou Guizo. – Estendeu a mão para Xande
– Alexandre ou Xande. – Apertou a mão do outro
– Agora não somos mais estranhos um pro outro, por que você tá triste?
– Eu não tô triste.
– Você disse que tava.
– Tenho quase certeza que não falei isso, agora por favor me deixa. – Falou soando um pouco grosseiro
– Desculpa.. – O outro se afastou um pouco dele, ficando apenas sentado bem quieto olhando para a cidade
Xande não queria ser ignorante, apenas tinha problemas para admitir que não estava bem. Ficou olhando o garoto ruivo pelo canto do olho enquanto pensava numa forma de iniciar algum assunto ou se desculpar. Enquanto pensava, Guizo fez menção de se levantar mas foi puxado para voltar a se sentar.
– Hm? – O garoto pareceu um pouco assustado
– Desculpa ter falado daquele jeito, eu só tava irritado, não com você, é só que.. sei lá, desculpa por isso também.
– Tudo bem. – Deu um sorriso gentil no fim da frase, Xande tinha quase certeza que seu coração errou uma batida nesse momento
– Doce..
– O que é doce?
– Sua voz.
– Minha voz tem gosto? – Guizo perguntou enquanto parecia tentar mastigar o nada
– Sinestesia.
– Aah sim, sinestesia, claro... O que é isso mesmo?
– Uma condição.. complicada de explicar.
– Som tem cor e vozes tem gosto, cores tem gosto e vozes tem cores e um monte de coisa que esqueci?
– Sim, achei que você não sabia o que era.
– Eu já ouvi falar, só não lembrava.
– Entendi.. – Respondeu agora analisando Guizo da cabeça aos pés
– Que cor minha voz tem?
– Vermelho.
– Maneiro, é minha cor preferida já que combina com quase tudo, preto, branco, amarelo.
– Combina com amarelo?
– Sim. Ei, você gosta de música?
– Sim.
– Qual sua banda favorita?
– Ham.. acho que.. não tenho.
– Como não?! Deve existir pelo menos uma banda que você escuta mais que as outras.
– Então acho que.. Ahlevo?
– ... Cara. – Começou a tirar o moletom e Xande nem sequer considerou parar o garoto – Olha só!
Para a decepção de Xande, Guizo estava usando uma camisa por baixo do moletom, uma camisa da banda Ahlevo. Ainda sim Xande abriu um sorriso e pegou seus fones e os colocou no ouvido de Guizo, apenas para mostrar que naquele exato momento estava tocando uma música da banda.
– Foda. – falaram ao mesmo tempo
Guizo vestiu seu moletom novamente e voltou a encarar o céu.
– O que você tá procurando?
– Sei lá, estrelas cadentes? Alienígenas? Qualquer coisa. – Guizo respondeu se deitando na grama
– Que pedido você faria pra uma estrela cadente?
– Não sei, o que você iria pedir?
– Hamm.. um pastel. – Nem ferrando que iria contar o que realmente desejou
– Então eu vou realizar o seu pedido. – Se levantou de uma vez, estendendo a mão para ajudar Xande a se levantar também
E bom, foi naquele momento que Xande sentiu seu coração descompassando todas as batidas de uma só vez. Finalmente conseguia ver o rosto de Guizo com mais clareza, agora a luz da lua iluminava totalmente os olhos negros e os cabelos tingidos do outro.
O vento gélido aumentava ainda mais o estado de completo choque de Xande, não pela temperatura e sim pelo movimento do cabelo relativamente curto de Guizo, era normal uma pessoa ser tão encantadora simplesmente existindo?
Aceitou a ajuda de Guizo para se levantar e, agora que estava de pé e com sua postura de camarão desfeita, pôde perceber que era um pouco mais alto que o falso ruivo.– Você é mesmo humano? – Perguntou segurando o rosto de Guizo com as duas mãos
– Talvez eu seja um ET. – Novamente abriu um puta de um sorriso mas dessa vez olhando nos olhos de Xande
Xande apenas travou, Guizo tirou as mãos dele de seu rosto começou a puxar ele para saírem logo dali e irem comer o tal pastel.