— Xande?— É meu nome.
— Não, seu nome é Alexandre, mas isso não é o ponto.
— Claro que não é um ponto, é uma palavra.
— Xande, seu porra! O que você colocou na comida do Guizo?
— Dara, eu não fiz comida hoje.
— Não mente pra mim Alexandre, o que você colocou na comida?
— Por que você não acredita em mim?
— O Guizo tá a mais de 2 horas no banheiro.
— Sério? — O loiro não conseguiu segurar o sorriso arteiro que tomou seu rosto.
— Isso é sério.
— Ele vai ficar bem, vamo' lá falar com ele.
— No banheiro...?
— Na cozinha é que não é.
— Você vai entrar no banheiro com o Guizo?
— Não, eu vou entrar sozinho, ele já 'tá lá dentro.
— Não é esse o ponto.
— É um banheiro, Dara, você tem que parar de achar que tudo é um ponto.
Dara puxou Xande pela camisa e o arrastou de volta para a sala.
— É um banheiro, privacidade acima de tudo, não vamos entrar lá e nem falar com ele.
— Dara! Preciso de você! — Chico gritou do segundo andar.
— Aguenta aí! Lírio!
— Eu? — Dara se virou assutada, não havia notado que o amigo estava ali no mesmo cômodo, ele parecia estar lendo um livro qualquer e isso contribuiu para a surpresa da mulher.
— Pode ficar de olho no Xande? Não deixa ele ir para o banheiro.
— Tudo bem... — Aceitou mesmo ficando confuso com o pedido.
Lírio fechou o livro e começou a encarar Xande que o encarou de volta. Dara se afastou lentamente assistindo os dois, não questionaria os métodos do outro, contanto que mantivesse o skatista longe do banheiro não se importava.
— Certo... — Sussurrou, se virando e indo para as escadas.
Lírio ouviu os passos da mulher se afastando e então abriu novamente seu livro, deixando de encarar Xande.
— Eu sei o que você fez. — Disse sem parar de olhar para o livro.
— Sabe?
— Sim.
— Eu não sabia que ele ia ficar tão mal assim.
— Acontece, skatista, fica tranquilo.
— Ele vai ficar bravo comigo?
— Você arrombou ele e não foi de uma maneira favorável, o que acha?
Apesar de sentir a consciência pesada, Xande não conseguia evitar a risada toda vez que pensava na situação com mais cuidado.
— 'Tá lendo o quê? — Se levantou do sofá, indo até Lírio.
— "Como construir uma relação." — Leu com um pouco de dificuldade.
— Funciona?
— Não testei ainda.
Xande sentou-se ao lado de Lírio e começou a também ler o livro, não viram os minutos passarem assim como não viram quando Guizo saiu do banheiro, foi até a cozinha, pegou uma frigideira e parou atrás deles.
O falso ruivo ia bater na cabeça de Xande com o objeto quando ele percebeu pela sombra e se abaixou, e Lírio, que estava concentrado no livro, não teve tempo de reação.
O som metálico foi ouvido até no segundo andar da casa, mas por estarem ouvindo as gravações de Morato, Chico e Dara não deram muita atenção.
— O que você 'tá fazendo? — Xande perguntou se afastando.
— Ainda não fiz direito. — Guizo novamente tentou acertar Xande com a frigideira, mas foi impedido por Lírio que segurou o braço do rapaz.
— Deixa que eu faço. — Disse usando a mão livre para puxar o cabo da marreta que estava encostada na mesa.
— Chico! — Guizo gritou imediatamente, ouvindo os passos apresados do baixinho logo em seguida.
— Lírio, que porra é essa? — Perguntou sem nem mesmo descer completamente as escadas.
— O Guizo quer bater na gente com aquilo. — Xande falou aprontando para a frigideira na mão do outro.
— É sério isso? Uma missão ferrada aqui pra gente e vocês estão brincando?
— Ele me bateu com a frigideira.
— Você sabe que eles são assim, larga ele e a marreta também.
— Desculpa... — Largou ambas as coisas, pegando seu livro do chão e voltando a ler em silêncio, mas desta vez distante de Xande e de Guizo.
Chico virou as costas e novamente voltou para sua sala de investigações.
— Viu o que você fez? — Xande sussurrou para Guizo.
— O que "eu fiz"?! Vai a merda Alexandre.
— Você fez o Chico brigar com o Lírio, o ponto é esse.
— Você nem sabe o que essa expressão quer dizer.
— Claro que sei.
— Então explica.
— Já falei que esse não é o ponto, você é muito insistente e insensível.
— Você colocou laxante na minha comida e eu que sou insensível?
— Guizo não é o momento.
— Claro que não, nunca é. — Jogou a frigideira na mesa e subiu as escadas
— ... — Olhou confuso para Lírio que procurava algo no sumário do livro.
— Aqui. — Lírio mostrou o capítulo que estava procurando, chamado "O que fazer quando não sou o culpado?" E logo abaixo "O que fazer quando sou o culpado involuntariamente".
— ...
Xande se sentou ao seu lado novamente, lendo atentamente o livro e considerando exigir a Morato que pagasse uma terapia de casal ou apenas uma terapia comum para o grupo todo.