Casa nova = vida nova

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Quando falamos sobre mudança de vida, imaginamos algo bom, algo superficial ou profundo, algo que remete a lembranças futuras, positivas e que incentivam empenho.
Quando o assunto é mudança, somos abraçados por teorias em empregos, escola, faculdade, talvez carro, até uma casa nova.
As vezes a mudança ocorre na vida amorosa, na vida social, quem sabe até na quantidade de seguidores no Twitter?

A última coisa que se passa na cabeça quando falamos de mudança, a última que vêm em mente, é um cenário de sangue, dor e desespero.
Nunca imaginamos chegar em casa e ver nossos pais ensanguentados, com seus órgãos espalhados pela casa e sangue por tudo quanto é lado.

Não pensamos que a casa cheiraria a fumaça e segundos antes de se dar conta, a cozinha da vizinha, misteriosamente poderia explodir, levando metade do seu lar junto com o cadáver de seus antigos responsáveis.

Queria poder ter uma mudança positiva, ao invés de travar pensamentos, passos, fala e respiração.
Ainda me lembro de ver a mão de meu pai lentamente tentando apontar para algo, sua mão se movia e seu olho direito se abriu lentamente quando ouviu minha voz.
Ele havia sorrido fraco e cansado, antes de mover um dedo e o cheiro de gás escapando alcançar meu nariz.

Eu estava parado, um inútil inalterado, como uma estátua, um cacto desnecessário no meio do caminho entre meu quintal e a porta escancarada e ensanguentada da minha própria casa.
Eu não tive tempo de recobrar a consciência e correr para os socorrer, foi quando a casa colada ao meu quarto nos fundos explodiu e levou consigo os corpos dos meus queridos pais.

Desde o momento da explosão, que fui jogado com a pressão do ar e pela massa quente na direção do muro, fraturando minhas costas e quebrando meu braço esquerdo, fiquei parado na mesma posição, embasbacado que havia perdido tudo o que eu mais amava em questões de minutos, talvez horas, provavelmente segundos.
Eu descobri nesse momento que nem sempre as mudanças eram boas, as vezes, ela era como um furacão, algo lindo de se pensar, mas que quando chegava perto demais, tirava tudo o que você têm, tudo que construiu com tanto desempenho e juntou por anos para conquistar.

Eu acho que a mudança é uma filha da puta.

Depois desse dia, fui levado primeiramente ao hospital, aonde fiquei duas semanas internado e sinceramente, não sei se as reservas dos meus pais no meu nome dariam conta de bancar tudo que o hospital fez por mim.
Descobri que meu braço estava de fato quebrado, também descobri que meu sistema de defesa parecia ser lento e minhas hemácias também, mesmo que eu não saiba como caralhos isso iria afetar minha cura, fora isso, me contaram que minha cura seria mais lenta que o necessário, levando até mesmo de quatro a seis meses para tirar a tala de vez e mais dois meses com exames semanais na fisioterapia para ter certeza que meus movimentos estarão de volta ao normal.

Eu ainda não tinha a ficha na caixinha, apenas quando estava na delegacia e me contaram que cinco horas antes de eu chegar em casa da faculdade, um tal Serial Killer novo na área começou a matar famílias inteiras na cidade de Seul, sem deixar rastros, pois explodia as casas das vítimas e atacavam casas pobres, meia hora antes de eu chegar em casa, ele havia matado minha família, dez minutos antes de eu chegar, ele matou a vizinha da casa de trás e deixou seu gás ligado, pois como eu morava na zona pobre, na periferia, a favela de Seul, as casas eram coladas uma a outra e a explosão não apenas acarretou minha casa a escombros, como também levou as casas dos lados.

O Serial Killer aparentemente é um homem, pelo que a única pessoa que o viu sair da casa disse, além de possuir um casaco verde neon.
Isso não é algo que me interessa, eu não estava entendendo ainda que havia perdido meus pais.

Uma cidade enorme e movimentada como Seul, em horário aonde todos estavam ocupados em determinadas ruas, a polícia não ia em comunidades, então com isso não havia formas de ter vigilância naquelas casas, ou melhor explicando, barracos.
A única testemunha era um viciado que estava fumando na frente da casa da esquina, viu o homem sair normalmente da casa da minha vizinha de trás e minutos depois a casa explodiu, então ligou para a polícia na hora e denunciou.
Eu não tinha como dar início a uma busca e procurar vingança, nem dinheiro para isso eu tinha...

Foi quando o delegado contou que eu ficaria nos cuidados de um suposto tio que minha mãe escondeu de mim, ou me escondeu dele, não entendi muito bem, pelo visto a família não gostava dele por alguma razão e agora eu estava indo para a guarda dele, pois era a única pessoa viva da minha família, eu tenho só 20 anos e preciso ter 21 para ser maior legalizado a morar sozinho.

Eu não possuía nada para levar comigo, apenas a mochila da faculdade que salvaram para mim, pois era o que eu estava segurando quando cheguei em casa.
Me levaram com o que eu tinha para o carro da polícia parado na frente da calçada e recebi a carona deles até passar da zona média, aonde se localiza a delegacia e quartel mais próximo da zona pobre, estávamos indo para a área nobre, o que me deixou confuso, me perguntando se meus tios eram do interior, que ficava após as casas chiques e sempre nem monitoradas.

Estranhei quando o carro parou de frente a uma casa, que para mim mais parecia uma mansão, com três andares, uma parede inteira de vidro no terceiro andar e nele dava para notar que era um Play Ground e céus... Eu cheguei até a notar gatos e pelo menos um cão correndo ali em cima.

Tentei ignorar a casa e busquei em volta qualquer outro indício de casa pobre escondida, porém só haviam casas ainda mais belas que essa, a cor branca era chamativa demais, me deixava enjoado de tão monótono que eram as cores dessas casas.

– Vejo que chegou bem... – a voz doce e agradável soou, me fazendo notar o homem absurdamente alto, alto até demais para meu gosto, com um sorriso bonito e ao mesmo tempo triste nos lábios inchados e vermelhos, os olhos negros eram belos, me encarando com pena e dor... eu não gosto que me olhem assim... eu nem havia entendido ainda tudo isso. – Pode entrar.

Ele me levou com a escolta da polícia até a a casa do lado, era de dois andares, mas em compensação ela era bem mais ampla em largura e extensão, estava nervoso que parecia mais caro do que a anterior.
A cor era em bege, branco e cinza, isso era irritante.

O homem alto de fios negros e longos e os dois policiais me levaram até dentro da casa, aonde um homem de cabelos castanhos claros e olhos verdes estava sentado sobre o sofá macio e branco, ele vestia um roupão azul escuro felpudo e céus... Parecia estar pelado por baixo.
Os óculos caíram sobre sua ponta do nariz arrebitado, enquanto me encarava curioso e investigativo.

– ... Eu achei que ele viria amanhã. Foi o combinado. O quarto dele está em reforma ainda e os móveis só chegam daqui a oito horas úteis. – disse o homem de aparência mesquinha, mas era muito lindo – Enfim, é ele?

– Sim, senhor Lee. Esse é Lee Yongbok, seu sobrinho. – o policial mais baixinho disse se curvando, estranho... policial se curva para cidadão? mesmo ele sendo classe alta ele se curva? – Vamos manter as investigações sobre o assassinato e o hospital já foi resolvido, irei voltar ao trabalho, senhor.

– Por enquanto está ótimo. Mantenha-me informado. – os dois policiais se retiraram, Hyunjin trancou a porta.

Quando ouvi o som do trinco soar, meu peito doeu, minha visão pareceu embaçar e o mais estranho... Eu não via meu pai e minha mãe ali, me esperando com sorrisos no rosto e braços abertos.

– Eu espero que eu não me arrependa depois. – ouvi o meu tio sussurrar enquanto eu mantinha meu olhar fixo no completo nada, apenas permitindo que as lágrimas caíssem, minha vista pareceu escurecer, não sei se eu desmaiei, pois só me lembro de acordar com o som irritante do despertador que vinha a oito quartos desnecessários de distância.

Dois em Um ( Lee Felix Centric)Onde histórias criam vida. Descubra agora