Perdas maiores

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Felix se questionava se seria capaz de aguentar aquele lugar, se o inferno cristão existisse mesmo, esse lugar deveria se localizar em escolas e faculdades, se questionava se sobreviveria mais um minuto naquele ambiente.
Não era pelo método agressivo e pesado de ensino, nem pelos professores, pois pelo contrário do que imaginava, os professores preferiam pensar que os alunos não existiam e aprende quem quer.
Han Jisung foi o único professor que ainda tentou chamar a atenção da turma que não calava a boca, mas o interesse não vinha de si e infelizmente sempre iria ter o povo que merecia uma bala perdida na cabeça no lugar de tantas pessoas que queriam aprender.

A aula em si não era o maior problema, mas sim todos os alunos, ou a maior parte. Eles sabiam incomodar alguém que tentava aprender.
Felix se enjoava de ouvir as vozes chatas, os murmuros, a zorra em sala de aula, ele só queria estudar... Seus olhos queriam transbordar, depois de anos afastado dos estudos, quando finalmente teve a oportunidade de voltar, pessoas ingratas tentavam e conseguiam tirar esse sentimento de si.

– Em quarenta minutos todos os alunos já devem estar em sala e quero o trabalho que passei já em andamento. – o professor disse, Jisung seria um dos professores mais rigorosos, mas sabia que existiam poucos que realmente queriam um futuro decente e é por esses poucos que Jisung ainda estava ali, lecionando a aula – Bom lanche.

Os alunos pareciam gados soltos do cativeiro após anos de espancamento, corriam pelos corredores, esfomeados e sem um pingo sequer de respeito e educação, se tivesse alunos cadeirantes, cegos ou portadores de quaisquer outras necessidades especiais, agora poderia estar machucado com tanta algazarra em saída.

Felix se manteve em seu lugar, engolindo seu choro quando sentiu alguém bater em seu corpo na tentativa de passar por cima da mesa e fugir da sala, o Lee apenas queria esperar todos saírem e tirar suas poucas dúvidas, era pedir muito?
Sabia que se ousasse questionar com tantos alunos em sala, seria até apedrejado, pois ninguém ali queria estudar.

– Não vai lanchar, rapaz? – Jisung questionou a Felix, que negou com a cabeça, havia esquecido de prover seu próprio lanche e não tinha dinheiro em mãos, nem iria pedir isso a família postiça – Então tudo bem...

Jisung estranhou, quando alguém não queria comer, ainda assim evitava se manter em sala de aula, porém tudo bem, as vezes existiam as poucas excessões, iria tentar respeitar e entender.

– P-professor... Pode me tirar uma dúvida? – o Lee questionou, baixo, tímido, mas ainda assim, recebendo um olhar surpreso e de fato, confuso do mais velho, que estava guardando seus materiais naquele instante – Desculpa... Depois eu...

– Rapaz, qual é o seu nome mesmo? – o professor perguntou, havia encontrado, finalmente, uma excessão naquele lugar desgraçado.

O lanche? Que se foda, ambos se sentaram, um ao lado do outro e Felix pôde tirar cada uma de suas dúvidas.
Não poderia reclamar que não teve a oportunidade de aprender, pois agora sim, ele havia entendido a matéria.
Os quarenta minutos em que muitos comiam, Felix conseguiu aprender e era isso o que lhe importava.

O Lee havia conseguido tanto aprender quanto adiantar o trabalho, o resumo do que era em si a matéria de Recursos Humanos estava pronto em folha e poderia enfim entregar.
O resto da aula após o término do recreio não foi tão difícil de passar, foi o dia inteiro a mesma matéria pois os outros dois professores faltaram.

Finalmente estava bem.
Se todo dia fosse assim, Felix realmente não iria reclamar.
Porém não é tudo como queremos e Felix sabia muito bem que não seria assim para sempre.

O sinal da saída havia tocado e os alunos sairam na mesma pressa -ou até maior- do horário do recreio, em bandos e gritos empolgados pelo horário da liberdade diária, mais uma vez, Felix esperou todos saírem para poder ir também.
O motorista que Minho falou, deveria chegar em trinta minutos ou uma hora, então esperaria já na saída, em passos lentos, caminhou primeiro até o banheiro, precisava lavar o rosto para espantar o sono.

Achar o banheiro também não foi tão complicado quanto imaginaria, era até bem óbvio pois havia uma placa indicando a direção dos banheiros e da diretoria, caso precisasse saberia por onde ir.

– Você é o garoto novo de mais cedo... – a voz soou séria e sem um pingo de interesse, assim como no momento que o viu nos corredores.

Felix olhou para o rapaz de fios loiros parado na porta do banheiro, se lembraria dele sem dificuldades, afinal, foi graças a eles que conseguiu achar sua sala a tempo.

– Eu tenho que te agradecer muito, obrigado por me ajudar mais cedo. – o Lee sorriu, porém o rapaz estalou a língua no céu da boca, sorrindo sarcástico para si.

– Não é assim que deveria agradecer o seu veterano... – o rapaz se aproximou lento, cada passo na direção do Lee, era um passo de Felix para trás, até suas costas se tocarem contra a parede, estava encurralado – Como se chama?

– F-Felix, me-m-meu nome é Felix... V-o-cê... está muito perto... – o Lee estava nervoso, não gostava quando alguém chegava perto demais, na realidade, não gostava nem um pouco.

O rapaz apenas riu mais, uma risada baixa e sarcástica, enquanto a mão direita apoiava o próprio corpo ao lado da cabeça do ruivo e a mão esquerda lentamente acariciava o queixo do mais baixo, recebendo um olhar ainda mais assustado.

O rapaz se aproximou até ambos os troncos se tocarem, sua mão descia pelo corpo bonito, até encostar sobre a bunda bonita do ruivo, ameaçando invadir a calça a qualquer momento.

– Amanhã você vai ser um bom calouro e vai me chupar bonitinho nos trocadores do clube de esportes... Tenho certeza que você vai ser um garoto bonzinho e vai chupar até sentir meu gozo todinho na sua língua. – o loiro não havia perguntado, ele afirmou, vendo o Lee engolir seco antes de negar com a cabeça, as lágrimas escorriam pelas suas bochechas sem a sua permissão, o rapaz misteriosamente não havia ficado estressado – Não precisa ser tímido, Felix... Eu irei cuidar muito bem de você... Irei te tornar um bom menino... Não quer ser o meu bom menino?

Felix engoliu seco, sentindo a mão esquerda do mais alto apertar firme na sua cintura, não tardando a afirmar rapidamente com a cabeça, aquilo doía para caralho.

O de fios loiros sorriu, levando a mão esquerda para o braço engessado do ruivo, dando dois leves tapinhas no gesso alheio, ouvindo um resmungo dolorido como resposta.

– Bom menino. – o mais alto disse com sarcasmo, orgulho e ao mesmo tempo, um pingo de carinho, acariciando o rosto do ruivo em sequência, se retirando tão rápido quanto havia aparecido.

Felix engoliu seco, sentindo suas lágrimas caírem tão fracas quanto antes, caminhando lentamente para fora daquele inferno, vendo o carro prateado já estacionado de frente ao portão, Christopher já havia chegado ali.

A viagem foi em puro silêncio, o motorista não quis perguntar o motivo que o ruivo chorava e sinceramente, não era de sua conta, da forma que Felix estava, era capaz de dar uma patada no Bang numa tentativa falha de descontar o que sentia na pessoa errada.
Da mesma forma que sabia que não poderia pôr a culpa em Minho e menos ainda em Hyunjin.
Ninguém ali tinha culpa.

– Chegou tarde!!! Como foi seu primeiro dia, querido? – o Hwang questionou assim que viu Felix entrar pela porta principal, pausando seu filme apenas para questionar, afinal, estava curioso, empolgado e ao mesmo tempo se sentia preocupado, porém acabou recebendo um olhar baixo e um sorriso fraco, falso e totalmente forçado para mostrar a simpatia que não existia no rapaz.

– ... Foi ótimo... – Felix respondeu, parecia mais um sussurro, vendo Minho sentado sobre o sofá com uma expressão confusa sobre seu estado – Eu... Irei para me-...  Irei para o quarto... Com licença...

Felix se retirou, se trancando no quarto e se jogando sobre a cama, seu corpo tremia, principalmente pelo impacto do braço engessado contra o colchão, mas que se foda, seu peito parecia doer mais do que o resto de seus órgãos.

Queria tanto chorar, porém por alguma razão, suas lágrimas não transbordaram, apenas o ar lhe faltava, suas mãos tremiam, seu ouvido parecia apitar, aquilo não era normal para si, estava nervoso. Em sua mente, lembrava daquela voz, em seu corpo, sentia aqueles toques.
Queria vomitar, queria faltar, queria desistir.

Por outro lado, Minho franziu as sobrancelhas, olhando imediatamente para o motorista de fios azuis parado no batente da porta de entrada.

– Ele falou o que aconteceu? – Minho questionou, vendo o Bang negar com a cabeça, tão confuso quanto o casal – Então não deve ser algo tão complicado de resolver... Deve ser a idade.

Dois em Um ( Lee Felix Centric)Onde histórias criam vida. Descubra agora