Ver Sammuel me fez prender a respiração de preocupação. Ele usava uma calça jeans, coturnos iguais ao do tal de Eshe – nominho estranho... – uma camiseta azul-marinho e um sobretudo jeans preto até os pés – sinceramente, parecia que ele estava de luto por alguém. O cabelo dele parecia mais comprido – não tanto, mas não estavam mais tão espetados quanto antes –, e as olheiras que eu vira semana passada estavam mais profundas. A pele parecia até mais pálida, doentia, nada daquele tom moreno lindo. Ele não estava nada bem. Isso até fez minha raiva arrefecer. Eu disse que não costumo ficar muito tempo irritada com alguém... Ainda mais se esse alguém aparece diante de mim com uma aparência tão... Doente.
Ele se aproximou dos corpos, olhando-os de um jeito quase doloroso. Fechou os olhos e colocou as mãos em bolsos diferentes. De um, tirou o livro que eu o vira lendo. E do outro, uma corrente de prata com um amuleto estranho. Parecia ser feito de madeira, mas não sei que forma tinha. Estava muito longe pra eu conseguir distinguir – ainda mais considerando que eu o via através de uma fresta minúscula.
Abriu o livro onde o marcador de cetim estava e colocou a corrente no pescoço. Pude vê-lo respirar fundo e começar a ler algo que estava no livro. O que eu ouvi parecia quase como um canto fúnebre. A língua era estranha. Muitos l’s, n’s, h’s com som de r’s, s’s e vogais. E o ritmo, era triste demais e me arrancou algumas lágrimas pela família morta. E então, os corpos, o sangue e o vidro no chão dissolveram-se como se fossem jogados em ácido. Não sobrou nada. E então, Sammuel parou.
Eu tremia, assustada. O que era aquilo? Será que estou sonhando ou tendo ilusões?! Caramba, será que pirei de vez e minha próxima parada é o hospício?!
Vi Sammuel fechar o livro e tirar a corrente, guardando-os em bolsos separados. E eu ainda não tinha conseguido identificar a forma do amuleto.
− E então, Sammuel? – o de nome estranho perguntou, se aproximando com as mãos no bolso do macacão. – Ele fugiu de novo. E foi por pouco dessa vez... – não sei por que, mas as feições deles eram parecidas, como se fossem parentes.
Eu preocupada aqui se eles são parentes e eles discutindo algo importante! Eu não presto...
− É... Algo o fez fugir antes de completar o que estava fazendo... – Completar? Então ainda tinha mais coisa? Tipo me matar?
− Onde será que a Mantícora dessa família de Fadas está? – perguntou o outro.
Duas coisas:
=> Mantícora? Aquele bicho vermelho com rabo que cospe espinhos no Age of Mithology?
=> Família de Fadas? Até onde eu sei fadas são pequenas... Bem, exceto a Fada Rainha dos Celtas, mas isso não vem ao caso...
− Não sei. Pode ter sido morta, levada embora... Ter fugido em busca de ajuda... Muita coisa é possível. – Sammuel ergueu os ombros, meio com descaso, meio com “Não tenho idéia”. O amigo dele balançou a cabeça afirmativamente uma vez.
Sammuel começou a andar de um lado pro outro, pensativo.
− Por que ele não botou fogo na casa, como fez das outras vezes? – ele murmurou, sério.
Flashes de notícias de incêndios inexplicáveis em diversos lugares do país, em casas de família onde ninguém ficava vivo se passaram em minha cabeça. Será que tinha relação com aquele... Aquela coisa que eu vi? Será que era isso que ele ia fazer?
− Algo o interrompeu. – o outro respondeu. Tive vontade de gritar “Eu o interrompi, quase morri, mas o impedi de botar fogo na casa, satisfeitos?”. Claro que eu não fiz isso. Queria ouvir mais. Além disso, ainda não estou tão louca.
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Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos I
FantasíaMinha vida era comum, na medida do possível em que se é comum sendo a garota mais estranha que você puder imaginar, e ainda assim você não chegará à mim. As coisas começaram a entornar quando Sammuel, um cara com pinta de Taylor Lautner, apareceu na...