20: Dia De Sorte

159 2 0
                                    

Sabe... Tiro o chapéu pra Thaíze. Ela conseguiu arrumar meus horários – tenho dormido melhor, mas o índio com olhos de ametista continua aparecendo nos meus sonhos – voltei a render no treinamento de magia e melhorei bastante com as adagas e também no corpo a corpo. Além disso, minha pele não tem mais mancha nenhuma e todo o mais – mas ainda sou meio tábua. Só meu cabelo continua igual. E minha voz tá mais afinada, ao menos pra cantar, embora para as Sereias continue a mesma voz de taquara rachada de sempre...

E minhas asas! Elas tinham parado de crescer, mas agora já passaram um pouquinho dos meus ombros! Até arrisco mexê-las de vez em quando... É bem diferente, mas é legal! Mal vejo a hora delas alcançarem o tamanho ideal para eu voar!

Despertador, só agora percebi, cresceu pra burro nos últimos meses! Ele batia na metade da minha coxa, mais ou menos, e agora já ta batendo no meu cotovelo! Nem dá mais pra ele dormir comigo, a cama é muito pequena... Uma pena, ele é ideal pra me esquentar nessas garoas de Primavera – Sampa, a terra da garoa...

Aliás, falando em esquentar, Rashne inventou de vir com umas indiretas meio diretas depois que eu comentei sobre Despertador não poder mais dormir comigo... – já disse, ele é bipolar.

Sério.

Ele levanta uma sobrancelha, dá um sorriso sacana e fala algo com duplo sentido! Outro dia ele falou algo sobre uma “Visita noturna não autorizada para verificar se eu estava dormindo com cobertores suficientes, e, caso não, iria me esquentar no lugar da Mantícora”. Não fosse esse “não autorizada” e a parte do “esquentar”, a lerda aqui nem estranharia. Mas ele falou. E pra mim essa frase é, digamos... Muito do clube do duplo sentido. Eu ia responder de pronto que “Seria legal, porque eu tenho a mania de chutar os cobertores pra fora da cama”, mas fiquei quieta quando meu cérebro captou segundas, terceiras e quartas intenções na frase, no tom de voz e na pose. Não que a idéia não me agradasse. Muito pelo contrário.

Ok, mudemos de assunto e deixemos a taradice de lado – embora já tenha me acostumado, já que vejo aquele ser todo dia, portanto todo dia eu penso em taradices.

Hoje eu tava chegando em casa depois de ir na Saraiva – resolvi gastar um tanto das minhas economias num novo lançamento chamado SacerdoteS, embora não se tenha previsão de quando a continuação sai, mas, dane-se – e aquele Vampirinho estranho que queria meus olhos na coleção dele tava me esperando no meio da rua, em frente à minha casa. Automaticamente, eu levei minha mão à altura da coxa. Thaíze me arranjara um tipo de bainha pras minhas adagas pra eu colocar debaixo da roupa e me ensinou como sacá-las nem ninguém perceber – isso só ela podia ensinar, Rashne não tocaria nada no caminho dos meus joelhos à minha cintura. Sentir o cabo de Fëna me tranquilizou.

Ele se aproximou calmamente, e quando ficou à alguns passos, olhei ao redor rapidamente para ver como as coisas estavam – embora eu soubesse que a Teia ia dar uma ajudinha – e então saquei a adaga num piscar de olhos. Encostei a ponta no pescoço do Vampiro, e ele ergueu as mãos num sinal de paz.

Mas eu não abaixei a adaga.

− Veio pegar as cinzas da minha mãe quando a casa estava vazia? – eu perguntei, com um tom ameaçador que não deixava dúvidas que eu usaria a adaga se necessário. A convivência com gente acostumada a ser fria está me deixando igualmente fria... Que droga.

Mas, de fato, exceto por Despertador – e ele não conta quando se fala de Vampiros – minha casa estava vazia. Vovó tinha ido visitar Tia Verônica, Devon e Alessa estavam numa cidade do interior praticando magia de teleporte, e papai, por insistência nossa, tirou uma folga na faculdade e viajou pra Irlanda, rever alguns familiares e amigos.

Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos IOnde histórias criam vida. Descubra agora